Artigo: Perdemos interesse em nós mesmos?
Lá vem aquele sentimento agoniante. É o que experimentamos quando temos que tomar uma decisão importante, como mudar de carreira, buscar outra empresa, decidir por fazer um curso ou empreender. O que fazer? Organizar todas essas alternativas parece uma tortura para nós, humanos e detentores do livre arbítrio. Mas nós temos um método desenvolvido para encontrar uma solução: comparar tudo.
Se estamos indecisos entre empreender ou buscar outra empresa, o cérebro compara todas as consequências das duas opções. Isso tudo faz parte do papel que, em teoria, o uso da razão tem sobre as nossas escolhas. É o contraponto aos sentimentos irracionais, como emoções e instintos, que se preocupam com o resultado imediato das nossas decisões. Mas nem sempre escolhemos com base no uso da razão. Inclusive, existem algumas decisões que tomamos que estão longe de ser racionais e que podem mudar o destino da humanidade.
Antes de entrar propriamente neste assunto, vale a pena fazer uma pequena reflexão dos primeiros registros racionais do homem: entre 200 e 100 mil anos atrás. Um estudo divulgado por um médico e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, revelou que a primeira decisão racional pode ter ocorrido quando o homem, vivendo em comunidade, começou a respeitar a esposa do outro – a respeitar um casal. Ou evitou agredir um companheiro. E assim começaram as pequenas regras sociais de convivência.
A mesma pesquisa constatou que há 15 mil anos, o homem aprendeu que deveria guardar comida. Era a razão avisando que tempos difíceis de escassez de suprimentos poderiam vir, e assim, um alerta para o instinto de sobrevivência. Lembro aqui de uma famosa passagem do Velho Testamento: a história de José do Egito. Foi ele que, segundo o livro, interpretou o sonho do faraó, orientando-o a estocar alimentos, pois teriam pela frente sete anos de fartura e outros sete de total escassez.
Não sei se é uma impressão particular, mas o cenário que observo todos os dias mostra que o ser-humano deixou de se preocupar com o seu bem-estar futuro e também das próximas gerações. As decisões estão cada vez mais individuais, pautadas pela realização de um desejo imediato – “o aqui e agora e para mim”. O altruísmo, dando sempre lugar ao egoísmo e ganância.
Hoje, em que o consumismo é desenfreado e a falta de recursos para sobrevivência humana não é, supostamente, de necessidade (ou consciência?) do indivíduo. O ser-humano parece ter perdido, por exemplo, o uso da razão para decisões que afetam o meio ambiente e a vida em comunidade no planeta.
Pergunte a um amigo próximo qual a preocupação dele. Faça esse teste. É muito provável que a resposta seja relacionada a algo material. Um desejo. Algo muito particular de si próprio. Viagens, compras, experiências, carências pessoais de todo tipo. É natural. Vivemos num mundo de consumo. Será que uma das respostas terá relação com educação de qualidade para todos, ou o fim da sede e fome – algo que está completamente nas nossas mãos?
São perguntas que valem a reflexão!
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Enquanto isso, acompanhamos nos noticiários a vibração de pesquisadores mundo afora com a possibilidade de haver água em estado líquido em Marte. Claro que é algo a se celebrar. Mas quantos bilhões de dólares estão sendo destinados para esse projeto? Será que essa quantia não poderia ser aplicada em nosso Planeta, por exemplo, nas regiões em que a seca prevalece e onde a fome se apresenta de maneira mais cruel?
Podemos, é claro, sermos cativados pela ideia de vida em outro planeta, mas parece que perdemos o interesse no nosso próprio. Pior, será que perdemos interesse no nosso semelhante? Perdemos interesse em nós mesmos?
E tudo isso por conta de nossas próprias decisões.