Imagens imaginárias
Se eu lhe perguntasse qual parte do seu corpo você mudaria, certamente você indicaria pelo menos uma, não?
Vaidade, insegurança, perfeccionismo, cultura da beleza, exposição excessiva. A verdade é que está tudo dentro do mesmo pacote: as redes sociais. Com a rapidez que a tecnologia evolui, paralelamente – e com a mesma rapidez – surgem os problemas de autoimagem. Segundo o mestre em psicologia Mario Lopes, os filtros utilizados para melhorar a qualidade de selfies e vídeos nas redes sociais são capazes de desenvolver o Transtorno de Disformia Corporal (TDC), adversidade também conhecida como “Síndrome da Feiura Imaginária”, que está relacionada com preocupações excessivas das pessoas com aspectos específicos da aparência física, da imagem.
A doutora em psicologia clínica Natasha Bazhuni, especialista em psicopatologia e saúde mental, esclarece: “a imagem de si, como fenômeno social, influencia o modo como as relações interpessoais se estabelecem. No mundo digital, podemos moldar a imagem que queremos que o outro tenha de nós por meio desses recursos. Eles parecem inofensivos, mas os filtros estão mudando a forma como enxergamos a nós mesmos.”
A tecnologia está aí — e cada vez mais se desenvolve com rapidez e aperfeiçoamento. Ela deve existir para agilizar o dia a dia, encurtar distâncias, otimizar tempo, criar acessibilidade, proporcionar diversão. Devemos nos servir dos recursos sem permitir que sejamos usados por eles! Afinal, a equação é sempre a mesma: equilíbrio, saldo positivo. É preciso saber até que ponto devemos ir. Parece que hoje estamos vivendo sob efeito de filtro e lupa. Explico: vemos jovens com problemas de autoimagem pelas redes sociais, problemas físicos pelo excesso de exercícios e regimes sem necessidade na busca de um “padrão”.
São muitos filtros que estão nos impondo — e sabemos que a lente original não é essa, mas mesmo assim, estamos sendo “abduzidos”. O único filtro que precisamos agora é o que nos fará voltar a ver o real, o original, o autêntico. Aquele que mostra a vida como ela é e nós como realmente somos, com todas as nossas imperfeições.
*Matéria originalmente publicada na edição #261 da revista TOPVIEW.