SELF COMPORTAMENTO

Além do currículo

Como a educação se adapta para preparar pessoas em todas as dimensões

Tente, por um momento, lembrar das suas memórias mais importantes da época de escola. Elas são relacionadas aos seus amigos, experiências diferentes ou às matérias que você estudou? Pois bem. Ao longo da formação, as competências técnicas e curriculares são apenas uma parte do que as crianças e adolescentes se tornarão quando adultos. 

LEIA TAMBÉM: Educação Inovadora! Veja como alguns países estão redefinindo a aprendizagem

E é preciso pensar em todas as dimensões da educação, que incluem habilidades socioemocionais, em empreendedorismo, para inclusão e em outras dimensões o quanto antes. Essa demanda, no entanto, não é nova.

Jean Piaget, um dos pensadores mais importantes do século XX, defendia que a educação é essencial para formar seres humanos completos. Segundo sua teoria construtivista, o processo educacional deve envolver experiências que permitam aos indivíduos construírem seu próprio entendimento do mundo. A aprendizagem significativa ocorre quando os estudantes enfrentam desafios e interagem com seu ambiente, estimulando seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social.

Maria Emília Rodrigues, mestre em sociologia e professora no Centro Universitário Internacional Uninter, explica que existem dois tipos principais de educação. A educação primária vem da família e dos responsáveis pela criança, como se vestir, comer, valores culturais, entre outros aspectos necessários para “sobreviver em sociedade”. Já a educação secundária se refere ao aprendizado formal em instituições de ensino.  

O convívio familiar, em ambientes de socialização fora de casa e com as mídias são os contextos que contribuem para formação. O ensino integral é, segundo Maria Emília, “Uma obrigação compartilhada entre escola, família, sociedade e governo, mesmo que, por lei, a escola precise formar as pessoas para não só oferecer conhecimento científico mas criar pessoas críticas”, assegura. 

Da teoria para a prática

Para o doutor em educação Saulo Pfeffer Geber, responsável pela PUCPR Acolhe, um setor de apoio estudantil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, “as necessidades da educação vão sendo construídas e alteradas pelas exigências do mundo, que muda cada vez mais rápido”. Por isso, é importante que as instituições de ensino estejam cada vez mais próximas da sociedade, de políticas públicas, mídias sociais, necessidades ambientais, sociais econômicas, entre outras.

Na prática, o currículo está deixando de ser atrelado aos conteúdos para se debruçar nas competências desenvolvidas ao longo da formação, segundo o especialista, em um momento muito mais horizontal da educação, ou seja, com maior interação entre quem ensina e aprende. “Outro elemento é a criação de serviços ou áreas de apoio estudantil que vão além da sala de aula, como campanhas, ações extensão, interação, voluntariado…” explica Geber.

Dimensões da educação

Empreendedorismo, inclusão, inteligência emocional e tecnologias. O mundo exige cada vez mais habilidades e em diferentes áreas. Convidamos quatro especialistas para compartilharem suas visões sobre cada um desses temas e sua importância na formação integral. 

Além do Currículo

Tecnologias ampliam oportunidades de inclusão na educação

Vivemos em uma sociedade altamente tecnológica, em que dispositivos e telas estão pulverizados pelos espaços – e esses dispositivos não são apenas entretenimento. Muitos são ferramentas importantes na inclusão e na transformação de vida de pessoas com deficiência. 

A possibilidade de se usar um leitor de tela, digitação falada, uso de acionadores para navegação e escrita ou traduzir termos em LIBRAS por um avatar virtual pode ser um detalhe na confecção de um site para uns. Porém, são condições sine qua non de acesso para outros. 

(Foto: Annie Spratt | Unsplash)

Essa modernização revolucionou a maneira como as pessoas com condições atípicas acessam e interagem com o mundo, comunicam-se, aprendem e trabalham. Com soluções inovadoras, o uso de tecnologia assistiva e acessível promoveu acesso, quebrou barreiras e possibilitou que pessoas com deficiência levem vidas plenas. 

A acessibilidade na tecnologia se configura como um direito fundamental e um pilar crucial para a inclusão social e o desenvolvimento integral desse público. 

Ainda vemos que muitas barreiras existem no ambiente virtual. Barreiras de acesso físico ou informacionais e comunicacionais, como falta de conteúdo audiovisual com legendas e texto alternativo ou plataformas de comunicação online que não oferecem recursos de acessibilidade, resultando no impedimento de uma participação autônoma, que gera inclusão e até oportunidades infindas de crescimento pessoal. 

Promover acessibilidade com tecnologia é crucial para garantir que todas as pessoas tenham igualdade de oportunidades e acesso à tecnologia.

Doug Alvoroçado (Foto: arquivo pessoal)

Doug Alvoroçado é Consultor Pedagógico da Inicie, Pedagogo, Professor, Mestre em Ensino de Educação Básica, Pós-graduado em AEE com experiência em Surdez, TEA e outras deficiências, Intérprete de LIBRAS, Professor Orientador no PEJA, Professor de TIC’s e Mídias Digitais. 

Além do Currículo

Como a educação deve incorporar tecnologias digitais?

Inteligência artificial, algoritmos, fake news. Estes são alguns dos temas que temos visto popular nos noticiários recentemente. Todos permitem discutir os inúmeros benefícios que as tecnologias emergentes podem nos trazer, mas também os novos desafios sociais e éticos que teremos que enfrentar.

Entre o fardo e a bênção das tecnologias, para parafrasear a pesquisadora Martha Gabriel, temos nos perguntado qual é o papel da educação, como ela deve incorporar as tecnologias para formar integralmente crianças e adolescentes. Como preconiza a Base Nacional Comum Curricular, a cultura digital é uma das dez competências a ser desenvolvida na educação básica. 

(Foto: shutterstock)

Desde a educação infantil até o ensino médio, os estudantes precisam vivenciar experiências de letramento digital, isto é, que lhes permitam desenvolver habilidades digitais para interpretar, administrar, compartilhar e criar num mundo conectado como o nosso.

Isso abrange, por exemplo, ser capaz de se comunicar por diferentes meios; de ler e interpretar textos multimídia; de navegar pela web e fazer pesquisas eficientes, de filtrar informações, verificar a confiabilidade das fontes e respeitar direitos autorais; proteger sua identidade pessoal, evitando exposições e golpes; compreender como operam as redes sociais e participar nelas a serviço de metas pessoais ou coletivas; programar, entre outras habilidades importantes.

Como fazer isso? Formando primeiro os professores e oferecendo-lhes repertório para que possam, em suas áreas de conhecimento e disciplinas, incorporar de forma contextualizada muitas dessas práticas.

Fernanda A. do N. Alves (Foto: arquivo pessoal)

Fernanda A. do N. Alves é doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp (2014), já foi professora da educação básica, do ensino superior e atuou no mercado editorial.

Além do Currículo

Educação socioemocional: fundamental para formação integral e transformações sociais 

Nós somos seres sociais e nos relacionamos a partir das nossas emoções, sentimentos e sensações. Desde o momento em que nascemos até a nossa última expiração, estaremos o tempo todo nos relacionando conosco, com outras pessoas, com outros seres e até mesmo com a natureza e o ambiente à nossa volta.

Diante da dimensão deste tema, você não acha estranho que toda a nossa educação, até pouco tempo, tenha sido pautada em ensinar sobre coisas externas e nunca tenha nos ensinado sobre nós mesmos? Sobre como podemos reconhecer nossas emoções e lidar de forma mais saudável e equilibrada com elas? Sobre como desenvolver autoconhecimento e autorregulação emocional pode nos ajudar a ter relacionamentos mais saudáveis e fazer melhores escolhas para nós mesmos e para a sociedade na qual estamos inseridos?

(Foto: Yuganov Konstantin | Shutterstock)

Pois bem, a educação socioemocional, que hoje está em destaque nas mídias e faz parte do currículo escolar, trata justamente de um processo de aprendizagem que visa o desenvolvimento humano integral, ensinando habilidades e competências que vão muito além do conhecimento cognitivo, também conhecidas como soft skills.

A educação socioemocional tem impacto altamente positivo em nossas vidas, pois promove o autoconhecimento, a autorregulação emocional, a consciência social e desenvolve habilidades de relacionamento e a tomada de decisão responsável, fazendo com que possamos nos relacionar melhor conosco mesmo e com o mundo ao nosso redor.

O desenvolvimento destas habilidades e competências é fundamental não só para o sucesso acadêmico, mas para o sucesso pessoal de uma vida plena e feliz. Pesquisas mostram que quando estas habilidades são devidamente trabalhadas na vida acadêmica há um aumento no rendimento escolar e prevenção de bullying.

No campo pessoal, já existem dados científicos que comprovam que pessoas que desenvolvem essas habilidades estão menos propensas a sintomas de depressão e ansiedade. 

No âmbito profissional, podemos afirmar que pessoas com altas habilidades socioemocionais têm melhores índices de empregabilidade, maior tempo de permanência nos seus trabalhos, são as pessoas que ocupam as posições mais altas nos cargos de gestão e as que têm maiores índices de aceitação e aprovação entre seus colegas.

Como podemos ver, não é por acaso que o conceito de Educação 5.0 (que chegou para substituir a educação 4.0, até então pautada no uso da tecnologia para o ensino), coloca a educação socioemocional como a principal ferramenta não só para preparar as pessoas para o mercado de trabalho, mas sim para serem agentes de transformações efetivas na sociedade.

Patricia Franco (Foto: arquivo pessoal)

Patricia Franco é doutora em Ciências da Saúde e especialista em Reabilitação (UNIFESP) e graduada em pedagogia e fisioterapia. Tem formação como Mindful Educator. É especialista em Neurociência, educação e desenvolvimento infantil (PUC-RS) e certificada em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano (PUC-RS).

Além do Currículo

Habilidades empreendedoras: dos negócios ao cotidiano mais próspero 

Nem tudo do universo do empreendedorismo se resume a um novo negócio, a uma nova empresa. Acredito que isso seja apenas uma consequência de todo um mindset que é requisitado em diferentes situações do dia a dia. Empreendedores precisam constantemente inovar e encontrar soluções para desafios complexos, e essas capacidades são transferíveis para diversas outras situações, tanto na vida profissional quanto na pessoal. 

Um funcionário que consegue pensar “fora da caixa” pode propor melhorias nos processos ou desenvolver novas soluções que agreguem valor ao seu trabalho, por exemplo. Uma mãe ou um pai pode ter grandes êxitos ao conseguir trabalhar com a criatividade diante dos desafios que a parentalidade acaba por trazer.

(Foto: LinkedIn Sales Solutions | Unsplash)

Habilidades como resolução de problemas, pensamento crítico e criatividade nos trazem muitos ganhos, para além do desempenho profissional. Por isso, no Grupo Educacional Bom Jesus essas habilidades são trabalhadas desde cedo. Realizamos  ações e atividades que provocam o desenvolvimento dessas skills já nos primeiros anos do Ensino Fundamental, que são progressivamente ampliadas com o passar das fases escolares, chegando à graduação na FAE Centro Universitário e à pós graduação na FAE Business School.

Esse tipo de estímulo é particularmente relevante em contextos de crise, em que a habilidade de manter a calma e encontrar soluções práticas é inestimável. E, nada melhor do que ter sido quase que naturalmente estimulado durante toda a vida para conseguir racionalizar, não se desesperar e tomar decisões interessantes diante dos desafios.

Com certeza, pessoas que estão preparadas para enfrentar mudanças não planejadas e se adaptar rapidamente tendem a se destacar e prosperar. Essa resiliência é imprescindível para superar obstáculos  e crescer. A capacidade de se adaptar e de conseguir persistir diante das adversidades encurta o caminho para o sucesso e para a felicidade.

O desenvolvimento de todas essas habilidades e competências provoca um ganho inestimável e é por isso que insistimos no aprimoramento da formação em nossa comunidade. Pessoas com mentalidade empreendedora estão sempre buscando aprender e melhorar, independentemente da vontade de abrir um novo negócio.

Eros (Foto: arquivo pessoal)

Eros é pró-reitor de Administração e Planejamento da FAE Centro Universitário Responsável pelo Marketing e Tecnologia no Grupo Educacional Bom Jesus.

*Matéria originalmente publicada na edição #289 da TOPVIEW.

Deixe um comentário