Better have my money
Hortênsia azul, dinheiro frio divino
Casimira, colônia, e o brilho branco do Sol
Carros de corrida vermelhos, cruzamento da Sunset e Vine
As crianças eram jovens e bonita
É assim que a música Old Money, da cantora Lana Del Rey, começa. O estilo vintage rico também pode ser percebido em outro clipe de música: Blank Space, de 2014, da cantora Taylor Swift. Com quase 3 bilhões de visualizações no YouTube, o vídeo exalta mansões de campo, passeios a cavalo, roupas elegantes, carros vintage e tacos de golfe. E não é só na música que a estética chamada old money está presente. Na verdade, ela vem dominando a cultura pop.
Conhecido por ser um estilo associado a herdeiros, títulos de nobreza e dinheiro, o old money permeia o imaginário coletivo sobre as aristocracias, das mais antigas, como no sucesso estrondoso Bridgerton, até as modernas, como retratado nas famílias do seriado Gossip Girl.
Recuperando a feminilidade dos anos 1950 e 1960, a estética, no quesito vestuário, busca inspiração em casas de campo, country clubs, esportes como hipismo, polo e golfe e até em colégios – derivado do termo “Preparative School”, o preppy é o estilo tipicamente usado em colégios particulares internos norte-americanos e britânicos.
Marcas ligadas a esportes de elite, como Polo Ralph Lauren e Lacoste, são predominantes quando se fala de old money. Somado a isso, camisas sem logotipos chamativos, blazers, ternos sob medida, broches antigos, saias midi e tênis “sofisticados” são algumas das peças que permeiam a moda vintage rico.
Segundo o professor de História da Moda da Fundação Armando Alvares Penteado João Braga, o old money é uma resposta à “sociedade do espetáculo”. Ou seja, uma corrente antagônica à moda midiática de ostentação em que “visualmente percebe-se que valoriza coisas mais seguras, duradouras e menos espetaculosas”. O professor também comenta que, apesar de o termo old money estar em voga, o culto ao clássico não é novidade. O movimento Dandista, do século XVIII, negava enfeites e valorizava uma roupa mais discreta. Já o mais atual Quatrocentão veio para definir as famílias antigas e tradicionais de São Paulo. “A moda sempre volta para o passado. Como Paul Valéry disse uma vez, ‘Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir´. Antes de ser uma postura de moda, ser old money (ou neodândi) é algo comportamental”, reflete Braga.
O old money e a Gen Z
Por meio da cultura pop, o que é tido como mais conservador – com cores mais sóbrias e roupas mais “comportadas” – acabou caindo no gosto da Geração Z. Só no Instagram, a hashtag #oldmoney soma mais de 213 mil resultados, entre fotos, vídeos e reels. Já #oldmoneyaesthetic tem 21,8 mil conteúdos publicados.
Um dos jovens que aderiu à estética old money é o estudante de Publicidade e influencer Gabriel Cersosimo. O jovem conta que tem seu Instagram desde os 11 anos, e, hoje, acumula 36,7 mil seguidores e mais de 100 mil no TikTok. Entre os conteúdos mais compartilhados do influenciador, estão dicas de looks e vídeos no estilo “arrume-se comigo”. “Conheci a expressão old money pelo TikTok e começaram a aparecer referências para mim, devido ao algoritmo. Acho um estilo bem chique e descomplicado, é bem europeu. Sempre gostei de peças mais clássicas”, comenta Cersosimo.
E, como tudo na internet, o old money também não foi poupado de receber críticas. Buscando ir contra o new money, ou os “novos ricos”, o old money é muitas vezes acusado de repercutir estereótipos de futilidade e apoio às velhas tradições. Porém, na opinião de Cersosimo, hoje qualquer pessoa pode ser old money, mesmo não fazendo parte dessa realidade: “Existem fast fashions e e-commerces que vendem este tipo de peça. A tecnologia tem um papel bem grande em democratizar o estilo.”
Old + New
Apesar de o old money ter sua grande inspiração no clássico, isso não significa que as peças não possam ser revisitadas para ganhar cortes, volumes e tendências mais atuais. “É uma postura vintage, não uma roupa vintage”, comenta Braga.
“Itens como o blazer cropped, por exemplo, não existiam. Mesmo sendo clássico, as marcas conseguem repaginar o old para as tendências do momento”, finaliza Cersosimo
*Matéria originalmente publicada na edição #260 da revista TOPVIEW.