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Conheça a brasiliense que faz (até) Curitiba sambar

Devota à música e a si mesma, Janine Mathias nos inspira como artista e pela sua história pessoal

“Tô erguendo a cabeça, fazendo o melhor chegar. Tive que olhar pro fundo e a beleza enxergar.” Assim canta Janine Mathias, brasiliense de 33 anos radicada em Curitiba. A letra de Eu Quero Mergulhar foi escrita em 2011, momento de autodescoberta dessa “mulher negra fazendo música”, como frisa. “Compus desejando que o que estava me trazendo tristeza, colocando-me em um lugar que eu achava que não era o meu, não regesse o meu caminho”, lembra. “E, sim, a felicidade – principalmente esse dom de ser cantora.” “Dom” pode ser um termo em desuso, mas não em conversas sobre Janine, que vem de uma linhagem de sambistas e, a esse ritmo, acrescenta rap, soul e tantos outros. Há dois anos, quando largou o emprego em um shopping para profissionalizar o dom, a artista fez desde apresentações para plateias tão pequenas quanto três pessoas a um musical em homenagem a Elza Soares, no Festival de Curitiba – e abriu um show da diva. Criou o Samba da Nega, projeto em que recebe músicos convidados para tocar “do pagode ao samba-canção” e que deu origem à “Família da Nega”, como se refere ao público fiel. Assistir a um show é o bastante para se apaixonar, sintoma da energia, dizem, que Janine transmite.

E este ano foi uma epidemia: ela prepara- -se para lançar o disco Dendê, por financiamento coletivo, fez uma miniturnê com a rapper do momento, Karol Conka, e esteve, enfim, por tudo, desde eventos hype, como o Sofar Sounds e a feira Manoo, a apresentações na Biblioteca Pública do Paraná e pelo interior.

Há quem veja nela um exemplo de vida, por botar a cara e fazer a coisa acontecer. “O fato de eu ser uma mulher negra e periférica me afasta de alguma acessibilidade, mas não impede que eu seja quem eu sou, que eu seja uma grande cantora”, afirma. “É esse reconhecimento que o racismo tira da gente. Até eu chegar a uma TOPVIEW, foram cinco anos de trabalho.” Janine passou por um processo de autorreconhecimento e de entender a sua força, conquistou Curitiba e, agora, pela primeira vez na vida, estuda canto no Conservatório de MPB.

*Matéria publicada originalmente na edição 206 da revista TOPVIEW.

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