SELF COMPORTAMENTO

Desromantizando a velhice

A chegada da terceira idade pode dar início a vários questionamentos, mas é preciso sabedoria para lidar com a situação

Estamos na era do resgate de algumas verdades – o que hoje também chamamos de “desromantizar”, ou seja, ser mais racional diante de alguns assuntos. Romantizamos quando dizemos que um casal recém-casado ainda está em lua de mel. Todos sabemos, ou melhor, quem casou ou quem começa a dividir a vida com alguém sabe como esse período de adaptação
é difícil. Não raro, o casal pensa em desistir.

Romantizamos também a maternidade quando nos tornamos pais e, exaustos, inseguros e estressados, ouvimos que ela é maravilhosa. É sim, mas vamos assumir que é sacrificante, que o investimento de tudo é imenso e que o retorno é para o mundo.

Aí chega alguém e romantiza a velhice dizendo que a terceira – e última – idade é a “melhor idade”. Precisamos desfazer isso também. Afinal, não dizemos que uma bolacha mole do pacote está “na melhor idade”, mas, sim, que está velha. Ou, quando vemos um carro de muitos anos, dizemos que o carro está como? Velho!

Ter uma vida intensa, bem aproveitada, que deixe muitas histórias para contar, é imperativo. Como disse Shakespeare, “a vida é muito curta. Passar esse momento de forma vil seria um desperdício”.

Aproveitando ou não a nossa trajetória por aqui, a idade madura, a “velhice” chega para todos os sobreviventes. Encará-la é a resposta, a arte, a descoberta individual, assunto muito em voga atualmente, pois, graças à ciência, estamos prolongando nossa existência ou protelando nosso fim.

A sabedoria e as conquistas quando chegamos a essa etapa são os prêmios de consolação. Para Simone de Beauvoir, a velhice é a paródia da vida.

Para Platão, sabedoria. Mas como viver a velhice com beleza e dignidade?

Creio que devemos, sobretudo, cultivar nossa autoestima, nossa independência emocional, nossa saúde, espiritualidade e – por que não dizer? – nossa beleza.

A autoestima é a mais importante, pois nos leva a cuidar de todos os outros aspectos. Com ela, desenvolvemos também nossa independência emocional. Com o passar dos anos, os filhos crescem e seguem seus caminhos.

Para que possamos ter uma velhice madura e feliz, não devemos depender dos nossos filhos e netos. Devemos, sim, cultivar hábitos, relacionamentos, espiritualidade e saúde para sermos independentes. A aparência física (beleza) é um aspecto muito individual. Vejo pessoas que a encaram com tranquilidade e naturalidade, outras que o fazem com rejeição e inconformismo.

Hoje, a medicina estética evoluiu tanto quanto – ou até mais que – as outras áreas médicas. A ciência que nos possibilita viver mais também nos ajuda a envelhecer com mais beleza e até a ganhar uns anos a menos. Se, por um lado, queremos ganhar mais anos de vida, por outro, queremos “ganhar anos a menos”. Um antagonismo real. Envelhecer com dignidade é estar muito bem para a idade cronológica, mas isso requer dedicação, investimento de tempo e financeiro – que nem todos querem ou podem fazer. Alguns optam também por deixar a gravidade seguir seu curso.

Seja qual for o perfil e sem romantizar, envelhecer não é fácil para ninguém. Mas, parodiando uma frase de um personagem cubano, eu diria: “Hay que envejecer pero sin perder la ternura y la juventud!”

 

Indicações sobre o tema

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SÉRIE
O MÉTODO KOMINSKY
Onde assistir: Netflix

 

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FILME
A GRANDE BELEZA
Onde assistir: Prime Video

 

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LIVRO
A NATUREZA DA MORDIDA
Onde encontrar: www.amazon.com.br e www.record.com.br

 

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PODCAST
ENVELHECER COM SAÚDE
Onde ouvir: Spotify

 

 

*Matéria originalmente publicada na edição #272 da revista TOPVIEW.

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