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Wilson Picler: entre as feras da política e os ETs

O empresário, político, professor e estudioso de ufologia fala sobre a trajetória do Grupo Uninter e diz que a política o estressa, mas que os extraterrestres trazem alento

O paranaense Wilson Picler, 54, divide a vida entre atividades bem distintas. Como empresário, transformou um instituto de pós-graduação para professores criado em 1996 na segunda maior companhia de ensino a distância no Brasil em número de alunos — o Grupo Uninter, do qual é sócio-fundador e presidente, tem cerca de 215 mil matriculados hoje.

Na política, foi deputado federal (2009–2011) pelo PDT e um dos principais articuladores da campanha que levou Gustavo Fruet à prefeitura de Curitiba, em 2012 (hoje, Picler é filiado ao PSL e pode ser um dos candidatos ao Senado em 2018).

Formado em Física pela UFPR (1993), ele também se envolve com o ensino elaborando experimentos didáticos para alunos de engenharia. Um quarto “sustentáculo” de sua vida, como ele define, é a paixão pela ufologia, que o tornou um divulgador entusiasmado do que chama de “agenda extraterrestre”. Questionado sobre o tema, Picler muda de feição. Adota um tom espontâneo e é capaz de falar durante horas sobre anjos astronautas, exopolítica (o campo da ufologia que trata de desenvolver formas de interagir com civilizações extraterrestres) e aparições de óvnis encobertas pelo governo americano e pela Aeronáutica brasileira.

Na entrevista a seguir, concedida na primeira semana de maio, Picler fala um pouco sobre cada um desses temas — oferece sua visão atual o país, explica como concilia a vida pública com os trabalhos ufológicos, conta por que ETs gostam tanto de Curitiba e revela um pouco de sua vida particular. Leia os principais trechos:

Além da política, física, empreendedorismo e ufologia, há alguma outra atividade sua que ninguém conhece?
Eu me dediquei ao desenvolvimento de aparelhos de audiofilia [equipamentos de som de alta fidelidade], mas ultimamente não tenho tido tempo. Fiz alguns protótipos. Tem gente que aprecia com bastante afinco — e equipamentos caríssimos. Eu me dedico no sentido de tentar desenvolver aparelhos de alta performance e baixo custo.

Você ouve música em um sistema de alta fidelidade?
Não, porque isso aí é caro. Tem gente que tem sala de audiofilia de US$ 100 mil. Eu não estou nessa.

“Uma dica empresarial: se você quer ir bem com a empresa, não a descapitalize a troco de seus luxos pessoais. O dinheiro tem que estar reinvestido na empresa, gerando oportunidades.”

Tem algum luxo desse tipo a que você se permite?
Meu único luxo são lençóis de 320 fios de algodão egípcio. Moro num apartamento de 280 metros quadrados no Bigorrilho. Tem professor que mora melhor que eu. Uma dica empresarial: se você quer ir bem com a empresa, não a descapitalize a troco de seus luxos pessoais. O dinheiro tem que estar reinvestido na empresa, gerando oportunidades. Por isso a Uninter está grande. Para a maior parte dos meus concorrentes que não estão do meu tamanho, em algum momento o luxo e a vaidade deles falaram mais alto. Aqui, até hoje, reinvestimos e crescemos. E está enorme.

Como a empresa chegou a esse ponto?
O sucesso da Uninter se deveu ao fato de termos sido pioneiros na oferta de educação a distância, isso lá em 1998. Pouco depois criamos a Facinter e, em 2002, incorporamos uma instituição de educação a distância que estava operando com problemas. Saneamos a instituição e lançamos esse projeto que hoje está no Brasil todo. Depois, outras instituições também resolveram seguir o mesmo caminho.

“Quem luta contra a educação à distância luta contra a internet. É o velho paradigma contra o novo paradigma.”

Como acha que o ensino a distância mudou o cenário da educação superior nesses anos?
A educação a distância (EaD) deixou um legado social muito interessante, porque é inclusiva. Ela inclui os que estão excluídos por questões financeiras, geográficas e genéticas — não é todo mundo que aguenta trabalhar o dia todo e estudar à noite. Tem um biotipo, que temos que respeitar, que não aguenta. Esse que trabalha o dia todo e estuda à noite é um herói. Acho que só no Brasil e em poucos países existe esse tipo. Em outros países, o cara estuda com mais tranquilidade e depois vai trabalhar. Aqui não — ele trabalha durante o dia e estuda à noite, e ainda paga sua faculdade. Tem pessoas que se sentem muito cansadas, esgotadas, e não conseguem acompanhar. A EaD vem lhes dar mais facilidades para gerir seus horários.

Ainda há resistência a alunos formados em cursos de EaD no mercado?
Não percebo mais. Até porque o aluno de EaD lê muito mais do que o aluno presencial. As aulas são preparadas com muito primor. É diferente de uma presencial improvisada. Hoje, reputo a EaD como uma educação de melhor qualidade que a presencial quando feita com seriedade. Quem luta contra a educação à distância luta contra a internet. É o velho paradigma contra o novo paradigma. Estamos usando as ferramentas do século 21. Para mim, é tão claro quanto usar o computador ao invés de lápis e borracha.

“O ensino público tem colocado à disposição no Brasil alunos com um déficit de aprendizagem. […] Se as coisas continuarem assim, você vai encontrar os brasileiros vendendo tapioca nas feiras de ciência internacional.”

Para você, quais são os outros principais desafios para a educação superior no Brasil?
Hoje, devemos ter em torno de 18% de jovens em idade universitária na educação superior. O plano nacional da educação prevê a meta de 30%. É um sonho das autoridades brasileiras. Nós estamos patinando e não saímos desses 18%, porque o jovem está abandonando o ensino médio. Outro problema: a qualidade dos alunos. O ensino público tem colocado à disposição no Brasil alunos com um déficit de aprendizagem. O mundo que está se desenvolvendo está num patamar completamente diferente. Se as coisas continuarem assim, você vai encontrar os brasileiros vendendo tapioca nas feiras de ciência internacional. Temos que ter mais mais seriedade, mais profundidade, mais dedicação e mais competência — tanto de docentes quanto de discentes.

Você será candidato nessas eleições?
Não sabemos. O cara não pode ser candidato de si mesmo. Ele é candidato de uma proposta para as pessoas, para a sociedade. Tenho recebido alguns apelos de amigos. As pessoas estão preferindo que eu seja candidato. Estou avaliando bem para ver quais seriam as chances de vitória, porque ninguém gosta de concorrer para perder.

Qual é sua agenda na política?
Acho que temos de dar mais respiro as empresas. Trabalhar mais com o conceito neoliberal, porque, senão, você perde muita eficiência. O Brasil está afundando com uma carga tributária enorme. De cada dez empresas abertas no Paraguai, sete são brasileiras. Isso já é um indicador muito grave. Estamos em uma viagem em direção à Venezuela. Isso vai acontecendo aos poucos: empresas perdendo competitividade, fechando, o desemprego surgindo, a criminalidade muito alta. Temos que mudar o rumo.

Como?
Os brasileiros estão esperando a eleição de 2018 [para decidir] se vamos adotar um modelo neoliberal ou se vamos insistir com o socialismo. Se insistirmos no socialismo, o próximo drama que você vai acompanhar no Jornal Nacional é a evasão em massa de brasileiros desistindo disso aqui, e isso aqui rumando definitivamente para o “modelo Venezuela”. Caso vença o modelo neoliberal, tem muita gente apostando na recuperação do país. Mas temos um inimigo em comum: a corrupção. Ela está roubando o futuro dos brasileiros.

Você continua aprofundando seus estudos na ufologia?
Tive o primeiro contato com esses temas com 15, 16 anos. Aos 18 fiz alguns cursos e entrei no grupo de um professor de bastante idade, que já faleceu. Aquilo se tornou um norte para a gente. Nosso objetivo era nos auto-aprimorar e aprimorar a sociedade para estarmos à altura de um relacionamento cósmico. Hoje, todo mundo está à espera do contato com os ETs, mas será que estamos preparados para isso? Será que os extraterrestres têm algum interesse em fazer contato com a gente? Quem eles deveriam procurar — o Michel Temer?

“Posso te dizer que, se acontecer no Brasil alguma coisa real na ufologia, que venha a mudar o contexto todo, Curitiba terá uma participação de destaque.”

Você estaria preparado?
Não sei. Quem vai me julgar são eles. Eu acho que a sociedade, de um modo geral, não está. Alguns elementos da sociedade podem estar, isoladamente. Existem contatos de várias naturezas. Eles nos acompanham e intervêm várias vezes quando estamos prestes a fazer bobagens.

A ufologia não é considerada uma ciência e muita gente não leva o tema a sério. Como você lida com isso?
A ufologia é uma coisa sobre a qual não tenho dúvidas. Se o povo quer duvidar, é um direito — até acho bom que as pessoas não se envolvam demais nesse assunto, senão vão ficar loucas. Se você não tiver a cabeça centrada, fica maluco. O assunto UFO [sigla para óvni em inglês] caiu nessa agenda da ridicularização porque, na década de 1960, o governo americano encomendou um estudo sobre os UFOs nos Estados Unidos. Chegaram à conclusão de que tratavam-se de extraterrestres e de que nada poderiam fazer para defender o povo de uma possível ameaça externa, dado o desequilíbrio tecnológico. Então resolveram manter isso em segredo. Desde então, as coisas vêm nessa agenda que você conhece.

Como você concilia sua associação com a ufologia e sua figura pública?
Da mesma forma que a gente aceita os religiosos. Tem religiosos que veem uma luz na montanha e acham que é uma aparição de Maria, e todo mundo aceita. Então, cada um com suas crenças. A liberdade de se acreditar no que quiser é um direito constitucional. E tem mais: não faço a mínima questão de converter ninguém. Cada um com o seu pensamento. Para mim, a ufologia é um negócio fantástico. Gosto muito, acho coerente e acho que tem muitas evidências.

“Meu único gasto elevado é com a política. Tudo o que economizo e deixo de gastar com luxo pessoal, vem uma campanha e leva.”

É verdade que Curitiba tem alta incidência de óvnis?
Nas estatísticas da Aeronáutica, Curitiba se destaca como sendo um dos locais de maior incidência de “tráfego hotel”, como eles chamam.

Somos um ponto turístico para extraterrestres?
Acho que Curitiba é uma cidade mística. Poucos percebem isso. Aqui, nós temos a Ordem Rosacruz e movimentos ufológicos que estão trabalhando direto com o assunto. Não tem capital brasileira que trabalhe mais com o assunto UFO. De Curitiba, irradiam muitas inovações. A EaD nasceu daqui. Posso te dizer que, se acontecer no Brasil alguma coisa real na ufologia, que venha a mudar o contexto todo, Curitiba terá uma participação de destaque.

Você parece mais animado ao falar sobre isso do que sobre política.
A energia da política é a energia dos brasileiros, e eles estão revoltados. É austeridade, braveza. Não estamos de brincadeira com isso. Passou dos limites. A ufologia e a cosmologia são uma coisa que nos traz o alento da evolução. Quando eu penso no extraterrestre que gostaríamos de contatar, eu não penso em um bicho ruim. Penso num ser humano hiper-evoluído, hiper-harmônico. Eu penso em deuses, penso em anjos da Bíblia. Penso nas criaturas que visitaram Ló.

É o que traz alegria para você?
A questão da alegria é algo que está relacionado com o nível de esforço. Agora, por exemplo, a política traz amargura. Você vai para a arena com as feras. Sou obrigado a competir seguindo as regras impostas por essa gente — não é um fair play. Então isso nos traz amarguras. Tirando essa parte, me sinto realizado, estou em paz. Gosto das coisas que faço. A única coisa que me deixa estressado é a política.

Que outras coisas te fazem feliz?
Coisas simples, como andar no parque e orar. Estar em sintonia com o cosmos e meditar me traz satisfação, bem-estar e paz de espírito. Me traz alegria ajudar os outros que estão necessitados. Fico feliz de saber que a gente é gerador de oportunidades e empregos.

Você consegue dedicar um bom tempo para viagens e lazer?
Não. Não sou muito de viajar por lazer. É muito comum esse perfil de empresário, especialmente os que são exitosos. Tem muito empresário quebrado. Os quebrados adoram festa, viagem, esbanjar. Os prósperos são mais frugais, esbanjam pouco. Meu único gasto elevado é com a política. Tudo o que economizo e deixo de gastar com luxo pessoal, vem uma campanha e leva.

A fundo perdido?
A política, feita do jeito honesto, não traz retorno nenhum. Está um negócio esquisito a política. Só quem participa sabe o custo para um homem honesto aspirar a uma participação no poder. Só se justifica mesmo por um ideal. Como eu acho que o destino foi bondoso comigo, a gente gasta porque tem certeza de que, no andar normal do negócio, não há de faltar.

Qual é o custo?
Posso escolher entre construir uma casa bonita e concorrer a uma eleição. O preço é equivalente. Eu pergunto: que maluquice é essa que a gente tem na cabeça que nos faz querer gastar uma casa para aspirar a um cargo que não sabe nem se vai ganhar? É uma doença, um desvio de personalidade, uma obsessão? É o inconformismo. A gente não se conforma em ver as coisas desse jeito e não fazer nada.

Quais são os próximos passos para a Uninter?
A Uninter está em um programa em que a maior parte das instituições de EaD estão, que é de expansão de sua rede de polos. Nós fizemos uma ampliação do portfólio de ofertas, estamos expandindo. Ela está crescendo mais ou menos 15% ao ano — um desempenho bastante bom. Ela está auditada pela PricewaterhouseCoopers (PwC) há oito anos consecutivos.

O que sonha para a empresa?
O próximo passo seria, passando o ano eleitoral, fazer um IPO [oferta pública de ações na bolsa] e se tornar uma consolidadora de mercado, como são as grandes instituições de capital aberto, como a Kroton e Estácio. Eu gostaria que a Uninter fosse uma consolidadora. Estamos trabalhando nisso.

Meu maior sonho é contatar uma civilização extraterrestre de linhagem humana mais evoluída que a nossa.

E para a sua vida pessoal?
Meu maior sonho é contatar uma civilização extraterrestre de linhagem humana mais evoluída que a nossa. Gostaria de, na nave delas, sentar à mesa e conversar sobre a humanidade terrena. A primeira pergunta que eu faria é: “Vocês nos visitam desde quando? Se for desde os primórdios, vocês têm um CD com Platão e Aristóteles falando? Têm um CD da história de Jesus passando por tudo aquilo? Têm como baixar a Wikipedia do planeta Terra aí para nós?” Já pensou que maravilha? [risos]

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