Saúde mental e felicidade
Se voltássemos 100 anos e perguntássemos a uma família o que ela desejava para o futuro de seus filhos, provavelmente, ouviríamos que desejaria que eles continuassem com o legado da família, já que, no século passado, era muito comum famílias superespecializadas e tradicionais em alguns ramos de negócio. No entanto, hoje, o aspecto central sobre o desejo dos pais para os filhos está na vontade de que seus descendentes sejam, acima de tudo, felizes. Porém, ser feliz não é tão simples assim – principalmente para as novas gerações do século XXI.
Atualmente, a Finlândia é considerada a nação mais feliz do mundo, enquanto o Brasil está no 38o lugar, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas). Todavia, segundo pesquisas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a Finlândia tem apresentado uma taxa de 18% da sua população com algum problema de saúde mental, principalmente em relação à depressão, que é a maior taxa da União Europeia. E isso nos leva a uma indagação: como podemos ser felizes e, ao mesmo tempo, apresentarmos um problema de saúde mental? E qual é o papel da educação nesse contexto?
O século XXI surge como um novo despertar para questões fundamentais da vida humana. A preocupação com a saúde e o desenvolvimento humano está presente em alguns tratados realizados nos últimos 20 anos pelas organizações mundiais. E a pauta central no desenvolvimento educacional está em desenvolver uma geração preparada socioemocionalmente. Isso porque, no século XXI, tivemos grandes gênios sem empatia, o que gerou um custo muito alto nos contextos de guerra e destruição da natureza.
Nesse sentido, a educação socioemocional é um importante pilar para o desenvolvimento humano, já que é por meio dela que desenvolvemos habilidades e atitudes responsáveis pelo sucesso e pela prosperidade de pessoas no individual e no coletivo. Isso se reflete em autoconsciência, autogerenciamento, consciência social, habilidades de relacionamento, tomada de decisão responsável, criatividade e desenvolvimento das múltiplas inteligências. A aprendizagem socioemocional é capaz de gerar propósito e felicidade.
De maneira prática, o desenvolvimento socioemocional acontece com situações reais da vida dos estudantes. Entretanto, não ocorrem apenas no ambiente escolar e, sim, de maneira sistêmica. Segundo o The Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning (CASEL), uma organização sem fins lucrativos formada por pesquisadores, psicólogos, médicos e outros profissionais ligados à educação, o desenvolvimento socioemocional permeia a comunidade social, passa pelos grupos familiares e culmina no ambiente escolar e nas interações interpessoais dos alunos.
Um bom exemplo de programas com educação socioemocional no Brasil acontece em Curitiba, no Colégio Amplação, que desenvolve em seu currículo as competências socioemocionais de seus alunos em todos os níveis de educação há mais de duas décadas. Esses programas, além de envolverem seus estudantes, também colocam as famílias como protagonistas nesse contexto educacional, em palestras realizadas mensalmente.
Em 2023, o Amplação lançará uma grande novidade para as famílias: uma formação voltada à inteligência emocional baseada na neurociência e na psicologia positiva. O objetivo é que o desenvolvimento socioemocional dos estudantes ocorra de maneira integral. Dessa forma, é indispensável também ensinar as famílias sobre como educar mentes e emoções. Falar sobre uma educação inovadora frente às mudanças do século XXI sem falar desse tema é uma conta que não fecha. É indispensável desenvolvermos as competências emocionais e sociais se desejamos uma sociedade não apenas desenvolvida como, também, feliz e saudável mentalmente.
Dessa forma, a conta “felicidade + saúde mental” será não apenas solucionada no contexto escolar como, também, somada à sua vida e multiplicada em suas relações interpessoais – principalmente as familiares e sociais.
*Matéria originalmente publicada na edição #272 da revista TOPVIEW.