A Era do Caos
Há quase um século, o economista britânico John Maynard Keynes previu que, em 2030, seus descendentes trabalhariam menos de 15 horas por semana, devido às facilidades trazidas pela tecnologia.
Hoje, não só o tempo de trabalho aumentou como os momentos de prazer e descanso vêm em forma de cobrança. A comparação, que pode surgir com um post nas redes sociais, adiciona mais itens à lista de afazeres: marcar aquela aula de yoga, fazer a matrícula na aca demia, assistir à série do momento.
Mais recentemente, em 2015, o filósofo sul-coreano Byung-chul Han diagnosticou nossa constante cobrança por desempenho com uma significativa expressão: “sociedade do cansaço”. Segundo o estudioso, um sistema em que a produtividade e a ambição são super valorizadas levam à autocobrança pelo alcance da melhor versão individual.
Versão essa que ultrapassa a dimensão do trabalho e se reflete em cobranças na vida pessoal, na relação com os amigos e a família e até nos hábitos individuais. Em resumo, “estamos cansados”. Essa afirmação é baseada nos números. Um levantamento de 2021 da Hibou, empresa de pesquisa e monitoramento de mercado, revelou que 79% dos brasileiros consideram-se estressados, 53% não se sentem em paz e 66% têm impaciência com outras pessoas.
Bem-estar pessoal e intransferível
Para Danuza El Khatib, psicóloga clínica que trabalha o sentido da vida, é importante pensar na tridimensionalidade humana para dar início à busca por equilíbrio, mesmo em meio a esse “caos”, interno e externo. “Somos seres formados por corpo, mente e espírito, além de estarmos inseridos em um contexto social”, explica.
Todos esses fatores, de acordo com a profissional, podem ser analisados pelo viés do bem-estar. Porém, quando a vontade de melhorar e aliviar as tensões se transforma em obrigação, a carga mental fica ainda mais pesada. O segredo, então, seria começar com o que está ao alcance das mãos, atitudes simples que podem refletir em sensações positivas no dia a dia. Ela exemplifica: “reciclar o lixo, dar oi ao porteiro, segurar o elevador.”
Em um mundo que não para, o verdadeiro luxo se encontra nas pausas. Segundo Danuza, o mindfulness, ou seja, a capacidade de se concentrar no momento presente, é um dos maiores desafios atuais. Do tempo de qualidade com a família, o autocuidado inserido na rotina ao investimento em tecnologias para a qualidade de vida.
Viver o hoje e fazer uma coisa de cada vez é um privilégio e o caminho para evitar as principais doenças psicossomáticas contemporâneas, conforme a psicóloga. Quando isso se volta para a perspectiva individual, ter um olhar mais cuidadoso e gentil para si mesmo é o primeiro movimento de quem procurar se manter saudável. Também é preciso entender que a vida é dinâmica e as áreas a que damos atenção variam de acordo com suas diferentes fases.
Melhor versão
As cobranças externas podem até ter um grande peso, no entanto, é preciso considerar a liberdade e a responsabilidade para fazer escolhas. “Liberdade para escolher e responsabilidade parabancar. Esses são os componentes que nos tornam protagonistas das nossas próprias vidas e permitem encontrar nossa melhor versão”, afirma Danuza.
Nesta edição da TOPVIEW, você confere matérias que ajudam a pensar sobre as dimensões de bem-estar e, mais do que isso, colocá-lo em prática com atitudes que podem ser postas em prática em poucos minutos. Também vai encontrar seleções de produtos capazes de oferecer experiências únicas, onde você estiver.