Uma colher de empreendedorismo
A mais recente pesquisa que busca entender a atividade empreendedora no mundo*, lançada em março de 2020, mostra um dos maiores motivos que levam mulheres a abrirem os próprios negócios: fazer a diferença no planeta. Em um período tão atípico como o de uma pandemia, diante de tantas dificuldades em diversos aspectos da vida, esse modo de pensar mostra que o empreendedorismo feminino, apesar de ainda estar em lento crescimento, pode ser visto como uma luz no fim do túnel.
Nathália Batista Siqueira, de 24 anos, é bacharel em Direito, mãe e, agora, empreendedora. Como ela mesma diz, “espalha momentos felizes e saborosos” por meio de tábuas de frios no estilo grazing. “Tudo começou quando me apaixonei por queijos. Minha família se reinventou nessa área e eu acabei criando meu próprio projeto-piloto. Com os queijos produzidos no negócio da família, monto as carinhosamente chamadas tabs”. Com um hobby que virou job, Nathália conta que busca colocar boa parte de seu carinho em cada produto. “Tenho participado, mesmo que indiretamente, dos mais diversos ciclos que norteiam as pessoas: vida, amor, saudade e gratidão”, compartilha a mestre queijeira.
Já a estudante de Fisioterapia Jhenniffer Almeida, decidiu se aventurar no universo da panificação e da confeitaria em julho de 2020. Esse projeto foi importante, pois uniu toda a família. “Eu não estava aguentando não fazer nada nesta quarentena, principalmente por conta da ansiedade. Então conversei com meus pais e, já que gosto muito de cozinhar, comecei a fazer pães e bolos. Nisso, toda a família começou a ajudar: minha avó emprestou seu cilindro e algumas fôrmas de pão e meus pais ajudam sempre na hora das compras de produtos, nas entregas e na mão de obra mesmo”. Com a famosa divulgação boca a boca, Jhenniffer conquistou clientes fiéis e, hoje em dia, vende seus produtos em estabelecimentos comerciais de Telêmaco Borba, no interior do Paraná, e nas cidades vizinhas. “Depois da pandemia, eu pretendo continuar a fazer os produtos por amor mesmo. Fico muito feliz com os feedbacks que recebo. Gostaria, também, de incluir mais coisas no cardápio e conseguir vender em ainda mais estabelecimentos”, conta.
Em meio à crise, muitas pessoas enxergam oportunidades. Esse foi o caso de Jéssica Rocco, de 29 anos, que é formada em Engenharia Civil e, com o seu marido, abriu uma padaria artesanal com foco em viennoiserie – uma combinação de técnicas de confeitaria e panificação – no bairro Centro Cívico, em Curitiba (PR). “Vimos, na crise, uma oportunidade. Os riscos são muitos, mas existe a chance de êxito para um trabalho honesto e bem executado. A pandemia nos levou por caminhos que não imaginávamos, mas fomos nos adaptando a cada engrenada da Covid”, diz a empreendedora.
No início, ela conta que diversas dificuldades apareceram, como o treinamento da equipe e a fidelização dos clientes. No entanto, a maior delas foi no âmbito pessoal: logo após a abertura do local, nasceu o seu segundo filho. “Essa, com certeza, foi a maior mudança [desde a inauguração]. Mas, com muito cuidado e carinho, tudo está crescendo em conjunto e harmonia.” Jéssica compartilha, ainda, que um dos seus sonhos é virar confeiteira. “Para uma engenheira civil sem experiência na área da gastronomia, é um grande desafio, mas tenho como inspiração a chef Roberta Sudbrack”, revela.
Dados do estudo Women in The Boardroom — Uma Perspectiva Global mostram que o número de mulheres que ocupam cargos administrativos cresceu 1,9% desde 2017. No Brasil, 34% dos negócios são administrados por elas, segundo o último Relatório Especial de Empreendedorismo Feminino no Brasil, do Sebrae, lançado em 2019. Para a economista Suelen Glinski, chefe do Departamento de Trabalho e Estímulo à Geração de Renda do Estado do Paraná, agora é o momento ideal para quem quer administrar o seu próprio negócio. “Hoje, vemos mais mulheres em postos de liderança, pois, na minha opinião, elas têm mais sensibilidade para negociar. Para quem quer ter outra profissão ou atividade, principalmente as jovens, essa é uma oportunidade para se reinventar ou se especializar em outra área.”
O preconceito existe em diversas áreas, mas, analisando grandes mulheres, as limitações não as impediram de chegar aonde almejavam, segundo a empreendedora Jéssica Rocco. “Temos muitas mulheres jovens que são referência e, na pandemia, apenas reforçaram a sua força e capacidade. É difícil, é desafiador, mas, com muita luta, nós chegamos aonde quisermos!”, finaliza.
*Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor’s (GEM), março de 2020.
*Matéria originalmente publicada na edição #240 da revista TOPVIEW.