SELF COMPORTAMENTO

Mulheres essenciais e seu trabalho social

por Luise Takashina   fotos Daniel Katz

Tina Gabriel – Em defesa da mulher

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Foi no dia 12 de setembro de 2015 que o mundo colorido de Tina Gabriel – famosa por seu trabalho como flower designer – perdeu um pouco do seu brilho. Foi nessa data que Renata Muggiati, irmã de Tina, faleceu. A morte em si já provocou uma grande comoção, que se tornou  ainda maior quando descobriu-se que Renata havia sido uma vítima da violência doméstica por parte do companheiro. O episódio, chocante, fez com que Tina tomasse uma decisão: “O que eu não pude fazer por ela, decidi que eu vou fazer por todas as mulheres até o resto da minha vida”, afirma.

Até então, Tina nunca tinha tido contato com histórias de violência doméstica. “Pra mim, não era uma coisa tão comum quanto é de fato”, revela a designer. Ao aprofundar-se na história da irmã e no que ela estava passando, percebeu que muitas são as mulheres que sofrem abusos de seus companheiros. Segundo ela, o passo a passo do que essas mulheres enfrentam é como uma receita de bolo.

Se as pessoas ao redor forem capazes de identificar os sinais silenciosos emanados pelas vítimas, tragédias podem ser evitadas. “Minha irmã e também as vítimas dão tantas evidências e a gente não percebe por falta de informação”, completa Tina, lembrando, por exemplo, que Renata passou a usar maquiagem, o que não fazia antes, para esconder as marcas roxas pelo corpo.

A ideia da campanha #justicapararenatamuggiati – feita no Facebook de Tina – foi a forma encontrada para divulgar o problema. Amigos se dispuseram a fazer as fotos e as camisetas e muitas vítimas e conhecidos aderiram à causa, posando com a frase “Os fortes usam ideias. Os fracos usam a força” estampada no peito.

A campanha, que ganhou repercussão nas redes sociais, fez com que Tina se tornasse conhecida ao lutar pela causa da violência doméstica. Ela passou a receber relatos desesperados em seu Facebook – para uma das vítimas, chegou até a oferecer sua casa como hospedagem.

Passada a fase mais densa do inquérito, o desafio agora é se aprofundar ainda mais no assunto e pensar em uma campanha de conscientização, que explique claramente como é o comportamento da pessoa que sofre violência. “Essa questão não depende de idade, de classe, de nada. Tenho que fazer a minha parte para evitar que isso aconteça em outras famílias, com outros pais. Ninguém está livre”, finaliza.

 

Rose Guazzi – Pelo direito de um lar

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Especialista em sustentabilidade – tema que estuda desde 2003 –, a arquiteta Rose Guazzi foi um dos nomes escolhidos pelo Shopping Mueller para capitanear uma ação de marketing. Em 2008, o shopping estava completando 25 anos e a ideia era fazer algo para o segmento de arquitetura e construção. Ao lado de Marcelo Calixto, Rose idealizou a Mostra Ecodesign. Foram sete anos trabalhando com o conceito de sustentabilidade e apresentando ao público novos materiais, espaços com acessibilidade, ambientes para crianças com deficiência.

Em 2014, a superintendência do shopping propôs à dupla que fizesse algo com um enfoque maior no pilar social da sustentabilidade. “Tivemos a ideia de fazer uma biblioteca e ceder para uma instituição”, conta Rose. O passo seguinte foi se reunir com Marcia Fruet, presidente da FAS – Fundação de Ação Social de Curitiba –, e mostrar a proposta de se trabalhar com um público carente. “Marcia me levou para visitar as instituições para crianças mantidas pela entidade”, conta Rose. Dessa visita, surgiu um desafio muito maior ao projeto: reformar um abrigo para crianças.

O local escolhido foi a Casa do Piá 1, onde moram cerca de 20 meninos com idade entre 7 e 14 anos. O projeto deu tão certo que, em 2015, o mesmo foi feito com a Casa das Meninas, no Novo Mundo. Os moradores, em estado de vulnerabilidade, ou foram abandonados pelas famílias ou encontrados nas ruas.

“Quase todos têm algum tipo de transtorno e são medicados”, afirma Rose. Segundo ela, apesar de o ambiente ser limpo e de as crianças serem muito bem alimentadas, o local onde elas moram têm cara de abrigo, portanto não passam a sensação de acolhimento e aconchego de um lar. “São casas que não tem personificação nenhuma, não tem personalidade”, afirma Rose.

Feito totalmente a partir de parcerias com empresas e executado por um time de arquitetos na cidade – 12 profissionais no caso dos meninos, mais de 30 no caso das meninas – o projeto mudou os abrigos. “As crianças têm que sentir vontade ficar na casa e não de voltar para a rua”, conta Rose, que lembra que a taxa de evasão na casa dos meninos era de três crianças por mês – número que caiu para zero nos meses seguintes ao término do projeto.

A reforma das duas casas foi feita com produtos sustentáveis (em uma delas, a conta de luz caiu 40%). Outra premissa era que as crianças acompanhassem o processo de perto. “Eles têm que presenciar a transformação para dar valor ao que está sendo feito e preservar”, explica Rose.

Rose, Marcelo e o time de arquitetos cuidam da manutenção das casas até hoje. Ela admite que não tinha noção da proporção do projeto, que tomou conta da sua vida – a ponto de Rose deixar seu escritório de lado. Ela, que é mãe de um menino, se emociona ao se referir a esse trabalho como o segundo filho que nunca teve. “Deus me deu essa missão”, conclui.

 

Rosicléia Polatti Cordeiro – Por uma oportunidade de carreira

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O Centro Educacional Os Pinhais (www.ospinhais.com.br) foi inaugurado em 2000 e forma meninas de 16 a 23 anos para trabalhar no setor de serviços, com ênfase em gastronomia e hotelaria. Por 18 meses, um grupo de até 25 estudantes mora, em regime de internato, na escola.

Entre 2001 e 2011, o Centro já formou 77 meninas, que saem de lá com lugar certo no mercado de trabalho por causa da boa educação. Por trás do custo de se manter esse trabalho social está a mão da empresária Rosicléia Polatti Cordeiro. Cabe a ela ir atrás de verba por meio de eventos, conversas com empresários, órgãos públicos e amigos. No cargo desde 2002, quando foi convidada para ser presidente do órgão que mantém a escola, a ASEC – Associação de Promoção Social, Educação e Cultura –, Rosicléia brinca que começa o mês devendo R$ 25 mil, pois cada uma das alunas custa cerca de mil reais ao projeto.

A empresária cresceu vendo o pai participar de projetos  sociais. Ela admite que várias vezes já pensou em largar a função para descansar dos mais de 30 anos dedicados ao trabalho – muitos dos quais passados na imobiliária da família, onde é sócia-fundadora – e passar mais tempo com os netos.

Mas, no auge dessa vontade, no começo deste ano, ela foi a um famoso restaurante da cidade e encontrou uma das formandas do Centro como chef de cozinha. “Fiquei emocionada e decidi continuar um pouco mais”, admite.   
As meninas que entram na escola precisam ter completado o Ensino Médio e são de famílias de baixa renda (que recebem até dois salários).

“Muitas não têm perspectiva de entrar na faculdade”, explica. Depois de inscritas, elas passam por uma entrevista e por um período de teste. Rosicléia lembra que as famílias desembolsam R$ 100 por mês para manter a filha lá. “Isso é importante para que as pessoas valorizem ainda mais o que recebem”, explica.

As aulas, normalmente dadas por voluntários, abordam línguas, legislação de turismo, informática, técnicas de limpeza e manutenção, gestão de pessoas etc. Além da teoria, as estudantes podem colocar o que aprendem em prática em um hotel que fica ao lado da escola (que recebe grupos fechados para cursos).

Rosicléia tem muito orgulho do seu trabalho, mas admite que tudo seria mais fácil com um pouco de ajuda. “O que a gente mais precisa é a que sociedade se engajasse; se cada um der um pouco, pode fazer muita coisa”, afirma.

 

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