SELF COMPORTAMENTO

Homens possíveis – como é o homem do século 21?

Enquanto redefine seu papel social, o homem do século 21 mostra força e sensibilidade não para competir com a mulher e sim para unir-se a ela

Eles cuidam da casa, participam da educação dos filhos, fazem tratamentos estéticos e até terapia para lidar com as mudanças desses novos tempos. Ainda que não sejam maioria, eles já estão mostrando um caminho possível para redefinir o papel do homem na sociedade atual, principalmente após a ascensão da mulher em quase todos os aspectos da vida moderna. A postura mudou para ambos os sexos, mas não se sabe ainda o que o futuro reserva. O que se pode perceber pelo depoimento dos quatro homens entrevistados nesta reportagem é que muitas vezes voltar ao natural do ser humano – e não tão especificamente dos gêneros – pode ser recompensador, e não só para eles.

Para o sociólogo Daniel Cardoso, chegamos a uma situação difícil. “Tanto homens quanto mulheres são vítimas do capitalismo pós-industrial. Com a globalização, houve uma necessidade de a mulher contribuir financeiramente em casa e essa saída do lar deixou de ser uma opção. Portanto, não foi só o movimento feminista que causou essa transformação, foi uma necessidade social”, explica. Segundo ele, há perdas e ganhos nesse novo contexto, mas a crise de identidade para homens e mulheres continua. E embora nada esteja resolvido, alguns homens têm encontrado alternativas nas quais o principal fator de transformação é a parceria, ao invés da competição, com as mulheres.

No mesmo barco

O homem já havia ganhado um reforço financeiro com a ida da mulher ao mercado de trabalho, mas elas alçaram voos maiores e, em muitos casos, estão ganhando mais – o que ainda causa certo desconforto. No entanto, há casais que tiram essa situação de letra e garantem que há muito mais ganhos do que perdas.

Marcos Balliana é daqueles maridos parceiros. Casado com a Karol há seis anos, ambos fizeram Educação Física, mas ela está no “topo da cadeia alimentar”. Ele é contratado de uma academia e ela é autônoma, o que faz grande diferença em termos de rendimento.

Marcos garante que não foi fácil administrar a diferença salarial. “Acho que o modelo de família dos nossos pais era diferente e, talvez por isso, logo no início do casamento, fiquei meio perdido. Mas foi passageiro e hoje estamos muito bem-resolvidos”, garante. Ele afirma que a união por objetivos comuns tornou a vida mais fácil. “O que importa mesmo é o resultado do trabalho dos dois. Hoje temos uma filha e com a soma dos rendimentos a vida está confortável.”

No mesmo time está a família de Carlos Krieck e Rebeca, recém-chegados na nova morada, o Canadá. A diferença salarial foi absorvida com naturalidade desde o namoro do casal de biólogos. “Ainda vivemos numa sociedade machista, que infelizmente espera que o homem seja o principal mantenedor financeiro da família. Caso contrário, ele muitas vezes se sente fracassado, o que é uma grande besteira!”, opina Carlos.

Segundo ele, aos poucos a sociedade está percebendo que homens e mulheres têm as mesmas competências profissionais. Ele garante que nunca teve problema com o fato de a esposa ganhar mais do que ele. “Eu sempre encarei isso como sucesso profissional dela e isso não é motivo para se envergonhar, mas sim, para ter orgulho de ter ao meu lado uma pessoa inteligente e competente”, completa. Para ele e tantos outros homens do século 21, ser bem-sucedido vai além do estereótipo, eles querem ser felizes. “E isso não tem absolutamente nada a ver com quanto você ou sua esposa ganha”, finaliza Carlos.

Cartas na mesa

Outra forma encontrada pelos homens para retomar o equilíbrio emocional em um período de transformações sociais significativas foi se voltar para dentro. Fazer terapia ou vivências para o autoconhecimento ganhou espaço nas agendas masculinas. O designer e empresário Alexandre Rocha garante que isso só lhe faz bem.

“A partir do momento que nos assumimos como imperfeitos, a gente entende que sempre pode melhorar. As terapias e vivências ajudam a evoluir a consciência perante a vida”, explica. Ele conta que em um determinado momento a esposa resolveu fazer microfisioterapia, uma técnica que tem base na identificação e correção primária de uma doença ou sintoma estimulando a autocura do organismo. “Eu notei que ela estava bem melhor do que eu, mais segura e tranquila. Então, resolvi fazer também. Há sempre espaço para evoluir, e se for juntos, melhor ainda”, afirma.

Aprendendo com elas

O professor e consultor Ricardo Pimentel começou muito cedo – e graças à sua mãe – a aprender como funciona uma casa. “Quando minha mãe, que era costureira, precisou de ajuda com as tarefas domésticas, ela colocou os filhos para ajudarem. Sou muito grato, pois aprendi a cuidar do espaço onde vivo”, declara.

Como saiu de casa aos 17 anos, começou desde cedo a ser autossuficiente na administração do lar. “Não sei se minhas ex-mulheres vão concordar com isso, mas acho que eu gerenciava as casas até melhor do que elas”, afirma Ricardo. Hoje solteiro, além de manter o ambiente agradável para si e para quem convive com ele, também aprecia uma boa culinária caseira. “Meus amigos estranham que eu, morando sozinho, venha fazer minhas refeições em casa. É uma questão de organização, de prazer em fazer a própria comida e ainda ter uma alimentação bem mais saudável”, garante.

Ricardo também repensou outras questões para fazer escolhas de vida mais equilibradas. “Escolhi um trabalho com horários mais flexíveis, fui morar em um apartamento menor, mais próximo do trabalho e dos meus filhos – com os quais me dou ao luxo de conviver muito mais.” A prática exige um pouco de desapego, dá trabalho, mas é possível. “Para mim, não há coisa de mulher ou de homem, vale o que me sinto bem fazendo”, ensina.

Para a professora do curso de Sociologia da PUC-PR, Valquíria Renk, os novos arranjos familiares acabaram impondo outras formas de relacionamento, tanto para homens quanto para mulheres. “O homem saiu da posição mais cômoda em casa porque a mulher não tem mais tempo disponível para os afazeres domésticos. É a própria sociedade que está exigindo essa transformação do homem”, explica.

Mais beleza para eles

Homens mais participativos, compreensivos, mais próximos dos filhos. E também, mais bonitos! O mercado de beleza masculina está em ascensão e representa 37% do total no Brasil. A Onodera já está de olho nesse movimento. “Quase todos os nossos serviços também são oferecidos para os homens, que representam 5% da nossa clientela, ainda que tenhamos uma comunicação totalmente voltada para a mulher.

O que eles mais buscam são os tratamentos mais rápidos e mais agressivos, como depilação definitiva e os voltados para redução de medidas”, explica Marcos Godoy, proprietário da empresa. Segundo ele, geralmente os homens experimentam os tratamentos estéticos ao acompanhar suas mães, irmãs ou esposas. “Depois disso, tornam-se clientes fiéis, mais até do que as mulheres.” O crescimento do público masculino nas clínicas da Onodera é de 10% ao ano, fato que já aponta um caminho promissor para novos serviços.

*Matéria publicada por Daniélle Carazzai, com fotos de Guilherme Pupo, e publicada na edição 154 da revista TOPVIEW.

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