A vida começa aos 40?
Certamente, a frase em destaque no título desta coluna foi proferida por um homem, pois não passou pelo climatério. Ou talvez tenha sido uma mulher que renasceu no sentido mais amplo do seu feminino. Posso afirmar pela minha experiência: entrar “nos quarenta” dá um certo medo. Não concorda?
Uma mistura de incertezas sobre o futuro, de medo do processo de envelhecimento, da sensação de que o tempo está passando e ainda temos tanto o que realizar e conquistar, das angústias da percepção das mudanças corporais… tudo isso misturado aos bons sentimentos de maturidade e experiência que vêm com o tempo.
Quando comecei a faculdade de Medicina, meu amor por fisiologia e bioquímica só não foi maior do que o amor e o entusiasmo que sentia ao estudar tudo o que se relacionava ao metabolismo – em especial ao metabolismo feminino. Durante a faculdade, inclusive, estudei para me formar em Ginecologia e Obstetrícia, mas a vida me levou para caminhos diferentes. Assim, quando me tornei nutróloga, vi que minha especialidade era tão rica e tão ampla que eu poderia novamente me voltar ao estudo da saúde feminina – e assim eu fiz. E já são quase 12 anos nessa especialidade, mantendo uma busca constante pela saúde feminina, por entender o que nos faz únicas.
Assim, o tema “climatério” sempre esteve no meu subconsciente e nas minhas escolhas. Mas por que isso é tão fascinante? Um organismo determinado por mudanças hormonais tão sutis e, ao mesmo, tão intensas – e toda essa ação hormonal mediada por nutrientes. A nutrologia assume seu papel nesse cenário: será que nutrientes específicos poderiam modular respostas metabólicas a fim de minimizar sintomas inerentes às diferentes fases da vida da mulher, em especial à fase de transição
da menopausa? A resposta é sim.
A transição para a menopausa começa muito antes do que imaginamos. Em geral, 30 anos após a primeira menstruação. E, muito diferente do que se acredita, não começa com os “calorões” nem com a parada da menstruação. A menopausa inicia-se com pequenas e frequentes alterações de comportamento, como maior irritabilidade, humor depressivo ou ansioso, alteração de sono e memória, mudança na disposição mental e física, mudança na pele e nos cabelos, que ficam mais finos, mudança na flora intestinal e no processo digestivo, que fica mais lento, podendo apresentar intolerâncias alimentares, mudança na composição corporal, com acúmulo de gordura e pior resposta ao exercício, enfim… são tantas as mudanças antes do “calorão”, mas que, muitas vezes, são ignoradas, inclusive por médicos. Porém, progressivamente, afetam a autoestima e a qualidade de vida da mulher.
As alterações antes da pausa da produção de estrogênio começam com mudanças no ciclo da progesterona, na ação da insulina e assim por diante. São 10 anos ou mais com inúmeras queixas sendo ignoradas ou taxadas muitas vezes como chatice mas que, na verdade, são o período de transição menopausal ou o climatério. E tratar essas alterações de forma adequada não apenas poderá reduzir sintomas como, também, fornecer qualidade de vida para uma mulher em plena flor da idade.
Assim, acredito que minha história com a medicina, em especial meu olhar de médica nutróloga para a saúde feminina, foi um grande chamado.
E não se iludam. Tenho plenos interesses pessoais em todo esse conhecimento, pois quero que meus 40 sejam minha melhor idade – e as próximas décadas também. Com a evolução do meu conhecimento e experiência, também evoluiu meu espaço. Hoje, a nutrologia feita de forma científica, humanizada e ampla, com um olhar feminino muito peculiar, e a associação com especialidades como ginecologia, dermatologia, nutrição e psicologia, formam um grupo de cuidados oferecidos nesta clínica que é minha casa e onde coloco todo meu coração.
A vida FLORESCE aos 40 desde que saibamos lidar com os espinhos. Vivenciar o climatério é inerente à vida feminina, mas passar por ele de forma leve será uma escolha – e um olhar nutrológico fará toda a diferença nos capítulos dessa história.
A maturidade traz espinhos, mas não nos obriga a sofrer com eles. Podemos suavizá-los a ponto de não perder o foco na beleza de sua plenitude: o momento de florescer o melhor da mulher que você tanto batalhou para ser. E usufruir da vida que tanto batalhou para ter.
*Matéria originalmente publicada na edição #273 da revista TOPVIEW.