SELF

Duas cidades, duas cidadanias

Ações sociais tentam amenizar a desigualdade vista em cidades com realidades antagônicas

Uma cidade é composta por diversas características e conformações no seu espaço urbano, mas pode-se dividi-la, basicamente, em cidade oficial e cidade informal. A primeira é a cidade na qual as leis são criadas e, por meio de códigos e parâmetros urbanos, dá-se o direito à cidade ao cidadão. Já a cidade informal é a cidade que serve ao cidadão de papel. São as comunidades e ocupações irregulares, em que o poder público perde a força, de forma que elas crescem à margem das regras de planejamento.

A Vila Harmonia – ocupação irregular às margens do rio Barigui, na Cidade Industrial de Curitiba – faz parte da cidade informal. O dia em que conheci a Vila Harmonia foi o mesmo dia no qual faleceu o jornalista Gilberto Dimenstein. Foi uma frase do livro dele Cidadão de Papel – que li na adolescência – que me abriu a cabeça para a questão social do nosso país. “A verdadeira democracia, aquela que implica o total respeito aos Direitos Humanos (…). Ela existe apenas no papel. O cidadão brasileiro na realidade usufrui de uma cidadania de papel.” E são estes paralelos, da cidade oficial para o cidadão oficial e da cidade informal para o cidadão de papel, que devem ser cada vez mais próximos, para que possamos ter cidades para todos.

Cidades acessíveis devem criar condições reais de direito à cidade e de inclusão social, permitindo o desenvolvimento do indivíduo em sociedade. Nesse sentido, o Projeto Luz e o grupo de arquitetos Juntos Somos Mais Paraná, que têm iniciativas e intenções em comum, começaram a desenhar o projeto-piloto de ação na Vila Harmonia para se ampliar a perspectiva e, sobretudo, a qualidade de vida na comunidade.

Considerando que ações em áreas de assentamentos consolidados pressupõem alternativas que respeitem as condições já existentes, seus limites e potenciais, além de estratégias que considerem as especificidades físicas e sociais da comunidade, o grupo contará com uma equipe multidisciplinar que incluirá profissionais voluntários das áreas de educação, sociologia, arquitetura, saúde e meio ambiente.

O projeto-piloto se iniciará por meio de ações educativas ambientais com foco nas crianças, pois é determinante que, para se resolver os atuais problemas de desenvolvimento e se levar as cidades para um futuro sustentável, o planejamento urbano respeite o espaço, a saúde e as necessidades delas – as reais agentes da esperança de transformação da sociedade.

*Coluna originalmente escrita por Pedro Silveira, convidado de Luciana Almeida, e publicada na edição #238 da revista TOPVIEW.

Deixe um comentário