SELF

Memórias afetivas

Os momentos familiares à mesa estão cada vez mais raros, mas é importante tentar manter essa tradição

Meu avô dizia que a mesa é um lugar de respeito, conversas amenas, gratidão, educação e família. As refeições familiares, para ele, eram sagradas aliás, como ainda deveriam ser! 

Vemos que hoje, com a correria e as mudanças do nosso cotidiano, esse momento tão precioso foi um dos mais atingidos pela pressa. Com as escolas oferecendo ensino em tempo integral, distanciamento das residências e um trânsito que não facilita deslocamentos com rapidez, essa refeição em família ficou quase impossível. Aqueles momentos aproveitados para que cada um compartilhasse suas vivências diárias, as conversas educativas e até o ensino do comportamento à mesa foram sacrificados.

Os fundadores do Family Dinner Project, projeto desenvolvido pela Escola de Educação da Universidade Harvard, elencaram os benefícios das refeições em família. São eles: reforço dos vínculos afetivos, fortalecimento da identidade familiar (pertencimento), atualização das notícias, aconselhamento, oração e educação para boa alimentação. 

Na Grã-Bretanha, a agência de Estudos de Mercado Mintel publicou uma pesquisa curiosa. Nos últimos anos, a venda de mesas de jantar caiu 8% entre os britânicos, ao passo que a venda de móveis de escritório subiu cerca de 40%. Cerca de 25% não têm móvel próprio em que se possa fazer uso para jantar. 

Pôde-se concluir algumas questões a partir disso, como a diminuição da importância dos momentos familiares à mesa e a valorização de espaços profissionais e individuais nos lares. Essas mudanças refletem a involução da nossa sociedade.

Além dos benefícios já citados na pesquisa da Universidade de Harvard, ressalta-se ainda a educação do comportamento à mesa. Não chamaria de “etiqueta” e, sim, de comportamento civilizado. 

Como não estamos na Idade Média, certos comportamentos não são admissíveis hoje e é no cotidiano que educamos nossos filhos, assim como fomos educados.

As crianças que atualmente não têm esse hábito de fazer as refeições em família  terão menos chances de aprender como comportar-se nessa situação. Como tudo na vida, também existem algumas regrinhas e os pais não podem esquecer que elas serão exigidas mais tarde na vida de seus filhos. 

Sobretudo, o mais importante, é o que levamos para a vida, a memória afetiva dos nossos familiares em volta da mesa, das comidinhas da nossa casa, das conversas, conselhos e da educação que vivenciamos nesse lugar sagrado e familiar.

Lembro da minha mãe chamando: Venham! Está na mesa!

 

*Matéria originalmente publicada na edição #266 da revista TOPVIEW.

Deixe um comentário