No alvo
por Daniel Batistella fotos Lucas Ferreira
“Game of Thrones”, “Arrow”, “As Crônicas de Nárnia”, “O Senhor dos Anéis”, “Jogos Vorazes”. O que essas minisséries e filmes têm em comum? Em todas elas, o arco e flecha aparece na mão de personagens corajosos metidos em enredos fantásticos e intensos embates entre o bem o mal. E isso mexeu com o imaginário coletivo a ponto de trazer a arqueria do mundo medieval retratado nessas produções para uma realidade bem mais palpável: o agora! A prova está no aumento do número de praticantes de arco e flecha como explica Eduardo Oliveira, sócio-diretor na RD Arqueria, em Curitiba, e instrutor internacional do esporte.
Eduardo conta que todo sábado, o dia da semana mais movimentado do espaço, novos praticantes aparecem. “Todas as pessoas podem praticar o esporte, independente de idade, sexo e limitações especiais”, diz. Apenas recomenda que se tenha pelo menos seis anos de idade, pois a prática demanda disciplina e coordenação motora mais desenvolvidas.
Para descobrir o que anda conquistando tanta gente, eu, Daniel Batistella, que só tinha visto o esporte pela televisão, fui até o Yellow Ball, o maior centro de arco e flecha do país, com 250 mil m², em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Lá, o instrutor Helder Chin, diretor técnico da Federação Paranaense de Arco e Flecha e vice-campeão mundial da categoria, me contou os segredos para que eu não fizesse nada errado, como acertar a flecha em alguma pessoa, por exemplo!
Já cheguei cometendo o primeiro erro: por ser canhoto, achei que puxaria a corda – feita em náilon – com minha mão esquerda. Poderia até ser, porém, tão importante quanto a mão, o arqueiro tem o olho. Segundo Chin, antes de qualquer coisa, é preciso que o arqueiro aspirante descubra qual seu olho diretor, que melhor fica aberto mirando o alvo. Descobri que o meu é o direito. Portanto, nada de usar minha melhor mão para puxar a corda. Com ela, tive de segurar o arco. E com a mão direita, puxar a corda.
Antes de atirar a primeira flecha no vazio de cinco metros entre mim e o alvo – que pode ficar a até 70 m de distância, em disputas olímpicas –, foi preciso colocar alguns acessórios: a aljava, para guardar as flechas; um protetor no braço esquerdo, para proteger de algum contato da corda ou da flecha; e um protetor de dedo, para puxar a corda. Nos filmes essa arma parecia perigosa só para o inimigo…
Usei um arco recurvo tradicional. O nome vem das lâminas do arco, curvadas para gerar mais energia. Nas Olimpíadas da nossa era, o modelo usado é de recurvo moderno, assim chamado por acompanhar acessórios como mira, pesos para estabilizar o movimento e gatilhos para proporcionar um melhor rendimento. “O arco recurvo é considerado uma evolução do arco medieval”, explica Chin.
Com acessórios e arco e flecha, me posicionei de lado para o alvo, com os pés paralelos e o braço esquerdo à frente. Com a flecha presa na corda e encaixada para não cair, estiquei a corda para trás, com o cotovelo pra cima até encostar a mão na bochecha, orientado por Chin.
Achei que seria mais fácil ter de mirar o alvo com a corda esticada no limite. Mas a tensão da corda esticada é proporcional a 15 quilos de força e, pode não parecer, mas com tanto peso e força necessários, cansa ter de estabilizar o braço. A primeira flecha, que pode chegar até a 230 km/h, foi no alvo. Yes! Não no centro do alvo, que fique claro, mas foi no alvo…
Ao todo, lancei nove flechas, com sete acertando a área do alvo. Depois quis fazer um teste: trocar o olho diretor e, por consequência, trocar as mãos e a posição de lançamento. Resultado: as três flechas que lancei foram rumo ao…nada! Ou seja, confie no seu olho diretor.
A lição do arqueiro
Mais do que força, praticar o arco e flecha requer paciência: a evolução é gradativa e o movimento é sempre o mesmo. Também pede concentração. Que desafio é não se distrair com pessoas e barulho à sua volta! Chin garante que a arqueria também desenvolve controle psicológico e postura. Com três meses de prática, treinando 3 horas por semana, dá para obter resultados satisfatórios. Para chegar ao alvo de 70 metros de distância, ele explica que a progressão vai de cinco em cinco metros e bons resultados podem ser alcançados em menos de seis meses. O que ainda me dá tempo de participar das próximas Olimpíadas, no Rio de Janeiro, em 2016. Ou, pelo menos, tornar-me um arqueiro dos tempos modernos. Nem que seja de brincadeira.
SERVIÇO
Onde praticar: Yellow Ball_ (41) 3667-4444
Rua Isidoro Canestraro, 111, Jardim Santa Helena, Piraquara