SELF COMPORTAMENTO

O dilema dos pais modernos

Qual é a idade certa de dar um celular a um filho? A TOP VIEW responde essas e outras questões da educação contemporânea

Foi-se o tempo em que a maior preocupação dos pais era saber que horas os filhos chegariam em casa depois de uma festa. Em pleno século 21, o celular permite que, na teoria, uma mãe saiba rapidamente onde estão seus filhos.Por outro lado, a tecnologia e o acesso mais fácil a todo tipo de informação trouxeram uma séria de novas questões que os pais têm que encarar.

Para auxiliar pais e mães a lidarem com redes sociais, notícias de atentados terroristas e até tempo de exposição na TV, ouvimos duas especialistas no assunto, que responderam pontualmente às nossas questões.

Qual é a idade certa para dar um celular a uma criança?

A primeira questão a se considerar é a necessidade. Ela precisa se comunicar com os pais ou o objeto será usado como um brinquedo, por causa dos jogos e aplicativos? Verônica Branco, doutora em educação e professora do curso de pedagogia da Universidade Federal do Paraná, defende que a necessidade tem que vir dos adultos, caso eles precisem controlar o filho de alguma forma.

“Celular não é brinquedo”, defende a doutora, ressaltando que o aparelho passou a ser dado às crianças como forma de distração, o que aniquila seu papel como instrumento de comunicação. “Eu não daria antes dos 10 anos”, emenda, ressaltando que é apenas na entrada da adolescência que a criança precisa de fato usar a tecnologia para se comunicar porque passa a ficar mais longe dos pais.

“É interessante promover o senso de responsabilidade na criança, como estabelecer horários, quantidade de tempo diário permitido, não utilizar durante as refeições”, endossa Merylin Franciane Labatut, gestora de educação infantil do Colégio Positivo. Segundo ela, antes dos 3 anos – fase em que o cérebro da criança tem seu tamanho triplicado – o uso excessivo de smartphones e tablets pode causar distúrbios de aprendizagem e aumento de ansiedade, por exemplo.

“Os institutos da América do Norte – Sociedade Canadense de Pediatria e Academia Americana de Pediatria – apresentam um estudo aprofundado sobre o assunto e consideram prejuízos relevantes o uso excessivo de smartphones e tablets para menores de 12 anos”, completa.

Com que idade os pais podem deixar os filhos entrarem em redes sociais, como Facebook e WhatsApp?

Na entrada da adolescência, quando a criança entra em uma fase em que os amigos são mais importantes. E mesmo na adolescência, cabe aos pais monitorar constantemente as atividades dos filhos na internet. “Orientações antigas cabem aqui: lembrar que assim como não falamos na rua com estranhos, não podemos conversar, mandar fotos ou passar informações pessoais nas redes sociais”, completa Merylin.

Como lidar com o consumismo, estimulado principalmente pelos comerciais de televisão dos canais pagos?  

Além de controlar o período de exposição dos filhos à TV, os pais devem dedicar tempo a eles, fazendo atividades que não envolvam o comprar, como ir ao parque, cozinhar, ler histórias. Doar um brinquedo quando se ganha outro também é um bom exemplo de como lidar com a questão do ter, assim como explicar que ganhar um presente de aniversário e um de Natal já é mais do que suficiente.

“A família precisa se conscientizar de que quanto mais dá, mais a criança vai querer”, explica Verônica. “As famílias hoje têm receio de falar que não podem dar ou de dizer não”, completa. Vale lembrar que casos extremos de consumismo levam à “potencialização da ansiedade, da obesidade infantil e da erotização precoce”, lembra Merylin.

Não há nada de errado em permitir que a criança deseje algo, mas mostre que é preciso fazer merecer para se ter aquilo. Pais que valorizam o trabalho e planejam o uso do dinheiro costumam ser ótimos exemplos. “O mais adequado é mostrar às crianças que antes de gastar o dinheiro é preciso ganhá-lo; choro e insistência nas lojas e shoppings não podem ser o fio condutor da relação entre a família e o modelo de consumir”, enfatiza Merylin.

Qual é a hora certa de dar mais independência ao filho e estimular que ele tenha responsabilidades, como arrumar o quarto e cuidar do cachorro?

É importante, desde cedo, incentivar o filho a contribuir com a rotina da casa. Guardar os brinquedos, tirar o pijama e arrumar a mala são atividades que podem ser absorvidas pela criança desde muito cedo. Até os 6, 7 anos, a memória das crianças é curta e eles obedecem ao que é dito no momento.

A partir dessa idade e até a adolescência, as regras são fundamentais para sua rotina e para que ele possa, aos poucos, se tornar um adolescente que tem noção dos seus limites e que vai conquistar mais liberdade gradativamente. Quando seu filho começar a sair de casa, é importante explicar os perigos da rua e estabelecer regras como horário de retorno para casa. “A independência e a maturidade são construídas durante toda a vida da criança; confiança e diálogo são essenciais para uma relação saudável de descobertas e conquistas”, afirma Merylin.

Como lidar com assuntos como homossexualismo, morte, atentados terroristas – temas que estão mais presentes no dia a dia dessa geração com mais acesso à informação?

Segundo Verônica, é a criança quem deve trazer esses assuntos para dentro de casa. E em um primeiro momento, os pais devem indagar onde ela ouviu aquele assunto e o que sabe sobre ele. É importante que os pais conversem e expliquem mais sobre o tema. E se em casa os pais dão o exemplo de lidar bem com as diferenças –  não fazem piadas racistas e não falam mal dos outros –, a criança vai lidar melhor com assuntos ligados à intolerância, como o homossexualismo e os atentados terroristas.

E como escolher a escola certa para um filho?

A escolha deve ser feita de acordo com a expectativa dos pais, segundo Verônica. Escolas bilíngues, por exemplo, já tem um enfoque maior, desde cedo, no futuro profissional da criança. De qualquer forma, é importante agendar uma visita, conversar com alguém da equipe pedagógica, conhecer o espaço físico. E entender qual é a participação dos pais nessa relação.

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