SELF

A distopia do consumo

O recolhimento imposto pela quarentena pode ser um gatilho para o desejo de consumir – principalmente online

Lembro-me do provérbio, diga-se de passagem, mais falado pela minha avó: “cabeça vazia, oficina do diabo.” Lembrança essa revivida diariamente em um mundo que necessitou abruptamente de isolamento. A quarentena é como aqueles castigos a que éramos submetidos quando crianças, em que ora aprendemos, ora não. Mas, convenhamos, a sabedoria de nossos avós nunca falhou. Por mais moralista que venha a ser, a cabeça vazia pode, sim, ser um gatilho para uma compulsão, seja ela por comer, por ser produtivo, por comprar ou pelo simples ato de consumir. Novamente, algo sem propósito pode estar logo ali, a um clique.

Segundo a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), 61% dos clientes que compraram online durante a quarentena aumentaram o volume de compras devido ao isolamento social. Ressalto que ressignificar hábitos é completamente saudável e empático em um momento como o que estamos vivendo, mas é preciso ter cuidado e ficar atento aos sinais de desequilíbrio e aos reflexos que podem reverberar.

É muito difícil pensar em como vamos nos comportar após uma crise de características inéditas como a que estamos vivendo. Porém, consumir com propósito é, sem dúvida, uma realidade que está fazendo parte da minha vida e da de muitas outras pessoas. Acredito fielmente que estamos passando por um período disruptivo no estilo de consumo que levamos. Mas é como o castigo da infância: ora aprendemos, ora não.

“Ressalto que ressignificar hábitos é completamente saudável e empático em um momento como o que estamos vivendo, mas é preciso ter cuidado […]”

*Coluna originalmente publicada na edição #238 da revista TOPVIEW.

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