A minha história de superação
Antes de começar a escrever esta crônica, seguindo meu processo criativo, eu fiquei dias pensando em histórias, exemplos e metáforas para falar sobre o tema da edição. Eis que agora, quando me sento em frente ao computador, entendo que devo dividir aqui o meu momento de superação.
Era 11 junho de 2013. Um dia com a cara de Curitiba: frio e ensolarado. Acordei, tomei banho, sequei o cabelo, me maquiei, escolhi uma roupa, tomei café da manhã, entrei no carro e fui trabalhar. Tudo seguia seu fluxo normal, até que algo aconteceu no meu corpo. Uma tremedeira incontrolável tomou conta de mim e eu sentia muito frio. Eu realmente não estava bem e não sabia o que estava acontecendo. Fui para o hospital e por lá eu fiquei, por quase dois meses.
Uma pedra que estava em meu rim causou uma obstrução no canal urinário, o que causou um refluxo urinário, instalando uma infecção no meu rim direito. Em questão de minutos, a infecção se espalhou por minha corrente sanguínea, ocasionando uma septicemia grave e um choque séptico. Tive duas paradas cardíacas e outras complicações.
Assisti a vários procedimentos sem ser sedada por conta da urgência da situação. Uma pedra, menor do que a metade de um grão de arroz. Uma pedra muito pequena, mas que fez um estrago enorme na minha saúde. Fiquei na UTI por dias seguidos e perdi toda a minha autonomia. Eu, com 25 anos, não conseguia me levantar da cama. Estava lá, dependendo de pessoas que não conhecia para me alimentar, me limpar e me medicar. E assim foram aqueles meses: a cada minuto, uma batalha diferente. E é aí que está o poder da superação!
Superar uma situação difícil está nos pequenos detalhes. Nessa circunstância, a superação poderia se resumir a simplesmente sair do hospital e retomar a minha vida. Mas posso afirmar para você: foi muito mais do que isso. A superação esteve no instante antes da primeira parada cardíaca, em que usei toda a força do meu corpo
para gritar por ajuda. A superação esteve em saber que minha mãe estava o tempo todo na porta da UTI. A
superação esteve no profissionalismo dos médicos e enfermeiros, no bom humor dos voluntários, no cartão
cheio de carinho dos colegas de trabalho, no amor da minha família e dos meus amigos.
A superação esteve presente até mesmo depois de eu sair do hospital, pois tudo estava bem, mas eu tinha muito medo de voltar para a minha antiga vida. Superação é conseguir forças em lugares que você nem imaginaria
buscar. É aceitar uma nova realidade e estar aberto a tudo o que é novo. A minha vida antiga nunca mais voltou, pois é impossível superar sem mudar.
* “No dia 20 de abril tocou a música You’ll Never Walk Alone em trinta países da Europa, como mensagem
de solidariedade. Em meio à crise do coronavírus, não podemos nos abraçar ou sequer dar a mão para cumprimentar uns aos outros. No entanto, provamos que podemos superar e mostrar outras formas de calor humano, ajudando como nunca quem tanto precisa.” Barbera van den Tempel
*Crônica editorial originalmente publicada na edição #236 da revista TOPVIEW.