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Cidades biofílicas e a natureza em contexto urbano

Cidades biofílicas trazem de volta elementos verdes para um resgate da biodiversidade dentro do contexto urbano

As obras arquitetônicas e grandes cidades tem provocado impactos nos recursos naturais, o que deteriorou a conexão com a natureza. A partir disso, a biofilia surge como uma tendência na arquitetura e no urbanismo para retomar essa relação. Não trata-se, porém, apenas de sustentabilidade, mas de uma visão holística, que leva em conta a saúde e bem estar. É o que defende Ormy Hütner Júnior, arquiteto e urbanista sócio da Tellus Arquitetura Sustentável. “Procuramos com a arquitetura e paisagismo promover a reconexão das pessoas com a terra, com o planeta, com Gaia, no sentido sistêmico dessa relação. A arquitetura ecológica foca no indivíduo e sua relação com o entorno, sempre vai trazer elementos bióticos (como as plantas) para propiciar essa reconexão”, resume.

Os telhados verdes são soluções biofílicas para minimizar enchentes, diminuir ilhas de calor e aumentar o conforto sonoro.

As cidades biofílicas trazem a natureza para perto e, com isso, utilizam-se de seus diversos benefícios. “Estamos falando de usar os telhados e paredes verdes, ter hortas urbanas, aumentar a arborização, abrir os rios que hoje estão canalizados. São formas de criar uma infraestrutura muito mais saudável, que vai tornar as cidades mais resilientes”, defende Ormy. O arquiteto ainda exemplifica com as enchentes, que poderiam ser evitadas com investimento em áreas verdes.

“As pessoas querem morar e trabalhar em ambientes que são favoráveis à vida. A biofilia traz de volta esses elementos verdes para um resgate da biodiversidade dentro do contexto urbano. Quando trago elementos vivos, estou trazendo vida de volta.”

Do ponto de vista da edificação, há um melhor desempenho térmico ao optar por telhados e paredes verdes, deixando as temperaturas mais amenas tanto no verão quanto no inverno. Além disso, elas servem como biofiltro, pois são capazes de absorver os poluentes do ar, inclusive os cancerígenos.As plantas podem também promover conforto acústico, além de serem produtivas, como as hortas verticais. Elas ainda diminuem as zonas de calor nas cidades e aumentam a qualidade do ar, principalmente onde há grande número de automóveis.

Para a edição 2019 da mostra “Arquitetura para Curitiba”, a Tellus Arquitetura Sustentável propôs soluções biofílicas para resgatar e revitalizar a área do Centro Cívico, no trecho entre o Passeio Público e o Bosque do Papa. A proposta inclui um parque, que se estende ao longo da Avenida Cândido de Abreu, representado pelo chamado Corredor Verde, e o resgate do rio Belém. São utilizadas soluções como wetlands, jardins de chuva, telhados e paredes verdes, além de arborização urbana para recuperar e aproximar novamente o rio à população de Curitiba, com espaços de convivência e opções mais saudáveis de mobilidade, resgatando a biodiversidade original.

As cores também influenciam. Ao usar vegetações de cores quentes em lugares frios pode dar a sensação de mais calor. “O verde, na teoria das cores, promove repouso, relaxamento, as pessoas se tranquilizam. Colocado estrategicamente em determinados ambientes pode ajudá-las a ter mais tranquilidade mental. A presença das plantas é bem conveniente”, ressalta Letícia Hardt, arquiteta e doutora em engenharia florestal. Se o ambiente quer gerar estímulo, pode optar então pelo uso de plantas com flores de outras cores.

Trazer a vida de volta

“As pessoas querem morar e trabalhar em ambientes que são favoráveis à vida. A biofilia traz de volta esses elementos verdes para um resgate da biodiversidade dentro do contexto urbano. Quando trago elementos vivos, estou trazendo vida de volta. Com isso, começo a restaurar um ecossistema que foi perdido”, resume Ormy.

Há outros benefícios intangíveis nessa relação. O arquiteto aponta que ambientes públicos com paisagismo e muito verde reduzem a criminalidade e os níveis de estresse dos cidadãos. Cingapura é um dos maiores exemplos mundiais no planeja-mento voltado à biofilia. “Algumas cidades do mundo estão sendo pioneiras em investir nessa biofilia. É ver a biofilia é uma política pública. Hoje [em Cingapura] eles estão colhendo resultados do que investiram décadas atrás, é como se o mundo estivesse atrasado”, frisa. Para ele, a solução é os gestores públicos entenderem a importância do tema e criarem ferramentas de incentivo. “A gente ainda não consegue criar o IPTU verde, por questões burocráticas. O Brasil ainda está muito atrás, não consegue nem atender a questão do saneamento básico. Ainda assim, é um cenário que está mudando, os profissionais estão percebendo a necessidade de mudar esse paradigma”, observa.

Para a edição 2019 da mostra “Arquitetura para Curitiba”, a Tellus Arquitetura Sustentável propôs soluções biofílicas para resgatar e revitalizar a área do Centro Cívico, no trecho entre o Passeio Público e o Bosque do Papa. A proposta inclui um parque, que se estende ao longo da Avenida Cândido de Abreu, representado pelo chamado Corredor Verde, e o resgate do rio Belém. São utilizadas soluções como wetlands, jardins de chuva, telhados e paredes verdes, além de arborização urbana para recuperar e aproximar novamente o rio à população de Curitiba, com espaços de convivência e opções mais saudáveis de mobilidade, resgatando a biodiversidade original.

Há, também, uma questão psicológica no convívio com as plantas, aponta Letícia. “Tem pessoas que conversam com as plantas, elas se sentem conectadas com outro ser vivo, assim como conversam com seus pets, que também não entendem as palavras”, analisa. “A ideia é maximizar a sensação de bem estar em relação a outros seres vivos.”

Confira aqui a matéria completa: 
O retorno à natureza

A (in)sustentável leveza do ser
Natureza: uma volta para casa

Da terra para o prato: a alimentação wellness


*Matéria originalmente publicada na edição 234 da revista TOPVIEW.

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