SELF SAúDE

Pequenos, veganos e saudáveis

Por Yasmin Taketani

Em outubro de 2014, a jornalista Sarah Campbell escreveu no britânico The Guardian sobre sua experiência criando um filho vegano: apesar de a manutenção da dieta ter sido relativamente simples, contou a jornalista, lidar com o preconceito de outros pais e conhecidos não foi tão fácil.

Nutricionistas, no entanto, atestam: não há mal em adotar a dieta vegana – que não utiliza ingredientes de origem animal, inclusive ovos e leite — infantil. É fundamental, porém, informar-se sobre o assunto e ter cuidados com a alimentação, que, como em qualquer outra, pode ou não ser saudável.

Segundo a nutricionista Isabel Andrade, o ideal é começar a dieta vegana infantil de forma preventiva, buscando uma alimentação equilibrada já no período da gravidez, de amamentação e a partir dos seis meses de idade, quando se introduz alimentos na dieta da criança. “Na alimentação vegana há muita interferência dos chamados ‘antinutrientes’”, a nutricionista explica, chamando atenção para os cuidados quantitativos e qualitativos do cardápio. É o caso do excesso de fibras, que pode prejudicar a digestão e a absorção de outros nutrientes. Cada pessoa, no entanto, é um caso específico, e a nutricionista afirma ser importante avaliar cada caso individualmente.

Na prática

A produtora cinematográfica Vanina Giusti Galiano mantém para si própria e para sua filha, Hadra, de 1 ano e 10 meses, uma dieta ovolactovegetariana. Ela tem acompanhamento do médico da família, que possui seu histórico de alimentação, e sempre que observa sintomas como perda de cabelo, quebra de unha, dor na perna ou mesmo falta de memória – considerados os mais comuns em veganos –, realiza exame de sangue. Quando constatada a deficiência nutritiva, a produtora recorre a suplementos. Foi o caso do período de amamentação de Hadra, quando Vanina teve perda de ferro e experimentou alguns dos sintomas acima.

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Hadra faz acompanhamento médico e tem monitoria de seu histórico de alimentação.

Segundo a nutricionista Isabel Andrade, a principal deficiência nutricional dos veganos diz respeito à vitamina B12, que somente na forma de origem animal é absorvida pelo organismo humano, e pode causar anemia.

Apesar de ainda não levarem uma dieta 100% vegana, esse é o objetivo de mãe e filha, que já incluem no cotidiano cardápios sem ingredientes de origem animal, como bolo de chocolate sem ovo, tortinha de proteína e quibe de batata. Mas Vanina lembra que os produtos à base de soja, grãos ou com suplementos nem sempre são facilmente encontrados em Curitiba, e a opção de leite de amêndoas, por exemplo, sai bem mais cara do que o leite tradicional. “Falta praticidade no cotidiano e economia”, pondera.

Já a família de Ricardo Laurino adota uma dieta vegana há 11 anos – inclusive o casal de filhos: Vinícius, de 9 anos; e Josiane, de 16. O coordenador da Sociedade Vegetariana Brasileira em Curitiba conta que professores dos filhos e mesmo pediatras já criticaram a opção alimentar. “A pediatra achava que o Vinícius, quando ele tinha acabado de nascer, teria algum tipo de problema”, lembra. “Há dez dias o discurso dela mudou completamente. O Vinícius fica pouco doente, joga futebol e leva uma vida superativa.”

Aos dois anos de idade, o menino já abria a geladeira em busca de um lanche de rúcula, mas ao longo dos anos teve algumas “escapadas”.

Radical com a posição alimentar, Laurino acredita que não matar animais para comer é a mesma opção de não querer roubar um carro: “não é algo legal, não faz bem para o outro envolvido. Foi isso que falei para o Vinícius”, compara Laurino.

Quanto ao acesso e economia, ele observa a disseminação de lojas especializadas e que os gastos a mais são contrastados com a economia em itens como carne bovina.

A família, que já tem prática e informação sobre o assunto, não possui acompanhamento específico de nutricionistas, mas recomenda: “Não existe um modelo exato, como uma receita médica. Vemos muita gente que se alimenta com carne, leite e ovos e tem deficiência”, diz Laurino.

 

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