O Futuro é a biologia molecular
A pesquisa em genética e biologia molecular desempenha um papel fundamental no avanço da ciência e da medicina. Ela permite compreender a hereditariedade e os mecanismos moleculares que governam toda a nossa vida. Esses estudos são cruciais para o diagnóstico e o tratamento de doenças genéticas, bem como para o desenvolvimento de terapias personalizadas. Hoje, já faz parte da realidade médica painéis genéticos farmacológicos e hereditários para doenças oncológicas, cardiovasculares, neurodegenerativas e até mesmo o sequenciamento completo do exoma.
Nesta edição, eu convidei a geneticista e bióloga molecular Graziele Moraes Losso para contar um pouco sobre a sua trajetória nesse campo tão importante e o que podemos esperar com os avanços na área.
Atualmente, você é geneticista e bióloga molecular. Como você iniciou a sua carreira na área?
Meu interesse pela área começou ainda criança, quando a mãe de uma amiga descobriu um câncer de reto e, juntas, tentamos encontrar uma fórmula mágica para curá-la. Naquele momento, eu tive certeza de que eu queria cursar Medicina, com o objetivo de achar a cura do câncer, mesmo sem ter ideia do que realmente era essa doença. Cursei Biotecnologia/Ciências Biológicas e, durante esse tempo, tive um ótimo mentor, o geneticista curitibano Dr. Rui Fernando Pilotto, que abriu as portas do seu laboratório e me mostrou o mundo fascinante da genética. Após concluir o curso, iniciei no mestrado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para estudar patologia molecular do câncer colorretal. Nessa época, a genética e a oncologia estavam começando a dar os seus passos. Em seguida, dediquei-me ao doutorado, além de algumas especializações e títulos de que precisava para a profissão. Em 2012, montamos o primeiro laboratório focado em medicina personalizada para oncologia e, nesse meio-tempo, a vida me trouxe mais aprendizados com a minha mãe sendo diagnosticada com câncer colorretal. Assim, vi que precisava fazer mais e mudar o percurso. Em 2022, surgiu um projeto maior: levar acessibilidade dos testes genéticos, preventivos e preditivos a todo o Brasil, com a DB Diagnóstico. Nesse caminho, encontrei a Luciana e o Hallison Almeida, que me inspiraram para alcançar meu objetivo.
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Como a tecnologia avançou nos últimos anos e afetou o campo da genética e biologia molecular? Quais são as inovações mais promissoras que você vê?
A inovação em tecnologia na genômica contribuiu para avanços significativos em resultados mais precisos, soluções em diagnósticos complexos, eficiência dos diagnósticos, tratamentos e terapias personalizadas. Alguns exemplos de inovações promissoras incluem o sequenciamento de nova geração, que sequencia o DNA deum organismo com rapidez e precisão; o tratamento direcionado, que analisa a genética do tumor para identificar as terapias mais assertivas; a terapia gênica, que tem potencial de curar algumas doenças genéticas e tratar o câncer; e a edição genética, que permite aos cientistas alterarem o DNA de um organismo.
Quais são as áreas de pesquisa em genética e biologia molecular que mais a empolgam atualmente e por quê?
Com certeza a medicina personaliza- da, porque ela permite a realização do sequenciamento do genoma do paciente para descobrir qual a possibilidade que ele tem de desenvolver doenças. Assim, individualizamos cada indivíduo, pois ele é único geneticamente. Com as análises genéticas, é possível ter uma resposta previamente sobre como o organismo metaboliza cada medicamento, bem como os efeitos colaterais que ele pode desenvolver, permitindo que o médico escolha o protocolo mais eficiente logo no início do tratamento. A medicina personalizada é uma possibilidade real que traz um novo horizonte para diversas especialidades médicas, podendo ser aplicada na medicina preventiva e tratativa.
Como você enxerga o futuro da medicina personalizada com base na genética e como isso pode influenciar o tratamento de doenças?
Vejo as pessoas entrando na farmácia e comprando um medicamento baseado no seu perfil metabolizador e vejo a medicina personalizada revolucionando ainda mais o tratamento das doenças, com medicamentos adaptados às necessidades individuais do paciente. Isso pode incluir a dosagem, a frequência e a duração do tratamento e até prever doenças antes mesmo que elas ocorram, incluindo a identificação dos fatores de risco genéticos e ambientais. O entendimento da epigenética vai revolucionar ainda mais o campo da medicina personalizada e nosso papel como comportamento no nosso material genético.
*Matéria originalmente publicada na edição #282 + #283 da revista TOPVIEW.