A nossa mãe terra
Nossa sobrevivência está na força da terra. Está nas mãos calejadas dos agricultores, que percebem a terra como uma mãe entende o olhar de um filho. Na agricultura, a força está no solo, que recebe a semente assim como o útero acomoda e desenvolve um embrião. Saber o valor das raízes, tanto no sentido estrito da palavra quanto no figurado, é honrar a vida e o legado recebido por nossos ancestrais, sejam eles nascidos aqui ou mundo afora. Deixar sua terra é cortar o cordão umbilical, arrancar drasticamente uma raiz do solo. Difícil fazê-lo por outros motivos que não sejam voluntários!
Partir da sua terra para realizar seus sonhos e perseguir objetivos requer vontade, coragem e desprendimento, porém ter que deixá-la por medo, levando muito pouco na sacola e muita tristeza no coração, é abortar do ventre a criança esperada! A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) informou, em meados de 2021, que em decorrência de conflitos, violência, violações dos direitos humanos, perseguições e desastres naturais, o número de deslocamentos forçados em todo o mundo ultrapassou 84 milhões de pessoas. É como se toda a população da Turquia tivesse que deixar o país em menos de um ano. Não por opção, mas por sobrevivência. Não à toa, o nome refugiados vem de refúgio – aquilo que serve de amparo, de proteção.
A Ucrânia convida as mães dos soldados russos capturados para buscarem seus filhos e levá-los de volta a sua terra, sua pátria, suas mães/raízes. Para os que optam por uma guerra, certamente esses e muitos outros valores estão distorcidos por conta de interesses destrutivos, egoístas, soberbos e desumanos.
A mãe que vê um filho partir para guerra – e a outra que tem que partir com seus filhos da sua terra – é como um fruto arrancado na estação errada. Um parto prematuro! Fazer guerra é cobrir o solo com erva daninha: nada de bom germinará.
3 livros para refletir sobre o assunto
Raiz e fruto
Steve Lawson
Raízes do Brasil
Sérgio Buarque de Holanda
Torto Arado
Itamar Vieira Junior
*Matéria originalmente publicada na edição #260 da revista TOPVIEW.