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Luxo é consumir a nossa terra, por Manu Buffara

Manu Buffara é chef do Restaurante da Manu e do 4Sí Brasserie

Há pouco mais de cinco anos, quando tratávamos de luxo na gastronomia, partíamos, inevitavelmente, para culturas gastronômicas internacionais, principalmente as europeias. “Chique” era frequentar, por exemplo, um restaurante francês. Nossos produtos e tradições passavam despercebidos. E quando falávamos em alta gastronomia era impossível fazer alguma ligação com as tradições brasileiras.

Com o passar dos anos, a intensa profissionalização do segmento da gastronomia e a existência de chefs cada vez mais capacitados formaram um público consumidor exigente e que preza principalmente pela qualidade, sem se deixar influenciar por modismos ou pelo senso comum. Foi a partir desse momento que os “artistas” da culinária e os empreendedores perceberam que é possível valorizar nossas raízes na cozinha, utilizando produtos e técnicas regionais.

Hoje, encontramos produtos da nossa terra nas panelas dos restaurantes mais premiados do Brasil. Alex Atala, por exemplo, ganhou o mundo apostando nesses diferenciais da rica gastronomia brasileira. No Paraná, esses conceitos demoraram um pouco para serem abordados, mas estão ganhando espaço, fortalecendo a cadeia produtiva e a nossa cultura gastronômica.

Trazendo essa nova realidade para o meu trabalho, viajo pelo Estado do Paraná buscando novos produtos, que são testados e, quando aprovados, adicionados ao cardápio dos meus restaurantes. Em nossa terra, podemos encontrar sabores maravilhosos, entre eles diferentes tipos de bananas; peixes frescos; legumes e vegetais orgânicos; méis de inúmeras espécies de abelhas; cogumelos; carnes de suíno e de javali; queijos coloniais; e uma grande variedade de frutas.

E é assim, mesclando as principais técnicas da gastronomia com produtos regionais que conseguimos criar preparos exclusivos, comprovando que a alta gastronomia está ao alcance de todos. Devemos nos orgulhar da nossa cultura, valorizando nossa gente, que ama o que faz. Parafraseando o mito Paulo Leminski, ao querermos fazer da nossa gastronomia aquilo que ela é, vamos levá-la além. Precisamos reconhecer nossas raízes e as nossas qualidades. Isso é nobre. Isso é luxuoso!

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