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Ações que enriquecem a alma

Consultora em impacto social relata como evento internacional serviu de motivação para combater o coronavírus no Brasil

E se você chegasse em Paris, no Grand Palais, para o maior evento de inovação e impacto social do mundo, que reuniu 28 mil pessoas, para passear por estandes, escutar palestras, ter reuniões sobre moda, gastronomia, agricultura, mobilidade, limpeza de oceanos, energia limpa e renovável etc. Isso tudo juntando jovens, empreendedores e as maiores empresas do mundo? Como você acha que seria?

Um pouco do que vi, para te inspirar:

– papel feito à base de resíduos da construção civil, sem derrubar árvores;
– jeans feito a partir da reciclagem de outras calças, com zero emissão de CO2, menor uso de água e sem tintas tóxicas; que você pode comprar a calça ou alugar – e qualquer reparo é feito por conta da empresa;
– diamantes fabricados em laboratórios, eliminando risco de subemprego;
– tênis feitos a partir de pneus reciclados, ou talks que mostraram o que o futuro da moda circular é que os tênis serão compostáveis;
– o empreendedor europeu considerado o melhor de 2019, com 25 anos de idade, falando sobre sua solução de baixo custo capaz de limpar oceanos e rios;
–  um hambúrguer feito à base de plantas, com sabor inacreditável (sim, eu testei!);
– uma iniciativa que transforma qualquer pessoa em empreendedor reciclando plástico, transformando em objetos de design;
– um aplicativo que escaneia os alimentos que você quer comprar, ou cosméticos, e apresenta a composição, reviews, qualidade;

Essa enxurrada de informação que adquiri no “Change Now Summit”, com tanta inspiração, me fazia ter vontade de morar lá. A energia de estar em um lugar que mostra tantas possibilidades de resolver os problemas complexos que temos, através de inúmeras iniciativas em todos os ramos, de indústria a serviços, do mundo inteiro, é indescritível.

Lá, revivi a sensação de quando descobri o universo de empreendedorismo e inovação social que me fez mudar de carreira enquanto economista, sair do mercado financeiro, há seis anos. A minha motivação é de criar uma economia em que este tipo de negócio prospere; encontrar soluções, usando mecanismos de negócios.

Voltei ao Brasil em um dos últimos voos antes das fronteiras fecharem, em meio à pandemia do Coronavírus, que me fez mudar os planos de morar fora. Aquele universo de pessoas reunidas, pensando e debatendo como criar soluções, obviamente, teve forte impacto em mim. Estava decidida que minha volta teria que ser produtiva, que eu precisava fazer algo para ajudar a controlar a situação, evitar que a ela chegasse onde chegou, aproveitar que o início no Brasil foi tardio.

(Foto: arquivo pessoal).

Depois de muito pesquisar nas redes que faço parte, descobri uma iniciativa criada a partir da comunidade tecnológica portuguesa, que rapidamente se uniu, entendeu a demanda da sociedade, os desafios do governo, e criou diversas formas de mitigar os efeitos da COVID-19. A ideia era “crescer mais rápido que o vírus”. Um dos projetos, em particular, me chamou a atenção: Rooms Against Covid. Ofertar acomodações temporárias aos profissionais da saúde e da linha de frente no combate ao coronavírus, pessoas que têm que sair de casa para salvar vidas e que, voltando para casa, põem em risco a saúde de seus familiares e amigos.

Retribuir justamente àqueles que nos salvam, diminuindo o risco de contágio, estimulando a solidariedade, usando a tecnologia. Amei a ideia, convicta de que o sucesso em Portugal era indicador que deveria seguir em frente. Resolvi me propor a trazer ao Brasil, começando por Curitiba, nos próximos dias. Estamos conseguindo apoios incríveis, incluindo do Beto e da OAK. Mas podemos ir muito além. Vamos adorar somar forças, apoios, parcerias! 

Quando a gente se envolve em iniciativas solidárias, é impressionante a quantidade de conexões, contatos, inspirações, energia positiva que circula. Parece que muito conspira para dar certo. E era o que eu mais precisava sentir, especialmente estando “presa” em casa.

E se a gente trocar o foco dos problemas para conversar sobre as soluções? Em época de quarentena, poder ajudar significa muito mais do que nos sentirmos úteis: é um gesto que faz sentirmos que estamos conectados, mesmo que fisicamente distantes; e é o tipo de ação que enriquece a alma, que nos leva a ajudar a construir o tipo de país que queremos, que sonhamos. Ele existe – e está bem vivo.

*Coluna originalmente escrita por Nastássia Romanó, convidada de Beto Cesar, e publicada na edição #236 da revista TOPVIEW.

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