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PAPAI EM DOBRO: A história do curitibano que cuida sozinho dos dois filhos

Com o Dia dos Pais se aproximando, nada melhor do que contar boas histórias de pais que servem de exemplo, né?

Com frequência, eu tenho trabalhos durante a noite ou nos finais de semana. E é comum me perguntarem: “Quem ficou com as crianças?”. Eu respondo: “Ué, o pai!”. E a pessoa continua: “Mas ele se vira bem?”. Eu confirmo: “Acho que se vira melhor do que eu”. 

O Dia dos Pais está chegando e é uma ótima oportunidade para debater o papel dos homens na criação dos filhos. Para contar um pouco da rotina de ser pai, conversei com o Ton Kohler, um publicitário de 39 anos que ficou viúvo há 1 ano, e cuida dos pequenos Pedro, 4 anos, e Mariana, 2 anos. Ele criou o perfil Papai em Dobro nas redes sociais para compartilhar um pouco dessa experiência.

Confira a entrevista com Papai em Dobro

Dani Sommer: Qual o objetivo do @PapaiemDobro?

Ton Kohler: Desde o falecimento da mamãe dos meus filhos, eu fui acometido de uma força maior, que eu deveria fazer algo positivo com aquela difícil experiência que estávamos vivendo. No quarto dia após o falecimento, eu tive uma certeza ainda maior, ao contar para as crianças que a mamãe não voltaria. Foi mega difícil e aí sim eu descobri o que eu poderia fazer. Um dos meus propósitos de vida desde então é compartilhar essas histórias e contribuir com pessoas que estão passando pela mesma dificuldade. 

O objetivo foi ganhando corpo e comecei a perceber um número gratificante de pessoas que passaram a dar depoimentos de como eu as estava ajudando. Algumas acometidas de depressão, síndrome do pânico e desânimo elevado. Outro grupo de mães que percebem que os pais devem ser mais participativos, ajudando desde organização da casa até a educação dos filhos. E um terceiro grupo, o menor, de pais que querem ser papais melhores para seus filhos e veem a maneira que lido com a minha rotina como uma inspiração. O objetivo central do projeto Papai em Dobro é transformar o mundo através da paternidade, criar um mundo mais igualitário, mais preparado emocionalmente e mais justo para novas gerações. 

Os maiores casos de suicídio são registrados entre os homens. Por quê?! Porque homem não pode falar o que sente, homem que comenta seus sentimentos é julgado como medroso ou covarde. 

DS: Como é seu dia a dia com as crianças? Já que, na maioria dos casos, tarefas como banho, comida, fralda, roupa e ver a agenda da escola, são feitas pelas mães?

TK: A maioria dessas tarefas são feitas exclusivamente pelas mães, porém, não deveriam, concorda? Minha rotina é pesada mas tento fazer tudo com muita tranquilidade, independente do que temos que fazer é sempre feito com conversa e participação dos dois. Pois essa não é a minha rotina e sim, a nossa. Isso contribui para que eu seja menos autoritário.

Trabalhando em uma multinacional e criando duas crianças sozinho, preciso gastar um tempo com o planejamento das coisas. Primeiro, as comidas são feitas em quantidades e congeladas para o uso durante a semana. Um dia faço o feijão suficiente para alguns dias, outro dia uma carne moída, e sempre cozinho um carboidrato como arroz ou massa na hora, pois esse é mais rápido. As roupas são lavadas dia sim e dia não e preciso manter sempre umas mudas reservas. Agendas da escola, presentinhos, essas tarefas são desenroladas no dia a dia mesmo, um dia peço para minha mãe comprar presentinhos e, às vezes, saio na hora do almoço no trabalho para comprar. Os avós maternos levam eles para escola, no final da manhã, enquanto isso, minha mãe vai todas as manhãs para minha casa e fica com eles até que o os avós maternos cheguem.

Um fato que sempre comento com as mães é que elas precisam estimular os papais a participarem dessa rotina e não, desestimular. As mulheres cresceram sendo preparadas pelas mães a fazerem as coisas da casa, os homens não! E no início, é lógico que nós, homens, teremos mais dificuldades pois não praticamos isso desde a nossa infância. Muitas mulheres não têm paciência com isso e dizem, por exemplo: “Se for pra ajudar desse jeito, deixa que eu mesma faço”.

DS: Que situações engraçadas você já viveu sendo papai em dobro?

TK: Inúmeras, como ter que entrar em banheiro feminino e discutir com mulheres por ter invadido. Mas vivo muitas histórias amorosas também, como os dois cuidando um do outro.

DS: Como a paternidade mudou a sua vida?

TK: Comento sempre que da gravidez até os primeiros três meses de vida do seu filho, passa-se apenas um ano. É uma mudança radical de vida em um tempo muito curto. Mesmo que você esteja preparado, é um choque e é preciso abrir mão das coisas. Eu demorei a entender essas mudanças de estilo de vida no primeiro filho. Com a Mariana, que veio 2 anos e poucos meses depois, foi mais fácil, porém, o trabalho aumentou. Tudo vai se encaixando na rotina com o tempo, você deita na cama mais cansado, faz menos coisas para si, mas vê no desenvolvimento deles a recompensa. Antigamente, era tudo divido por igual na rotina com eles, agora faço 80% sozinho e outros 20% tenho ajuda dos avós.

DS: E como a morte súbita da sua esposa mudou seu pensamento de pai?

TK: Um dia recebi um telefonema da academia, fui correndo ver o que havia acontecido. Foi difícil ver e viver tudo isso mas, ao mesmo tempo, isso me transformou, na verdade eu busquei essa transformação. Durante minha vida nunca imaginei influenciar pessoas através da paternidade ou da força da superação. Mas, de repente, encontrei essa força em mim que eu não sabia que existia. Eu precisava criar um ambiente mais saudável possível para que as crianças crescessem bem, então, comecei a analisar passo por passo que eu dava, percebi que estava indo muito bem. Procurei ajuda de especialistas, como psiquiatras e psicanalistas, e todos dizem que eu estava acima da média com o amadurecimento da perda, mas eles geralmente esqueciam que eu tinha dois terapeutas em casa me ajudando, o Pedro e a Mariana. O amor pelos filhos me ajudou a ser forte, bater no peito e dizer que seríamos vencedores. O dia a dia traz sim algumas lembranças difíceis, ainda correm lágrimas, mas a vontade de viver feliz e com a mente positiva é mais presente. 

DS: É diferente criar menino e menina?

TK: Ambos dão trabalho, mas a diferença está em algumas características. O Pedro gosta mais de atividades físicas, aventuras. Já a Mariana, mesmo sem referência feminina em casa, é muito vaidosa. Trocar ela é bem mais difícil, a combinação das roupas, os acessórios, tive que aprender a arrumar o cabelo. 

DS: Como era a sua relação com seu pai?

TK: Meu pai foi muito ausente, nunca foi em reunião de escola, nem me ver jogar futebol, nunca passou a mão na minha cabeça e não ajudava a minha mãe em casa. Por isso mesmo, foi o meu melhor professor. Se ele fosse diferente, talvez eu não fosse um pai tão bom hoje para meus filhos. Me ensinou às avessas. Eu sou o resultado da falta que meu pai fez. Transformei essa ausência em presença para meus filhos. Eu faço tudo. Quando minha esposa era viva eu já fazia, desenhava, passeava, cozinhava. Depois, minha atenção ficou muito maior. Desde lavar roupa até educar, eu não terceirizo. E quando o Pedro chora, eu sei que tem algum motivo, tenho que agachar, olhar nos olhos dele e conversar. 

O recado que eu daria a outros pais: olhe nos olhos dos seus filhos, ensine o que é sentimento. Homem chora, homem brinca de boneca, fala dos seus sentimentos. Homens e mulheres podem fazer muita coisa que o mundo machista proíbe. Que tipo de cidadãos estamos construindo hoje como pais? Ser pai é ir além. 

DS: Que presente você gostaria de receber no Dia dos Pais?

TK: Tempo com eles. Mas tempo de qualidade, brincar juntos sem se preocupar com o trabalho que tenho que fazer, com a louça na pia…

Gostou da entrevista e quer acompanhar a rotina do Papai em Dobro? Fique de olho no Facebook, Instagram e Youtube para não perder nada!

DICA DA SEMANA:

O uFrog é a dica de Dani Sommer para o dia dos pais.

E já que o tema é Dia dos Pais, nossa dica é o calçado antiderrapante em neoprene uFrog tal pai tal filho. São diversas opções: estampas coloridas, lisas, quadriculadas, e até dá para encomendar a estampa de preferência e fazer para toda a família. É ideal para atividades físicas e para aquecer os pés no dia a dia.

Sobre a autora
Eu sou a Danielle Sommer, jornalista, autora de livros infantis e mãe do David, 6 anos, e da Amanda, 4 anos. Aqui vamos conversar um pouquinho sobre esse universo corrido e apaixonante que entramos quando somos promovidos a mães e pais! Ah! O conteúdo é liberado também para avós, tios, dindos e quem mais quiser trocar dicas conosco. Aqui você vai ler roteiros, desabafos e entrevistas. Quer falar comigo? danisommer@gmail.com. Aproveite para curtir no Facebook e no Instagram @mamaeeuquerocuritiba.

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