O agente transformador do Rio Atuba
Existe uma grande diferença entre as pessoas que questionam e aquelas que efetivamente se manifestam para mudar uma situação. Diego Saldanha, de 33 anos, é um dos cidadãos que se preocupam com o meio ambiente e que, voluntariamente, se propôs a transformar o poluído Rio Atuba.
Apaixonado pela natureza desde criança, o vendedor de frutas tem um grande apreço pelo rio que corre próximo ao lar: as águas, ainda limpas, marcaram a sua infância. “Eu aprendi a nadar nele [no rio] e percebi que estava morrendo aos poucos, precisava de ajuda”, relata. Por isso, em 2012 a paixão de Diego foi além e ele fez-se ativista ambiental nas horas vagas.
Essa atitude começou quando se inseriu ativamente na escola do filho, desenvolvendo atividades em prol da natureza. A indignação e tristeza ao ver o Rio Atuba cada dia mais sujo despertou no ativista uma grande ideia: a criação da Ecobarreira. “Falei para meus filhos ‘o pai vai construir uma barreira ecológica e vai tentar trazer uma vida melhor para o rio’ e eles apoiaram a ideia”, explica Diego. E assim o fez, em uma ação totalmente voluntária, em 2017.
Inicialmente utilizando garrafas pet e uma rede, o vendedor de frutas criou uma barreira que impede a passagem do lixo pelo Rio Atuba. O sucesso do protótipo resultou na criação de um modelo mais resistente, agora feito com galões de 25 litros e redes mais sólidas. O desfecho dessa história é a retirada de cerca de 5 toneladas de resíduos do rio, de 2017 a 2020.
“O pai vai construir uma barreira ecológica e vai tentar trazer uma vida melhor para o rio.”
Na peneira dos lixos, os mais diversos achados: carcaça de máquina de lavar, televisão antiga, fogão, embalagens de spray, capacetes entre outros objetos que, definitivamente, não deveriam estar ali. Tudo o que Diego retira do rio é separado e destinado aos lugares corretos — ele inclusive criou um “Museu do Lixo”, onde exibe os itens retirados do rio.
Uma ação brilhante como esta ganharia ainda mais força com o apoio da Prefeitura de Colombo e do Governo do Estado, entretanto, mesmo conhecendo a Ecobarreira, nem um deles procurou Diego para apoiar o projeto. “Eu fico muito triste em ver que a grande maioria das pessoas não está nem aí para o meio ambiente. Mas, de outro lado, fico feliz com o pessoal que está empenhado em mudar essa realidade. Eu acho que estou fazendo parte dessa mudança com as minhas iniciativas”, desabafa o vendedor.
Finalizando nossa conversa, ele deixa uma reflexão importante e necessária: “Os rios são de todos nós, por isso, cada um deve fazer a sua parte, como separar o lixo corretamente, não jogar óleo de cozinha na pia, parar de reclamar dos políticos e agir mais. Cada um faz um pouquinho e assim, chegaremos lá.
*Matéria originalmente publicada na edição #234 da revista TOPVIEW.