SELF COMPORTAMENTO

O bem-viver é logo ali! Refúgios na natureza se tornam maneiras de promover o bem-estar

A criação de refúgios na natureza é a maneira encontrada para repor as energias e promover bem-estar

*Por Brenda Iung e Talita Souza

Planejar durante meses uma viagem para longe, com um roteiro de programas que preenchem o dia e nos quais pegar no celular é proibido, organizar momentos com a família em que, finalmente, a desconexão será 100%. Para o arquiteto Mauricio Pinheiro Lima, não é preciso tanto para descansar. Pelo contrário, isso faz parte da sua rotina semanal. Quase toda sexta-feira é dia de ir com o marido e a cachorrinha do casal para a casa projetada por ele próxima ao centro de Morretes, cidade próxima a Curitiba. 

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Eduardo e a esposa pretendem manter a maior área do sítio preservada (Foto: Eduardo Macarios)

A ideia de ter um espaço em localização próxima o suficiente para chegar em menos de duas horas, mas longe o suficiente para se desconectar da capital veio com a pandemia e a vontade de entrar em contato com a natureza.

“A ideia foi comprar um espaço em que de certa forma pudéssemos cuidar um pouco da natureza. Dos 10 mil m² de área, oito mil m² são para proteção ambiental, em que estamos refazendo a floresta”, conta Mauricio, que acompanhou toda a execução da obra. 

Mais do que aproveitar os benefícios de uma região mais tranquila, a construção da casa de  75 m², que tem o design  brasileiro como principal referência, foi feita com utilização de produtos de lojas de material de construção locais. Lima também menciona o encantamento com as relações construídas no entorno da propriedade. Com o consumo de produtos como mel, verduras orgânicas e pães, o consumo local é fortalecido, bem como o sentimento de fazer parte de uma comunidade. 

Novas experiências perto de casa

Sair do apartamento no centro de Curitiba para colocar o pé na terra e poder entrar em contato com a diversidade presente na mata atlântica do Paraná já é uma rotina para o fotógrafo Eduardo Macarios e sua esposa, Evelyn Lo. O Sítio Guadalupe, como foi apelidado pelo casal, é uma propriedade com cerca de oito hectares próxima a áreas de preservação em São José dos Pinhais.

A busca por um lugar próprio em meio à natureza foi um processo compartilhado com amigos e em favor do equilíbrio entre a comodidade de morar em uma região próxima ao trabalho e diversas facilidades e ter uma área para se desconectar totalmente. “Da porta de casa até a porteira do sítio dá uma hora, algo que a gente considera próximo e fácil de ir. Isso facilita bastante e foi importante na decisão do local”, diz o fotógrafo.

Apesar do desejo de adquirir um espaço como esse já perdurar anos, a concretização da compra só aconteceu depois de uma longa avaliação. “A gente fez algumas visitas antes de decidir fazer a compra e, em uma delas, percorremos uma trilha por praticamente toda a área”, conta Macarios. 

Foram oito horas de caminhada na mata até chegar ao Rio Guaratubinha, que passa ao fundo da propriedade e conta com uma diversidade de quedas e piscinas naturais.

“Eu e minha esposa entramos embaixo de uma das quedas d’água e foi ali que decidimos que a gente precisava comprar esse lugar. Aqui é nossa área, é o que a gente quer, é o que a gente buscava”, completa.

Enquanto hoje o terreno é utilizado para trilhas ou acampamentos, no futuro, a ideia é construir uma ou mais cabanas para compartilhar bons momentos com os amigos e com a família. “O terreno ganhou outro significado a partir do nascimento da nossa filha porque a gente pensa que é uma área que vai fazer muito parte da vida dela. É onde a gente espera que ela tenha essas memórias de convívio com a natureza”, finaliza Macarios.

Movimento coletivo

“Eu sempre brinco que a casa é uma extensão do corpo”, diz a doutora em Sociologia Aline Mara Gumz Eberspacher. Muito além de um espaço físico, ela defende a casa como “um lar com um sentimento de pertença, onde é possível sentir-se eu mesmo”. Para ela, tudo o que há dentro da casa – quadros, flores, móveis – é capaz de descrever quem são os moradores. Por esses motivos, projetar esses espaços exige muito mais do que habilidade técnica.

O trânsito caótico, o custo de vida elevado e a falta de segurança são os principais fatores levantados por Aline como motivos para o deslocamento para o interior, seja em períodos curtos ou permanentemente. “Outro fator positivo que a gente observa em comunidades menores é a forte vida social, o sentimento de pertença, de fazer parte de uma comunidade”, completa. 

Além de pessoas mais velhas, que se mudam após a aposentadoria, Aline cita profissionais liberais que vivem temporariamente em diferentes lugares e a geração mais jovem, que já chega ao mercado de trabalho com a perspectiva de uma vida com mais equilíbrio entre as obrigações e o descanso, como públicos que optam por essa mudança. 

Tendência de morar

Transformar casas em verdadeiros refúgios que refletem a personalidade dos donos é o trabalho do arquiteto Wilson Pinto. Com um portfólio de projetos que tem o bem-estar como prioridade, incluindo o Suryaa Lifestyle Hotel, hotel boutique na Região Metropolitana de Curitiba, ele tem a percepção de casas no campo como excelentes investimentos. Isso porque, com os terrenos com valor geralmente bem menor se comparados aos de grandes centros urbanos, os projetos ganham a possibilidade de serem muito maiores e mais confortáveis.

Mauricio Pinheiro Lima e o esposo, Alessandro Mazzarollo, costumam ir à casa de campo todo final de semana (Foto: divulgação)
Para Wilson Pinto, o uso de materiais compatíveis para manter o conforto e adequados à natureza local é imprescindível (Foto: divulgação)

A grande preocupação em obras como essas é o uso de materiais compatíveis para manter o conforto e adequados à natureza local, seguindo parâmetros ambientais e de sustentabilidade necessários. “Eu cuido para que o cliente tenha o máximo de conforto com a condição ambiental respeitada”, diz o arquiteto.

Quando se escolhe construir em um novo local, mudam também as necessidades. No campo, por exemplo, é imprescindível pensar em conforto térmico e acústico, além de recursos como piso aquecido e telas nas janelas.”Se fosse para dar uma dica para alguém que queira viver uma vida no campo é: tenha uma casa que tenha tecnologia o suficiente para suportá-la”, completa.   

O arquiteto Wilson Pinto trabalha com projetos integrados com a natureza (Foto: divulgação)
A casa de campo do arquiteto Alessandro Mazzarollo oferece conforto e contato com a natureza (Foto: divulgação)

Regiões próximas a Curitiba para se desligar da cidade

São José dos Pinhais 
Cerca de 20 km do centro de Curitiba

Morretes
Cerca de 70 km do centro de Curitiba

Campo Largo
Cerca de 30 km do centro de Curitiba

*Matéria originalmente publicada na edição #287 da TOPVIEW.

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