Ressigni(ficar): uma forma de vencer o tempo!
Ressignificar é redefinir, transformar, transmutar. É dar outro sentido a algum acontecimento. E essa ressignificação pode ser ainda mais poderosa quando conseguimos olhar para uma situação conflituosa ou negativa que nos aprisionava e tomar uma postura diferente diante dela.
Imagine que você tenha uma pessoa muito difícil na sua família e que ela sempre tenha alguma palavra ácida para lhe dizer ou alguma atitude provocativa para fazer e que isso sempre o incomode muito. Agora imagine que você conseguiu perceber e SENTIR que o problema está dentro daquela pessoa. Não Ressigni(ficar): uma forma de vencer o tempo!
A beleza de viver está em poder ir além em você. Então, em vez de reagir – seja respondendo ou engolindo todo aquele veneno emocional –, imagine que você consiga desenvolver um distanciamento psicológico daquela toxicidade. Embora nem sempre seja uma conquista fácil, eu lhe afirmo que é possível e libertador.
Quanto mais formos conscientes da nossa força interior, menos manipuláveis nos tornamos. Pensando um pouco além da questão do novo significado, ressignificar também é transcender, fazer-se presente pela inspiração daquilo que somos para as outras pessoas.
A arte, a literatura, a moda, a filosofia, a psicologia, a arquitetura… todas são ressignificadas também, relidas além delas mesmas. Isso me faz lembrar de um trecho do livro Aprendendo a Viver, da escritora Clarice Lispector, em que ela fala justamente sobre isso. Nele, Clarice escreveu o seguinte:
“Eu queria que houvesse encarnação: que eu renascesse depois de morta e desse a minha alma viva para uma pessoa nova. Eu queria, no entanto, um aviso. Se é verdade que existe uma reencarnação, a vida que levo agora não é propriamente minha: uma alma me foi dada ao corpo. Eu quero renascer sempre. E na próxima encarnação vou ler meus livros como uma leitora comum e interessada, e não saberei que nesta encarnação fui eu que os escrevi.”
Ressignificar é reinventar, é ir além, é transcender. Clarice sabia disso. Nós, em maior ou menor grau, também desejamos isso. Ela conseguiu. Caminhou muito além da sua breve existência de 56 anos. O motivo? Como ela mesma disse, “não fiz concessões”. Lispector foi autêntica. Ousou ser ela mesma. Depositou o coração na vida e nas palavras que deixou como herança para além dela mesma. Ela me inspirou como escritora. Ressignificou-me. Gostaria de poder agradecê-la pessoalmente.
Acredito que seja justamente essa a beleza do ressignificar. Transformarmos vidas que conhecemos e desconhecemos. Ser luz que ilumina muito além da própria estrada. Que responsabilidade imensa é viver!
*Coluna originalmente publicada na edição #243 da revista TOPVIEW.