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A idade da cidade

Um dos maiores especialistas em envelhecimento populacional no país afirma que as cidades brasileiras estão construídas para pessoas de 20 a 50 anos

Nessa trajetória do envelhecimento populacional, a projeção é que, em 2060, um em cada quatro brasileiros terá mais de 65 anos, de acordo com o IBGE. E a estimativa é que mais de 90% da população viverá em cidades em 2030, segundo informações do Programa da Organização das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) no Brasil.

Com uma população idosa majoritariamente urbana, torna-se essencial pensar em como as cidades estão — ou não — preparadas para recebê-la e assegurar um bom estilo de vida. Um dos maiores especialistas em envelhecimento populacional no país, o professor Jorge Felix, afirma que as cidades brasileiras estão construídas para pessoas de 20 a 50 anos.

“Desde a década de 70, quando iniciou um processo de desenvolvimento industrial e urbanização, vende-se a ideia de um país jovem e não enxergamos a velhice [no Brasil]”, analisa Paulo Chiesa, arquiteto e coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da UFPR. “Temos uma ideia de que é ruim, mas não queremos enxergar esse problema.”

Nossas cidades, portanto, não estão preparadas para dar qualidade de vida à população acima dos 60 essencialmente porque negam essa realidade, defende Paulo. “Por considerar que a população é jovem, as políticas públicas são feitas para eles. Se queremos ser algo [como sociedade], temos que olhar tanto para as crianças quanto para os idosos.” Os principais aspectos que temos que enfrentar, aponta Paulo, são a
mobilidade, com transportes adequados para deslocamento, saúde, com uma rede eficiente de assistência social, lugares de convívio social intergeracional e segurança.

O projeto de uma cidade precisa garantir aos idosos independência, autonomia e sociabilidade. A falta de bancos nos espaços públicos são um exemplo do não acesso à cidade. “As pessoas acham que, diante das outras demandas da cidade, isso é algo supérfluo. A gente tem que parar de falar pelos idosos e ouvir diretamente o que eles querem”, ressalta Paulo.

Diante desse cenário cada vez mais comum, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou o conceito de “cidade amiga do idoso”, que sintetiza o que seria uma cidade planejada para atender as necessidades de todas as idades. O projeto inspirou a criação de um guia global que reúne as modificações que devem ser implementadas nas cidades.

Quatro cidades brasileiras possuem a certificação internacional de Cidade e Comunidades Amigáveis à Pessoa Idosa da OMS: Esteio, Porto Alegre e Veranópolis, no Rio Grande do Sul, Pato Branco, no Paraná. Ainda assim, os especialistas observam que os casos isolados não refletem a realidade das cidades do país.

*Matéria originalmente publicada na edição #232 da revista TOPVIEW.

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