A vaidade na infância

A psicóloga Isabela Fenato Fernandes Hasse fala um pouco sobre a relação das crianças com a vaidade. Confira a matéria de Micheline Klein

01/06/2021

por André/Micheline Klein

Em 2012, a Anvisa atualizou a legislação que regulariza a utilização de cosméticos por crianças. De acordo com o órgão, os pequenos devem utilizar apenas produtos infantis, afinal, são elaborados respeitando as necessidades específicas da faixa etária. A partir dos três anos, por exemplo, batons e brilhos labiais já são permitidos aos caçulas, desde que aplicados por adultos. Isso nos apresenta uma questão muito importante: a vaidade durante a infância. Para refletir um pouco sobre esse ponto — e quais consequências ele pode trazer — conversei com a psicóloga Isabela Fenato Fernandes Hasse. Confira:

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Quando a vaidade excessiva dos pais impacta negativamente a vida da criança?

Podemos pensar em quais valores estão sendo estabelecidos pela família. Como são e quais são seus valores de base? Ou seja, estar com a melhor roupa, melhor carro, melhor casa, ser a pessoa mais legal, ter o sapato da moda, o brinquedo que acabou de lançar, é o que importa? Não é ensinado nesse contexto a ser leve, mas ser altamente exigente consigo mesmo. Pode ser que, vivendo dessa forma, e tendo esses modelos iniciais, essas crianças cresçam com a ideia de que o que importa é ser invejado.

Quando a vaidade infantil se torna preocupante?

Qual menina nunca colocou um salto da mãe, passou um batom vermelho e ficou de frente ao espelho fazendo poses? Num primeiro momento, essa é uma situação divertida e de descoberta, porém, se torna séria quando a criança só sai de casa se estiver usando batom, com a roupa e os calçados da moda. Quando ela passa a se preocupar e a vivenciar constantemente como quer ser vista pelas pessoas, ou começar a fazer coisas que não são compatíveis com sua idade, um alerta precisa ser acionado. É um sinal de que algo pode não estar caminhando como deveria.

Até quando é saudável que as crianças imitem os adultos?

Elas imitam os adultos o tempo todo. Seja fazendo lives, como se vestem, se comportam, se sentam, se cuidam, conversam. Por exemplo: quando os pais colocam suco de uva em uma taça para a criança quando estão tomando vinho: qual é a mensagem que pode ser internalizada? Talvez de que beber seja um status? Beber é legal? Dependendo de como for essa imitação, não será funcional para a criança.

Como os pais podem lidar com a vaidade dos filhos?

Uma criança não consegue comprar coisas por conta própria, ela precisa de um adulto para fazê-lo. Nesse caso, cabe aos pais estabelecerem os limites que consideram necessários para a educação dos seus filhos. É importante que os pais conversem com seus filhos, que os estimulem e estejam presentes em cada fase das suas vidas e que seja ressaltado que aparência não é tudo e que cada pessoa tem sua individualidade, seus gostos, habilidades, cor de cabelo, cor dos olhos, biotipo.

Vale a pena incentivar a vaidade das crianças?

A vaidade propriamente dita, não. É válido incentivar as crianças a gostarem de si mesmas, estimulando assim sua autoestima, validando o que a criança sabe fazer, do jeito dela, e reforçando suas habilidades, sem compará-la a ninguém.