A arte da conscientização
“O que eu realmente quero fazer é poder mudar a vida de um grupo de pessoas com o mesmo material que eles lidam todos os dias.” Essa frase é de Vik Muniz, um dos mais renomados artistas plásticos brasileiros. Vik nasceu em São Paulo e teve uma infância nada luxuosa – como ele mesmo conta –, mas alcançou o sucesso e o prestígio internacional pela singularidade de suas obras, que são feitas com os materiais mais inusitados, como café, plantas, chocolate, pasta de amendoim e resíduos recicláveis.
A arte é o maior portal para a sensibilidade humana que existe. É a forma de mostrarmos que somos seres conscientes e que nos importamos com o que acontece à nossa volta. Um dos projetos mais impactantes de Vik demonstra justamente isso. O artista embarcou para Jardim Gramacho, como era conhecido o maior aterro sanitário da América Latina, localizado na cidade de Duque de Caxias (Rio de Janeiro), com o objetivo de registrar a realidade do local e, de alguma forma, ajudar os habitantes e trabalhadores do aterro.
Muniz contou com a ajuda de um grupo de catadores. Eles foram fotografados e, ao final, ajudaram a construir as imagens de seus próprios retratos com objetos que recolhiam e separavam todos os dias: material reciclável. A venda das obras foi revertida em melhorias para a comunidade, como a construção de um centro de ensino. O projeto é retratado no documentário Lixo Extraordinário, indicado ao Oscar em 2011 e vencedor de muitos outros prêmios. Faço um apelo para você assistir e, se, ao final, sentir-se incomodado(a), você reagiu certo.
As obras de Vik produzidas em Jardim Gramacho refletem o poder que a arte tem de conscientização e de transformação. Também demonstram a gigantesca quantidade de lixo que geramos, a péssima forma como ele é administrado e as tristes condições de trabalho dos catadores. Jardim Gramacho foi fechado em 2012, mas isso não solucionou o problema. Afinal, todo o lixo gerado pela cidade do Rio de Janeiro e da sua região metropolitana ainda precisa ir para algum lugar.
*Coluna originalmente publicada na edição #246 da revista TOPVIEW.