Atletas brasileiros terão uniformes com acessibilidade nos Jogos Paralímpicos
A menos de 100 dias para o início dos Jogos Olímpicos em Tóquio em agosto, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) revela os novos uniformes que vestirão a delegação brasileira ao longo das semanas de disputas da competição esportiva, adiada no ano passado por conta da pandemia do coronavírus. Até o momento, era comum que atletas do paradesporto precisassem trajar vestimentas que não consideravam suas deficiências e limitações motoras.
Os trajes foram apresentados nesta segunda-feira (17), em live no Youtube da CPB. O novo traje foi desenvolvido pela própria equipe de design do comitê e teve a acessibilidade como princípio básico. Nas edições de Londres-2012 e do Rio-2016, a fornecedora de material esportivo da entidade era a Nike, mas o contrato com a empresa americana terminou em 2017.
O comitê divulgou um vídeo com a prévia dos uniformes. Confira:
“O importante para o atleta paralímpico é ele se sentir bem dentro do uniforme. Ao mesmo tempo, buscamos colocar um propósito nestes uniformes para que o mundo inteiro possa ver o quanto uma pessoa com deficiência pode ser veloz, ter precisão, força, técnica apurada, entre outros aspectos ligados ao esporte”, conta Mizael Conrado, bicampeão paralímpico de futebol de cinco e presidente do CPB.
Entre os itens colocados agora como acessórios está um zíper com puxador ergonômico, que possibilitará manuseio mais confortável e autonomia aos atletas com limitação motora ou articular nas mãos. Já as calças levam uma abertura lateral na barra, para facilitar a passagem da prótese no caso dos amputados de membros inferiores. Nos acessórios, a delegação conta com parceria com a Havaianas, que finaliza os trajes com itens da marca como a sandália Havaianas Top Brasil Logo, pares de Alpargatas e a bolsa Street.
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Os produtos da linha passeio, para todos os atletas da delegação, possuem uma etiqueta interna com braille (sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão) para que deficientes visuais identifiquem as cores.
“As etiquetas em braile foram um grande diferencial. Com certeza, vai dar mais autonomia. Geralmente, tinha que pedir para os nossos guias auxiliarem no momento de me arrumar. Agora, vou conseguir preparar o uniforme sozinha”, diz Lorena Spoladore, velocista medalhista de bronze nos 100 m e nos 200 m no Mundial de Dubai e no Parapan de Lima, ambos em 2019, pela classe T11 (atletas com deficiência visual).
Yohansson Nascimento, velocista campeão paraolímpico em Londres, não possui as mãos e é um exemplo claro de para quem as adaptações são bem-vindas. “Às vezes é complicado eu usar um zíper que foi feito para pessoas que têm os dez dedos nas mãos”, conta. Ele estava classificado para Tóquio-2020, mas abriu mão da vaga para se candidatar a vice-presidente do CPB, cargo que hoje ocupa.
Leggings de algumas modalidades, como atletismo, canoagem e remo, terão a barra diferenciada para assegurar mais segurança de movimento. Todos os tops contarão ainda com as alças retas, sem cruzamento nas costas, o que facilitará vesti-lo para os atletas com deficiência visual.
“O uniforme tem uma representação muito forte para o atleta. E para mim, especialmente, quando vesti pela primeira vez foi que acendeu a minha vontade de ser atleta. Gostei bastante de tudo, ficou bem mais prático vestir a calça, por exemplo”, afirma Vinícius Rodrigues, velocista da prova dos 100 m pela classe T63 (para amputados de perna) e medalhista de bronze no Mundial de 2019.
Raissa Rocha, campeã parapan-americana em Lima e bronze no Mundial em Dubai no lançamento de dardo, pela classe F56 (para cadeirantes), também comemorou: “Pensar na pessoa com deficiência na hora de desenvolver uma roupa é promover a inclusão e, ao mesmo tempo, o desempenho esportivo”.
O Brasil tem 127 vagas garantidas na Paraolimpíada de Tóquio e estima chegar a 230 competidores no Japão.