Criada acompanhando a mãe em obras desde criança, Marília Bender busca ressignificar o setor da arquitetura (Foto: Ricardo Franzen e Ricardo Perini)

SELF SUSTENTABILIDADE

Projeto ‘Caçamba do Bem’ dá um novo destino para o que seria jogado fora

O projeto Caçamba do Bem transforma descartes em peças icônicas para casa

30/04/2024

por Talita Souza

De itens prontos para irem para descarte à peças cheias de história. Assim como em outros setores, na arquitetura, a sustentabilidade e responsabilidade ambiental se tornam o verdadeiro significado de bom gosto.

Junto com o impacto ambiental, o desperdício recorrente na indústria da construção civil geram acréscimos de até 6% nos custos da construção e uma adição de até 20% no consumo de materiais. Os dados são do repertório Construction Disconnected, produzido pela empresa de software PlanGrid em parceria com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Alguns projetos, porém, contribuem para uma mudança de perspectiva, além de fortalecer o consumo consciente, acessível e circular. O Caçamba do Bem, por exemplo, dá um novo destino para o que seria jogado fora seja reaproveitado de uma maneira interessante para a decoração.

Marília Bender enxerga potencial para Caçamba do Bem em outros estados, além do Paraná (Foto: Ricardo Franzen e Ricardo Perini)

Mudança de paradigma

Oportunidades. Foi isso o que a designer de interiores e fundadora da Caçamba do Bem, Marília Bender, enxergou ao perceber o descarte proveniente da construção civil ao atuar junto com sua mãe e irmão no escritório da família. Na maioria das obras, as peças eram substituídas e o que sobrava não tinha destino certo.

“Entendi que o que sobrava, de certa forma, eram materiais muito específicos que exigiam um carinho a mais. Ao meu ver, faria sentido montar um projeto do que repassar as peças”, conta. Foi assim que ela idealizou o que funciona como um “ brechó da construção civil”.

Marília recebe doações e peças paradas em estoques de lojas, itens que passam por uma seleção e podem ser, inclusive, repaginados. Em outros casos, arquitetos e escritórios são convidados a criar novos designs a partir de sobras de materiais. Sua mãe, Karla Brender, já assinou uma luminária, criada com mármore descartado.

Com a curadoria de produtos feita, ela organiza bazares com portas, cubas, louças, metais, luminárias e móveis soltos disponibilizados ao público a preços acessíveis, com descontos que podem chegar a até 80%. Além da preocupação ambiental, o Caçamba do Bem também se posiciona socialmente. A cada peça vendida, outra é doada para instituições sociais de Curitiba.

A arquiteta Karla Bender transformou um descarte de mármore em uma luminária (Foto: Ricardo Franzen e Ricardo Perini)

Desafios

Em um mercado no qual o tema da sustentabilidade ainda tem muito a avançar, é preciso que os consumidores e os arquitetos passem a priorizar as peças e materiais que já existem. Procurar itens em bazares como o Caçamba do Bem e realizar os projetos a partir deles garante economia, além da redução do impacto ambiental, como defende sua idealizadora.

“Meu maior desafio é fazer com que as pessoas lembrem de doar. Muitas vezes, na hora da obra, elas só querem tirar o que está parado da frente e acabam descartando”, conta Marília sobre seus esforços para manter o projeto em crescimento. Com visão ampla do negócio e de olho nas tendências, a designer pretende fortalecer o projeto em Curitiba e, depois, levá-lo para outros estados.