SELF ESPORTE

Os benefícios da corrida e cuidados com a prática

Descubra os motivos que levaram três curitibanos começarem a correr e quais os alertas para não ter problemas com a atividade

Corporificação da saúde no Brasil, até mesmo Drauzio Varella confessa ter manhãs em que levantar da cama, calçar o tênis e sair para uma corrida parece impossível – um empenho, no mínimo. Ainda assim, é sobre o prazer que a atividade proporciona – e não somente físico – que o médico maratonista escreve em Correr (Companhia das Letras), seu novo livro.

Também o escritor japonês Haruki Murakami narra sua experiência de mais de duas décadas em Do que eu falo quando eu falo de corrida (Alfaguara), no qual relata ter se tornado mais forte, “tanto física quanto emocionalmente”, com o esporte. Para entender o que leva uma pessoa a literalmente sair correndo, a TOP VIEW conversou com especialistas e pessoas que incorporaram esse hábito à sua rotina.

Por que corro?

Os 12 pares de tênis de Rafael Strujak – exagero que ele compara ao de mulheres com sapatos – coroam as conquistas desse corredor. Proprietário do restaurante italiano Campania, ele deu seus primeiros trotes motivado por um clássico: saúde. O objetivo inicial era eliminar o sobrepeso de 25 quilos, parar com os 60 cigarros diários e ter uma alimentação saudável. No entanto, Strujak, 54 anos, descobriu outros proveitos na atividade: adquiriu mais disciplina e foco, que o acompanham no seu trabalho e vida pessoal. “Correr muda a sua vida, completamente”, resume.

Essas características, junto à força de vontade, são importantes para começar e continuar a correr. Porque é difícil, cansativo, doloroso e nos conduz cara a cara com nossos limites – físicos e mentais. No caso do empresário, foi apenas na terceira tentativa, depois de alguns meses, que ele criou e manteve uma rotina de corrida.

“Eu sempre dizia que não tinha tempo”, lembra. “Hoje, sobra.” Além dos desafios de aumentar distância e velocidade, Strujak sofreu com dores musculares, esporão e fratura por estresse no tornozelo – essa por conta de um tênis inadequado, que ele confessa ter escolhido pela cor.

Com os devidos tratamentos, porém, essas questões não o impediram de viajar a Roma, onde morou por 22 anos, e completar os 42 km da maratona da cidade. “Corri que nem percebi”, brinca, sobre o percurso pontuado pelo Coliseu e outros pontos turísticos.

“Todo mundo pergunta se é difícil começar a correr”, enfatiza a party designer Dani Machado, 35, que há três anos “quase morria” para completar 1 km. “Mas todo dia é difícil – hoje é difícil”, afirma. Palpitações, canelite [inflamação do osso da canela] e dor muscular pontuaram sua trajetória, e mesmo hoje ela faz fisioterapia por conta de um problema de joelho.

Os benefícios, na sua visão, compensam: aliado à alimentação adequada, perdeu 35 quilos. “Além de ser saudável e mudar o seu estilo de vida, você faz muitas amizades”, conta Dani “Eu amo correr. Dá a sensação de conquista”, completa.

Sozinho, nunca solitário

Quando menciona amizades, Dani se refere aos membros da equipe Quarentões, que integra junto com o marido (ele seguiu seu exemplo e hoje é maratonista). A blogueira do Party of 30 conheceu pessoas com um estilo de vida parecido e chegou a viajar em grupo para participar de corridas: depois de Buenos Aires e Florianópolis, encarou, junto a outras 68 pessoas, uma meia maratona no Rio de Janeiro, em julho.

A motivação que um membro transmite ao outro e o companheirismo também estão presentes no Graciosa Runner’s. A equipe do Graciosa Country Club foi criada há seis anos para atender alunos que desejavam melhorar o rendimento ou aprender a correr. “O grupo motiva porque lá você encontra pessoas com objetivos e perfis parecidos, compartilha dificuldades”, explica Amilton Luiz Biscaia, educador físico e técnico do grupo. Hoje, são cerca de 20 alunos, divididos entre avançado e iniciantes, que se reúnem três vezes por semana.

Um deles é India Estrella Zornig, 56 anos. Desde que começou a correr, no final dos anos 1990, não parou mais. “Eu tenho a corrida em primeiro lugar como diversão. Me mantém jovem, saudável, você supera os próprios limites e corre com todo o tipo de gente”, explica India, cuja primeira maratona foi em Nova York, aos 42 anos – “Um quilômetro para cada ano de vida”, brinca.

Milhares de quilômetros depois, ela ainda fala sobre o assunto com a empolgação de quem acaba de completar sua primeira prova. “Gosto da preparação, do frio na barriga, do sorriso dos corredores, de todo mundo se ajudando”, afirma. “São 40 mil pessoas num grau de felicidade incrível”, finaliza a maratonista.

Mesmo para quem corre sozinho, a atividade não tem nada de solitária, seja no parque, na academia ou durante uma competição. “As pessoas interagem muito dentro de uma prova, mesmo quem participa só para participar”, defende Márcia Regina Walter, coordenadora da comissão de psicologia do esporte do Conselho Regional do Paraná. Strujak também desmente a ideia de lobo solitário. “Você chega na corrida e tem duas, três, quatro mil pessoas.

Todo mundo se cumprimenta. Você não sabe o nome delas, mas no meio da corrida se ajudam, apoiam”, relata. O intenso calendário de maratonas no Brasil, de diversos tamanhos, acaba sendo um incentivo a viagens e amizades.

“Você acaba tendo um benefício muito maior do que somente o físico”, resume Márcia, chamando atenção para a sensação de confiança e a de bem-estar gerada pela dopamina, substância liberada durante o exercício físico.

 Sem desistir

“Para evoluir em qualquer atividade tem que ter regularidade e determinação.” Além do conselho básico de Biscaia,  técnico do Graciosa Runner’s, recomenda-se iniciar a prática da corrida de forma lenta e progressiva – quem nunca correu, deve começar caminhando, então caminhando e correndo, até iniciar o ciclo de corrida.

Partindo da estaca zero e treinando três vezes por semana, ele avalia que leva entre quatro e cinco meses para se correr 5 km bem. Alguns corredores e professores acreditam que criar metas, desafios e superar limites autoimpostos são importantes para se manter motivado. Após cinco anos, Sturjak corre 60 km por semana, em média, com acompanhamento de um instrutor, que cria novos treinos regularmente.

Cada um, no entanto, tem o próprio santo para o qual rezar na hora da subida – e suas preferências. É comum, por exemplo, ver corredores com fones de ouvido e aparelhos de MP3. Sturjak, no entanto, dispensa a música: “Prefiro estar concentrado”, justifica, encontrando a oportunidade para clarear a mente e desestressar. “Durante a corrida você esquece tudo. Só não digo que aniquila tudo porque problemas existem sempre”, brinca o empresário.

Ponto de partida

Ainda que não haja contraindicação, especialistas reforçam a importância de realizar uma bateria de exames, principalmente cardíacos, e de buscar auxílio de um profissional especialista em corrida, que fará um programa específico de acordo com o aluno e seu objetivo. “É uma atividade prática, mas é uma das mais complexas em relação a treinos e cuidados. Feita de forma irregular, pode gerar vários problemas”, diz o técnico de corrida Samir Cesar Sabadin. Ele ainda faz mais um alerta: “Se não houver variações, o seu organismo se acostuma com a rotina de corrida e não evolui mais”.

APPS que ajudam

Runkeeper

Gratuito. iOS e Android.

Monitora ritmo, distância, tempo e calorias queimadas. Apresenta histórico detalhado das atividades, mede progresso em relação a metas, compartilha informações em redes sociais. Acompanhamento via GPS.

Nike + Running

Gratuito. iOS e Android.

Monitora rota, distância, ritmo, tempo com GPS. Compara resultados com outros usuários e via redes sociais.

Para começar e continuar correndo

Ombro

Atenção à postura, que deve se manter ereta, para não prejudicar a respiração.

Punho

Só o fato de correr com o punho “quebrado” tensiona os membros superiores, dificultando a corrida. O certo é mantê-lo reto, como uma extensão do braço.

Água

Durante a atividade, tome entre 50 e 100 ml a cada 25 minutos.

Há três tipos de pisada: pronada, supinada e neutra. É importante escolher o tênis compatível com seu tipo, pois a corrida é um exercício repetitivo, podendo compensar na musculatura e causar lesão crônica.

Alongamento

Inicial e final devem ser leves, para preparar a musculatura e evitar microlesões musculares.

Frequência

Para amadores, entre três e seis vezes por semana.

Tênis

Um modelo bom custa, em média, R$ 400. Compre sempre em uma loja especializada (algumas possuem tecnologia para identificar a pegada).

Solo

Prefira terrenos de chão ou grama, ou mesmo esteira, em relação ao asfalto, onde o impacto é maior.

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