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Família, o que estamos fazendo com nossos filhos?

Pais superprotetores têm boas intenções, mas criam filhos inseguros e frustrados

Temos nos deparado frequentemente com jovens muito instruídos que dominam mais de um idioma, têm uma agenda comparável à de um grande executivo, possuem inúmeras habilidades, já viajaram o mundo e possuem muita informação, porém, são extremamente frágeis e imaturos. A criação dos filhos precisa de atenção.

Jovens que estão focados somente em demonstrar aos outros o seu sucesso pessoal e como a sua vida é fantástica. Para esses jovens, qualquer indício de frustração é sinônimo de fracasso e prova disso está na atitude do Instagram, que suprimiu as curtidas nas fotos porque seus clientes estavam apresentando sintomas depressivos por não conseguirem ter um número “x” de curtidas em suas postagens.

Uma juventude bonita, inteligente, por dentro das últimas tendências e com a facilidade de ter o que quer e quando quer. Eis o grande problema: a família, o alicerce desses jovens, fragilizou-se.

Tornou-se frágil por acreditar que a “autoridade” que teve de seus pais foi excessiva e que seus filhos não precisam passar pelo mesmo “sofrimento”. Então, conscientemente ou não, mudou radicalmente, tornando-se parte do grupo de amigos dos seus filhos, em que eles sempre encontram admiração incondicional e proteção eterna. Para demonstrar como são importantes, fazem o impossível para protegê-los das frustrações, transformam as crianças no centro do universo familiar, dão a elas tudo o que querem e, muitas vezes, o que nem imaginam. Dessa forma, criamos filhos ansiosos e inseguros, que, se não estiverem no controle de uma situação ou não forem o centro das atenções apresentam um grande sofrimento.

Essas atitudes deram um resultado justamente oposto do esperado: ao invés de jovens felizes e seguros, temos pessoas emocionalmente frágeis, infantilizadas e frustradas. Ao protegermos excessivamente nossas crianças das pequenas adversidades, tiramos sua oportunidade de aprender a lidar com as rotinas aborrecidas e as dificuldades do dia a dia, passando a ideia de que, na vida, tudo é fácil e não precisa de muito esforço. O papel da família é auxiliar o indivíduo a desenvolver a maturidade necessária para identificar, entender e processar os fatos e problemas que fazem parte da existência.

Uma pessoa em equilíbrio precisa saber identificar o que está acontecendo com sua vida e seu ambiente, precisa entender qual é o problema a ser resolvido e o que é simplesmente um fato com o qual terá que conviver. Uma grande parte dos jovens não enfrenta os problemas que deve resolver e vive em conflito contra os fatos que não podem ser alterados. Tudo isso poderia ser amenizado com uma visão mais clara do papel familiar na criação dos filhos. É preciso dar aos filhos a oportunidade de viverem as pequenas frustrações da infância para que aprendam a suportar as grandes dificuldades da vida adulta.

*Matéria originalmente publicada na edição 231 da revista TOPVIEW e escrita por Evelise de Oliveira Brito.

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