SELF

KIDS 4.0: especialistas comentam diversos aspectos da infância

Quais são os desafios e os benefícios de educar e preparar as crianças da nova geração para o mundo atual e o futuro?

Setembro de 2022 a humanidade chegou ao mundo 4.0. Mas, afinal, o que isso quer dizer? Esse termo está fortemente associado à indústria 4.0, também conhecida como a “Quarta Revolução Industrial”, que engloba os sistemas de tecnologias avançadas – e a inteligência artificial é uma delas.

Mas o que as crianças têm haver com isso? Tudo. Partindo do princípio de que esse mundo, o 4.0, é o único que as novas crianças conhecem, é notável que essa relação irá influenciar na sua formação como ser humano.

Ao se deparar com os novos costumes delas, quantas vezes as pessoas já não repetiram a seguinte frase: “No meu tempo, as coisas eram diferentes, eram melhores”? Essa visão nostálgica do passado, segundo a educadora, diretora do Colégio Amplação e embaixadora da TOPVIEW, Gisele Mantovani Pinheiro, é inerente a cada um. “Porém, mesmo sendo saudosa, ela pode ser perigosa em alguns contextos. E, no educacional, é onde ela pode ser altamente prejudicial”, analisa.

Afinal, a neurociência comprova que a maneira como as crianças se desenvolvem no século XXI, é diferente da maneira que aconteceu nas gerações anteriores. Devido às mudanças sociais, tecnológicas e o avanço científico de maneira geral, a maneira como as crianças percebem, entendem e se relacionam com o mundo é totalmente diferente.

“A Geração Z – os nascidos entre 1995 e 2010 – possui uma relação comportamental e de desenvolvimento muito diferente da Geração Alpha – nascidos a partir de 2010 até o presente momento”, explica Pinheiro.

Por isso, por mais que haja um estranhamento e essa busca saudosista frequente, é importante avaliar os aspectos histórico-culturais para que não sejam cometidos anacronismos no desenvolvimento da atual geração.

“Os pais devem entender que, sim, algumas tradições são fundamentais, mas que é necessário estar atento às transformações para não privar os filhos de se relacionar de maneira saudável com o contexto, preparando-os para o futuro”, afirma Gisele.

Ela ainda aponta que, na educação 4.0, em que os estudantes já são nativos da tecnologia e da cibercultura, é fundamental manter o equilíbrio e conhecer os contextos da inovação. “A única certeza que temos é o agora. Não sabemos exatamente como será o futuro, mas sabemos que será conectado com o mundo digital. E, principalmente,
sabemos como as escolas devem estar: conectadas com as inovações, emoções e boas práticas pedagógicas”, finaliza a educadora.

FACILITADORES DO APRENDIZADO

Por: Guilherme Tonhozi de Oliveira, psicólogo educacional do Colégio Positivo – Jardim Ambiental e especialista em desenvolvimento infantil e adolescente.

(Foto: Shutterstock)

O desenvolvimento infantil é apoiado por muitas habilidades sociais, cognitivas e emocionais, que permitem às crianças avançarem em suas conquistas diárias. Atualmente, percebemos dificuldades nesses avanços, a ponto dos pequenos desenvolverem distúrbios emocionais e psicológicos significativos. Transtornos de ansiedade e de humor relacionados ao estresse são cada vez mais comuns nos consultórios e na vivência escolar.

Segundo dados da UNICEF, mais de um em cada sete meninos e meninas, com idades entre 10 e 19 anos, vivem com algum transtorno mental diagnosticado. A pesquisa demonstra também que uma mistura de experiências e fatores genéticos e ambientais, desde os primeiros dias de vida, incluindo parentalidade, escolaridade, relacionamentos, exposição à violência, discriminação, pobreza e emergências de saúde, molda e afeta a saúde mental das crianças ao longo da vida.

Observamos, na prática clínica, crianças com crises de ansiedade e irritabilidade por serem contrariadas e pais com
medo de impor limites e regras por terem que enfrentar tais comportamentos. Assim como os adultos, as crianças também têm temperamento variável. No entanto, necessitam aprender a identificar o que estão sentindo. Nós, como pais e profissionais, devemos estar atentos e sermos facilitado res desse aprendizado, questionando nossa rotina e conduta e, sempre que necessário, encaminhando a profissionais especialistas para que o desenvolvimento da infância possa ser conduzido da melhor maneira possível.

MEU FILHO É MAIS BURRO DO QUE EU?

Pai brincando com o filho criança
(Foto: Shutterstock)

Por: Marcos Meier, mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante.

Contei a um amigo que sempre faz piadas com tudo que a nova geração, pela primeira vez na história, não é mais inteligente do que a de seus pais. Imediatamente, ele me respondeu: “Então quer dizer que meu filho é mais burro do que eu?” E caímos na gargalhada. Claro que a história não é bem assim. Vou explicar.

O neurocientista Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, publicou o livro A Fábrica de Cretinos Digitais no qual apresenta o resultado de uma pesquisa muito interessante: desde sempre, as gerações mais novas ultrapassam o Quociente de Inteligência (QI) da geração anterior – e isso é a marca do desenvolvimento humano. Somos cada vez mais capazes de criar, inovar e evoluir como espécie. No entanto, algo aconteceu com a geração atual que emperrou esse desenvolvimento. E a explicação para isso é que nossos jovens estão ficando tempo demais em frente a telas de celulares, tablets ou TVs.

E por que isso acontece? A neurociência comprovou que um maior número de conexões cerebrais é a razão de um indivíduo ser mais inteligente. São as famosas “sinapses”. Portanto, para que haja evolução, é preciso aumentar esse número – e isso se faz basicamente por meio de três fatores. São eles: conquista de desafios, superação de dificuldades e resolução de problemas. Veja, é fácil perceber que, se alguém está constantemente resolvendo problemas, conquistando novos desafios e superando suas dificuldades em realizar tarefas, logo estará mais capaz de fazer isso com velocidade maior e com menos energia. Ou seja, estará mais inteligente. Claro que há outros fatores intervenientes, mas a título didático, essa explicação é suficiente para entendermos o que está ocorrendo com nossos jovens.

Quanto mais tempo eles estiverem em frente às telas, menos oportunidades terão de resolver problemas, de enfrentar novas situações desafiadoras ou de superar suas dificuldades em alguma área. Ou seja, tempo perdido! E as estatísticas são terríveis: há jovens que ficam em torno de cinco horas por dia em frente ao celular.

Portanto, quer ajudar seu filho? Coloque limites no uso do celular ou das telas. Ele ficará chateado – e até mesmo revoltado – mas, com certeza, no futuro, irá agradecer, pois a tendência é que ele seja muito mais bem-sucedido que seus colegas. Colocar limites é amar.

O SEGREDO É: DIVERSÃO

Por: Marcia Regina da Silva de Oliveira, fisioterapeuta, casada e mãe do Rodrigo Júnior e da modelo e influencer Valentina Walker

Crianças brincando em uma piscina de bolinhas
(Foto: Shutterstock)

Meu nome é Marcia e sou mamãe da Valentina Walker, modelo e influencer kids. Valentina iniciou a carreira de modelo aos sete anos e, logo na sequência, resolvemos montar uma mídia social (Instagram) para ela, com o intuito de mostrar um pouco mais do seu currículo, como espontaneidade, fotogenia, carisma, etc. para marcas e clientes.

E, para nossa surpresa, a mídia social dela foi tão bem aceita que acabou se tornando uma nova fonte de trabalho. Logo, começamos a receber vários convites para divulgar lojas, permutas e parcerias com algumas empresas renomadas.

Hoje, ela tem nove anos, estuda no período matutino, faz aulas de inglês, educação financeira no contraturno e ainda pratica esportes, como natação e tênis. Os trabalhos que faz como modelo e influencer são realizados em paralelo com a sua rotina. Minha preocupação é nunca sobrecarregá-la. Todo o trabalho que nos é oferecido sempre foi escolhido e planejado em comum acordo com a Valentina, para que ela esteja à vontade e que o trabalho também não prejudique seus estudos.

O Instagram dela é monitorado 100% por mim e pelo meu marido. Por ser uma conta aberta, não deixamos ela ter acesso sem a nossa presença, pois estamos sempre filtrando e cuidando de contas inapropriadas que chegam e mensagens agressivas que não são apropriadas para crianças. Geralmente, a produção de conteúdo para o Instagram é feito no final de semana, da forma mais leve e lúdica possível. Ela ama fotografar, gravar Reels e compartilhar seus looks.

Além disso, nossa regra aqui em casa sempre foi: enquanto esse trabalho estiver fazendo bem para ela, ela estiver se divertindo e sendo feliz, estaremos aqui para apoiar e fazer o nosso melhor.

3 CONTAS DE INFLUENCERS CRIANÇAS PARA SEGUIR AGORA

@luluca_oficial

@LULUCA_OFICIAL

@mariaclara_e_jp

@MARIACLARA_E_JP

@mundo_da_vivi

@MUNDO_DA_VIVI

AVANÇOS E AVESSOS DO MUNDO DIGITAL

Por: Luci Pfeiffer, médica pediatra, presidente do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, membro do Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria e coordenadora do Programa Dedica – Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, no Paraná.

crianças no computador
(Foto: Shutterstock)

Os avanços da tecnologia trouxeram para o ser humano instrumentos fantásticos de pesquisa e descobertas em todas
as áreas da ciência, além da possibilidade da comunicação entre muitos, a baixos custos.

Para as crianças e os adolescentes, o acesso à tecnologia tem se tornado cada vez maior e mais precoce, sendo justificado pelos pais e responsáveis como uma escolha inevitável da juventude atual, fugindo do preceito principal de cuidado e proteção, que seria algo a ser também ensinado, orientado e supervisionado, visto que abre espaço para que muitos estranhos tenham acesso a esses jovens, bem como a buscas e à utilização de meios virtuais nem sempre saudáveis e seguros.

Com a pandemia da Covid-19, muitas crianças e adolescentes foram deixados em frente às telas como forma de ocupar seu tempo ou atividade de lazer. Muitas vezes, o uso foi durante a madrugada, às vezes sem supervisão adulta, invertendo as horas de sono e impedindo as atividades para o desenvolvimento físico e psíquico normal, trazendo grandes prejuízos aos ganhos intelectuais e de relacionamentos entre seus pares.

A orientação aos pais e cuidadores para o tempo de uso das telas pelas crianças e adolescentes da Sociedade Brasileira de Pediatria é a de que as telas e o mundo virtual não aconteçam antes dos dois anos de idade. A partir do terceiro ano de vida até o final do quinto, conteúdos escolhidos e partilhados com os pais podem trazer para a criança novos estímulos e diversão, com o tempo limitado a uma hora.

Para além do sexto ano de vida, a recomendação é de até duas horas ao dia de uso da internet para lazer e contatos
com conhecidos. E essa proposta poderia ser para todas as idades, para que não se faça do mundo virtual, do superficial, do coletivo, irreal e até mesmo dos “fakes” o direcionamento das escolhas e valores de cada um.

Para crianças e adolescentes, o uso sempre deve ser supervisionado. Não seria pensável que todos os pais consigam
acompanhar os avanços da tecnologia e das abordagens perversas de todas as pessoas que tentam violar a infância e
adolescência, especialmente aqueles que têm essa violação, por todas as suas apresentações, como principal objetivo.

Estar perto e disponível para as crianças e adolescentes como adultos responsáveis e oferecer um exemplo de comportamento saudável, incluindo o uso das telas, são os primeiros passos para a utilização segura e útil dos benefícios do mundo virtual, além de um bloqueio aos seus malefícios, em que uma outra importante recomendação contra os riscos do mundo virtual esteja sempre presente: não fale com estranhos!

*Matéria originalmente publicada na edição #265 da revista TOPVIEW.

Deixe um comentário