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Alanna Shaikh: Futuro da saúde

Confira a primeira parte da matéria principal "Vozes que pensam o amanhã", na edição 237 da revista

Especialista e consultora internacional em saúde global, mestre em saúde pública, autora do livro What’s Killing Us: A Practical Guide to Understanding Our Biggest Global Health Problems e sócia do projeto Tomorrow Global.

Por que, em um mundo tão evoluído e com tanta tecnologia, não estamos preparados para enfrentar uma doença viral?
Não é apenas porque é viral. Acho que não estamos preparados para qualquer grande doença contagiosa como essa. Nós não gostamos de pensar sobre de onde vem, especialmente sobre nossos atos. A combinação de uma pandemia ser algo que não acontece muito frequentemente e, ainda assim, ser potencialmente muito severa, torna difícil pensar em termos de séries de diferentes atos dos efeitos em cadeia.

No seu TEDTalk você fala que o coronavírus é o nosso futuro. Por quê?
Porque a razão pela qual nós estamos vivendo esse surto agora é por causa da maneira como as pessoas lidam com o planeta, com a terra, com a vida selvagem. Nós não estamos mudando nosso comportamento, nós continuamos fazendo a mesma coisa, como no caso da Covid-19: alguém entrou em contato com um animal selvagem na China, a doença passou para as pessoas e começou a tomar grandes proporções. Humanos estão
entrando em contato com animais selvagens cada vez mais. Isso poderia ter surgido em uma floresta tropical, na Amazônia, em uma floresta que está sendo cortada no sul da Ásia… enquanto continuarmos com esse comportamento [de interagir com a vida selvagem], teremos mais e mais doenças aparecendo.

O que essa pandemia mostrou ao mundo quanto à saúde global?
Dois fatos. Antes de tudo, a importância de uma boa preparação de saúde global, com funções clássicas de uma boa saúde global e pública, como epidemiologia, vigilância, entre outras. Também mostrou o quão fracos são nossos sistemas [de saúde] e o quanto nós somos dependentes.

O que precisamos mudar e aprimorar em nossos sistemas de saúde?
Dois pontos principais sempre voltam à tona: acesso e qualidade. Nós precisamos ter um sistema de saúde que as pessoas se sintam confortável para usar, que seja gratuito ou acessível e que faça um bom trabalho com as pessoas que vão até lá. O problema mais comum, na maior parte das vezes, é de acesso. Nos locais em que os
tratamentos de saúde são muito caros, as pessoas não têm acesso. Se elas não usam porque não acham que é bom, aí temos uma questão de qualidade.

O que precisamos repensar para evitar a próxima pandemia?
Existem várias coisas. Uma delas é que precisamos respeitar nossa vida selvagem e nossos espaços selvagens.
Precisamos parar tendências como o aumento no número de interações entre humanos e animais selvagens. Outra coisa é que precisamos ter um preparo melhor e mais vigilância sobre quando e onde começam esses surtos, precisamos conhecer as localizações, para que possamos pará-los antes que cheguem a esse ponto.

No Tomorrow Global, você fala sobre fazer as perguntas certas. Quais são as perguntas certas para o futuro pós-pandemia?
Nosso futuro será pautado pela experiência dessa pandemia. Não podemos mais voltar ao que era antes e, agora, precisamos fazer escolhas sobre como queremos que o futuro seja.

O que a Covid-19 nos ensinou?
Temos muitos tópicos interessantes sobre saúde global que poderíamos abordar. Um deles é que a Covid-19 nos mostrou o lado aterrorizante do controle de vírus. O que nós precisamos pensar é sobre as infecções bacterianas e o fato de que os antibióticos antes receitados serão cada vez menos eficazes contra essas infecções. E, por isso, as infecções bacterianas que antes costumavam ser bastante inofensivas voltarão a ser perigosas – e não teremos antibióticos.

Qual é a melhor maneira de lidar com doenças como essa?
Precisamos começar a testar as pessoas muito rapidamente. Você precisa testar as pessoas que têm sintomas e precisa testar todo mundo que esteve em contato com elas. Assim, é possível parar a contaminação. Precisamos oferecer cuidados médicos que as pessoas sintam que vale a pena e precisamos restringir a movimentação delas, fazer elas pararem de circular [pela cidade].

*Matéria originalmente publicada na edição #237 da revista TOPVIEW.

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