SELF SAúDE

Artigo: os mitos e verdades sobre os medicamentos manipulados

Marco Fiaschetti, farmacêutico e diretor executivo da Anfarmag (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais), desvenda tudo o que a gente sempre quis saber

“Medicamento manipulado é igual ao da drogaria?”; “É mais natural?”; “É mais barato?”; “Faz o mesmo efeito?” Bastam alguns minutos no balcão de uma farmácia de manipulação para ouvirmos essas e tantas outras perguntas. Para entendermos melhor, precisamos fazer uma breve viagem pelo tempo.
Os medicamentos fazem parte da vida do homem desde os primórdios da humanidade, mesmo nas suas formas mais rudimentares. A evolução levou à descoberta de fármacos mais eficazes.

As figuras dos alquimistas, curandeiros e boticários tiveram sua importância histórica para o desenvolvimento da farmacologia moderna. Os emplastos, as poções, os chás e os unguentos, além de terem trazido alívio para muitas pessoas, serviram de base para os produtos avançados que utilizamos hoje. O aumento da população mundial, as epidemias e as grandes guerras fizeram surgir a necessidade da produção em massa de medicamentos. Foi assim que surgiram as primeiras indústrias farmacêuticas Mas, se no primeiro momento parecia que a ciência de preparar medicamentos personalizados estava cedendo lugar à produção em série, logo ficaria claro que as duas técnicas são necessárias e complementares entre si.

As transformações na saúde coincidiram com grandes avanços nas pesquisas e no desenvolvimento de fármacos mais refinados e eficientes. Esse equilíbrio começou a ficar evidente partir da década de 1980, quando as farmácias de manipulação voltaram a assumir um importante papel no abastecimento de medicamentos. Neste momento, tanto a população quanto a classe médica perceberam que as farmácias de manipulação funcionavam também como facilitadoras do acesso ao medicamento, inclusive para a população mais carente e para o fornecimento de produtos cuja industrialização era inviável.

As farmácias de manipulação evoluíram, absorveram novas tecnologias e se qualificaram junto com as mudanças na regulação sanitária. Essas empresas implantaram um sistema completo de gestão da qualidade para garantir a segurança dos produtos entregues à população. Tamanha foi a transformação que o Brasil passou a se destacar no cenário internacional. Hoje o país é referência mundial no preparo de medicamentos e produtos manipulados. Apesar de toda a evolução e do aumento da velocidade da informação, persistem ainda alguns mitos sobre as farmácias de manipulação.

A verdade é que os medicamentos manipulados devem obrigatoriamente possibilitar ao indivíduo os mesmos resultados que qualquer outro medicamento. E nem só de ingredientes naturais são feitos os produtos manipulados. A origem da matéria-prima é a mesma de qualquer outro laboratório e a tecnologia empregada na farmácia permite que sejam preparados todos os tipos de formulações: de hormônios a homeopáticos; de antibióticos a suplementos nutricionais; de corticoides a probióticos. Os produtos fitoterápicos (também conhecidos como “naturais”), portanto, são apenas mais uma das inúmeras especialidades que a farmácia brasileira prepara.

É importante lembrar que somente o médico ou outro profissional de saúde qualificado, como farmacêutico, dentista, nutricionista e veterinário, pode prescrever medicamentos e produtos manipulados. Como os manipulados são preparados especificamente para um indivíduo, torna-se obrigatória a apresentação da receita.

O preço do medicamento manipulado também não deve ser o fator decisivo para a compra. Mas pode significar economia devido à eliminação de sobras e do desperdício, já que o paciente paga apenas pela quantidade exata para o período do tratamento. O que determina o principal benefício do produto manipulado é a possibilidade de personalização da fórmula, que permite que cada pessoa adquira o produto na dose exata para a necessidade de seu organismo. Há também a opção de escolha da forma farmacêutica mais indicada caso a caso (como cápsulas de diferentes tamanhos, pastilhas, gomas, géis de uso interno ou externo, cremes, loções, xampus, xaropes, soluções e suspensões) e a vantagem de, sempre que necessário, preparar formulações livres de alergênicos ou substâncias que gerem intolerância em algumas pessoas, como lactose, glúten, corantes, aromatizantes e conservantes.

Outra dúvida comum é como escolher uma farmácia de confiança. A primeira informação importante é que as farmácias precisam de autorização da Anvisa para funcionar e recebem inspeções periódicas das vigilâncias sanitárias. Os documentos que comprovam esses procedimentos devem estar à vista do cliente e são o principal indicador de confiabilidade. Além disso, toda farmácia de manipulação é um estabelecimento de saúde e conta com pelo menos um farmacêutico à disposição da população. Esse é o profissional mais habilitado para tirar dúvidas sobre a forma correta de uso dos medicamentos e sobre os riscos de interação e efeitos colaterais.

Quem chega à recepção de uma farmácia de manipulação não imagina tudo que está por trás do balcão: processos, sistema de garantia da qualidade, tecnologia empregada, rastreabilidade desde a compra da matéria-prima até a entrega do produto final ao consumidor e supervisão do farmacêutico em todas as etapas. A farmácia muitas vezes é o estabelecimento de saúde mais próximo e acessível para a população. Conhecê-la é um direto do cidadão, que deve sempre conversar com o médico, dentista ou nutricionista sobre as vantagens de optar pelo produto manipulado caso a caso.

Deixe um comentário