Um texto e duas músicas
Mal ficamos em dois pés, começamos a migrar pela savana, seguindo o rebanho de bisontes, além do horizonte, para novas terras distantes. Assim canta Jorge Drexler, em sua música Movimientos, que trata do mesmo tema que a edição deste mês da TOPVIEW: movimentos.
De acordo com Drexler, somos uma espécie em viagem. Nós não temos pertences, senão bagagem. Vamos com o pólen no vento e só estamos vivos porque estamos em movimento. De fato, só estamos vivos por essa nossa inquietude. Somos pais, netos e bisnetos de imigrantes. Cada grande movimento da história contribuiu para estarmos onde estamos hoje, sendo exatamente quem somos.
Meu objetivo ao falar de movimentos sob a perspectiva do marketing é mostrar como eles estão associados aos nossos sentimentos. Acima de seres tecnológicos, somos seres primitivos. Nossas ações são, antes de mais nada, geradas no âmago de nossos sentimentos. Tudo o que fica pronto na vida foi construído, antes, na alma (palavras de Nizan Guanaes). E, justamente por falar em alma, que escolhi amparar este texto com música. É ela que nos explica – com ritmo e movimento – o que pensamos e o que sentimos.
Primeiro, trouxe Jorge Drexler para contextualizar nossa ancestral característica nômade, de se estar em movimento, ainda que sem sair de casa. Em seguida, quero trazer Ziggy Marley, com a música True to Myself, para dividir minha opinião de como nos comportaremos daqui para frente a partir desse grande movimento gerado pela silenciosa guerra ao coronavírus. Como a própria música diz, acredito que seremos mais verdadeiros com nós mesmos. Mentir para si próprio chegou ao limite. Não faz mais sentido trabalhar exageradamente, sem olhar a vida ao redor, enganando-se que isso irá nos comprar a felicidade. Não faz mais sentido fazer coisas baratas, de qualidade inferior, para enxugar custos e aumentar a margem de lucro. Não faz mais sentido comer besteira, engordar, ficar doente para, depois, comprar remédios e se internar em um spa.
A nossa consciência nos cobrou sinceridade e não tem otimismo maior para os tempos futuros do que acreditar que esse será nosso próximo grande movimento.
Ps: este texto faz muito mais sentido se for combinado às músicas indicadas acima.
Aperte o play e até a próxima!
*Coluna originalmente publicada na edição #239 da revista TOPVIEW.