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Sexo e menstruação: os tabus que a misoginia construiu

Como a construção social do sexo e da menstruação afetou a perspectiva das mulheres sobre si mesmas

As mulheres aprendem o que é tabu muito antes de entenderem o que essa palavra representa de fato; isso porque, na realidade, todas elas estão sujeitas a serem julgadas uma hora ou outra. E caso você não saiba, tabu é um termo polinésio para “o que é proibido” ou seja, em outras palavras, são todos aqueles assuntos que a gente evita falar para não causar constrangimento ou não ser zoado durante aquela reunião de amigos.

Em muitas situações, o tabu priva a mulher de compreender as coisas cotidianas e se autoconhecer, fazendo com que ela cresça sem informação. Se menstruar aos 13 anos já era precoce, imagina saber que a média atual é a menstruação antes dos 10 anos de idade. E agora se questione: quantas crianças sabem sobre menstruação nessa idade? Pois é, quase nenhuma. A falta de conhecimento gera experiências bastante desagradáveis e até mesmo assustadoras. Uma pesquisa organizada pela “Plan International UK” com mil garotas, apontou que 40% delas sentiram vergonha ao menstruar pela primeira vez. E isso é mais comum do que pensa; no primeiro contato com o ciclo menstrual, as meninas escondem roupas sujas de sangue dos pais, tentam limpar-se com panos e toalhas úmidos, questionam-se se não estão tendo uma hemorragia, choram e também se desesperam – e tudo isso não aconteceria se fosse um assunto abordado, né?

E se engana quem acha que o tabu acontece somente entre crianças. Em 2019, a drag queen Manila Luzon foi proibida de usar um vestido inspirado em um absorvente durante o programa “Rupaul’s Drag Race” por ser inapropriado. “Muitos dos meus fãs são mulheres jovens que podem se sentir pressionadas e envergonhadas pela sociedade por causa de suas menstruações”, declarou em suas redes sociais. E de fato, qual seria o problema de uma representação dessas dentro de um programa de alta audiência? A resposta é óbvia: a misoginia.

A construção da mulher diante da sociedade sempre foi muito embasada em uma perspectiva patriarcal. Ou seja, a supremacia masculina e a submissão feminina, o que as privava de compreender o mundo e até a si mesmas em sua própria totalidade. Excluídas, isoladas e escondidas, as mulheres entendiam que a menstruação era o seu maior defeito e, além disso, não conseguiam entender por que eram “punidas” dessa forma e a única resposta que sempre lhes davam para isso é: homens não têm isso, só mulheres. A partir disso, foram sendo criados mitos e crenças em que certificavam que a menstruação era um castigo por ser mulher – e as pessoas mais conservadoras têm essa visão até hoje.

A visão patriarcal não só afetou na menstruação como também impulsionou a visão machista e errada que o sexo possui dentro da sociedade. Em 2018, uma pesquisa feita pera Prazerela definiu que, dentre 1370 mulheres, apenas 36% afirma ter tido orgasmos durante as relações sexuais – e isso acontece porque o mundo não proporciona à mulher uma perspectiva realista sobre o sexo; apenas apresenta a referência a partir do homem. Pense bem: quase todos os pontos de vista midiáticos representam o sexo como algo agressivo e as partes explícitas nunca demonstram de fato o prazer da mulher. Com isso, as mulheres crescem achando que o sexo é só penetração e mal sabem como devem se sentir durante as relações sexuais. E o problema não para por aí: em uma pesquisa feita pela USP (Universidade de São Paulo), de 3000 mulheres, 40% afirmou não se masturbar porque acha errado obter prazer sozinha. Imagine o pensamento de precisar de outra pessoa para ditar o seu prazer – é isso o que essas mulheres sentem.   

Mas na realidade, é difícil normalizar a sexualidade feminina sem informação. Enquanto os homens têm acesso ao que quiserem relacionado ao sexo, as mulheres mal podem contar com plataformas de busca, por exemplo. Na barra de procura, o assunto “masturbação” e “sexo feminino” estão muitas vezes associados a pornografia, pouco institucionais e bastante manipulados.

Obviamente a construção social do sexo é algo que percorre muitas décadas e dogmas e tradições e perspectivas, mas tudo isso tem algo em comum: a mulher é sempre julgada. É julgada se é virgem, se transa com vários, se não transa com ninguém, se faz ou não faz sexo casual, por tudo. Colocou sexo e mulher na mesma frase, pode ter certeza que existirá um palpite da sociedade. Mas todo esse julgamento tem um motivo: falta de conhecimento. O tabu da menstruação e do sexo fazem com que a mulher tenha acesso a informações restritas ao grupo de amigos e família ou até mesmo a partir da representatividade em filmes e séries, que também não são tão confiáveis assim. Por exemplo, imagine se a única representatividade que a mulher tiver de menstruação for o filme “Carrie, a Estranha”, em que ela se desespera completamente ao ter o seu primeiro fluxo, que inclusive marca o momento principal de seus poderes. Não dá, né?

Hoje em dia o mercado entende a preocupação da mulher com sexo e menstruação. A Inciclo é a pioneira em coletores menstruais no Brasil e atualmente produz discos menstruais, que permitem sexo durante “aqueles dias” sem bagunça e sujeira e, também, pró calcinhas que contenham o fluxo. É muito importante ficar atento a isso porque, querendo ou não, o ciclo menstrual é um evento – muitas vezes – desconfortável e caro. As alternativas existentes aos absorventes são muito mais agradáveis, saudáveis e higiênicas. Além disso, produzem menos lixo e têm um ótimo custo-benefício. 

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