Para pensar o genderless: isso é de menino ou de menina?
Dois filhos de amigas minhas já pediram de presente de aniversário uma boneca. Sim! Não era um carrinho, nem super-herói. Era uma boneca. Agora conte para mim: o que você faria se o seu filho pedisse uma boneca?
Sem dúvida, continua muito forte a separação entre brinquedo de menino e de menina, inclusive nas prateleiras das lojas. Mas qual o problema de as meninas brincarem de carrinho e os meninos de boneca?
Normalmente, as brincadeiras são reproduções da vida social adulta: os pequenos projetam o que observam. “Nossas crianças convivem com pais trocando fralda, dando mamadeira, cozinhando… Estamos passando por uma transição. Nós somos adultos modelados em outra época, em que não era comum o pai fazer tantas atividades em casa. Ainda há um estranhamento, mas esse tipo de reflexão é muito pertinente”, conta Acedriana Vicente Vogel, diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
Realmente, muita coisa mudou. Hoje, mulheres dirigem e muitas são provedoras do lar. Por que então uma menina não pode brincar de carrinho? E o menino brincar de cuidar dos filhos?
“Esse pensamento é muito forte na indústria porque é mais produtivo economicamente. Não é possível aproveitar roupas e brinquedos do filho mais velho na filha mais nova, porque socialmente não é aceito”, reflete Acedriana. “É a soma de várias gerações estereotipando relações que não existem mais.”
Para Débora Fortes, mãe e diretora da Escola Espaço Feliz, no Água Verde, o brincar é tão básico e, ao mesmo tempo, tem uma importância enorme. “Criar, imaginar e ter contato com a diversidade faz toda a diferença para o desenvolvimento. Brincando de casinha, por exemplo, as crianças tentam se organizar em uma rotina familiar, trocando experiências. Não é o brincar de boneca que irá estimular a homossexualidade de um menino. E, com certeza, isso o ajudará a se tornar um pai mais participativo”, comenta.
Genderless: rosa ou azul?
Em 2017, durante um programa de televisão, a filha de Marcos Piangers, com apenas 10 anos, disse que já passou a fase em que ela gostava de rosa e que meninas não usarem azul era machismo. Aproveitou para questionar por que não existem fraldários em banheiros masculinos!
Dentro desse cenário vem crescendo a moda genderless, das roupas sem gênero. Essa é a ideia de Viviane Klimeika, que faz a curadoria da Ninadora e é mãe do Vicente, de 3 anos. Ela criou a empresa há um ano e entrega na casa dos clientes roupas para os pequenos provarem. “Eu tenho vestidos também, mas a ideia é um conceito de consumo mais consciente. Poder usar a mesma roupa para os dois filhos, mesmo sendo de sexos diferentes. Com conforto, sem muitos babados, para que estejam livres para brincar. A roupa constrói uma personalidade e quebra paradigmas”, afirma.
Nessa mesma linha está a marca de roupas infantis Muchú, idealizada por Muriel Seguro. “Entrei em um processo bastante intenso de desconstrução de tudo aquilo que eu aprendi sobre o que é ser mulher. E quanto mais eu me aprofundava, mais eu me questionava a respeito de coisas que me foram ensinadas desde muito cedo”, diz. “Quero que a Muchú seja uma fonte de inspiração para as pessoas, para que elas saiam da caixinha, revejam padrões e comportamentos. Minha principal motivação é poder impactar as crianças de uma forma positiva, para que elas possam escolher genuinamente o que gostam e para que elas tenham autonomia”, disse.
PS: Minha filha Amanda, de 4 anos, ama rosa pink e é apaixonada por bonecas. Ela adora a aula de balé, mas me perguntou por que no futebol do meu outro filho, o David, não tinha nenhuma menina.
Dica da semana
Nos dias 21 e 22 de setembro, será realizado o espetáculo BRASILIS, apresentado pelo Circo Turma da Mônica, no Teatro Positivo. Os ingressos estão à venda a partir de R$ 37,50 (meia-entrada) no site www.uhuu.com ou no ponto de vendas físico localizado no Shopping Crystal.
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