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Rafael Lamastra explica medidas de privatização da Compagás e novos processos para operações mais eficientes

O presidente da Companhia Paranaense de Gás espera que até 2021 o processo de renovação de concessão seja concluído

A Compagás, distribuidora de gás canalizado do Paraná controlada pela Copel, está no processo de privatização, prevista para acontecer em 2021. Paralelo a isso, diversas coisas estão sendo discutidas e reorganizadas. Para entender sobre o processo e conhecer a trajetória do Presidente da Companhia Paranaense de Gás Rafael Lamastra, veja a entrevista que conduzi sobre o tema!

Rafael, nos conte um pouco da sua trajetória?

Apesar de ter tido na juventude uma experiência em Governo, eu fiz uma carreira profissional praticamente toda na iniciativa privada. Fiz uma opção em determinado momento em investir na carreira, com ampliação dos meus estudos, e isso resultou em algumas experiências muito exitosas em várias corporações importantes. Dentro de uma estratégia resultante de uma orientação de carreira, e tendo uma grande facilidade de adaptação, acabei não me fixando em apenas um segmento profissional. Como executivo de empresas atuei em segmentos completamente diferentes como construção civil e áreas de saúde e comunicação. Sou um gestor de empresas. Com a posse do novo Governo, o Governador Ratinho Junior – que já conhecia muito o meu trabalho – me convidou para assumir a presidência da Compagas. Como é minha característica, mergulhei nessa atividade – que é espetacular – e hoje inclusive já componho o Conselho de Administração da Abegás, que é associação que congrega mais de 30 empresas do setor nacional de gás natural.

Como é extraído o gás natural?

O Gás Natural é um combustível de origem fóssil e é encontrado na natureza normalmente em reservatórios profundos no subsolo, associado ou não ao petróleo. Essas jazidas podem estar em terra (que chamamos de on-shore) ou no mar (off-shore).

O processo de extração é simples. Como essas jazidas se encontram no subsolo, utiliza-se poços de perfuração para leva-lo à superfície por meio de dutos. O gás natural totalmente diferente, em sua produção do tradicional gás de cozinha (o GLP), pois este é produzido a partir da queima do petróleo.

O gás natural pode ser considerado um amigo do meio ambiente?

Sim, além de contar com um processo simplificado de extração e distribuição que não agride o meio ambiente (pois não tem queima para produzir – por isso é chamado de natural), é um dos combustíveis com menor índice de emissão de gás carbônico na atmosfera. A queima do gás natural é mais limpa – os produtos resultantes são inodoros e com menor quantidade de óxido de enxofre e partículas de fuligem.

Existe planos para utilização de Biogás no Paraná?

A Compagas acompanha e apoia os movimentos e projetos de produção e uso do biogás e, principalmente, do biometano (quando submetido a um processo de purificação, o biogás dá origem ao biometano e este é comparável ao gás natural), no Estado, desde 2013.

A orientação da Compagas é que essas iniciativas precisam ter competitividade – já que somos uma empresa regulada pelo poder público e não podemos agregar custos para o gás distribuído para a população e a indústria. A cobrança que recebemos e o nosso empenho é pela redução permanente dos custos da molécula. Como hoje não temos falta de gás no Estado, para distribuir também o biometano precisaríamos que ele tivesse competividade de preço de forma a beneficiar toda a cadeia de usuários.

Como é o atual quadro societário atual da Compagás?

A Compagás é uma empresa de economia mista, tendo como acionistas a Companhia Paranaense de Energia – Copel, com 51% das ações, a Petrobrás Gás S.A. – Gaspetro, com 24,5% e a Mitsui Gás e Energia do Brasil Ltda., com 24,5%.

Quais as medidas que estão sendo tomadas para a privatização da Compagás?

Uma das pendências para a privatização da Compagás está na renovação da concessão. Para tanto, o Governo do estado criou um grupo de trabalho que está definindo as bases para a antecipação da renovação da concessão com detalhes sobre estratégias, metas, investimentos e outorgas necessárias. O Estado vai determinar qual será o papel do gás natural na matriz energética do Paraná. No cronograma, trabalhamos com a expectativa de que, entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro semestre de 2021, o processo de renovação da concessão esteja concluído. A partir de então, há o aprofundamento nos estudos para a modelagem da venda do ativo pela Copel, acionista controladora da Compagás.

Em paralelo às discussões regulatórias e de modelagem de venda, a Compagas segue reorganizando os seus processos internamente para tornar as suas operações mais eficientes. A Companhia executou em 2019 uma reestruturação administrativa, reduzindo o número de gerências e dois programas de demissão voluntária (PDV).

Com relação ao mercado, a prioridade é dar garantias de suprimento para o desenvolvimento do Estado, por isso, no primeiro trimestre de 2020 a Compagas renegociou seu contrato de fornecimento de gás com a Petrobras por mais quatro anos, até dezembro de 2023. A meta é proporcionar ao consumidor final um serviço eficiente e de qualidade. Paralelamente a isso, continuamos conversando com o mercado, com o objetivo de ampliar o número de supridores, apesar de que isso esbarra na própria estrutura de distribuição do gás natural no país.

Uma nova lei reduziu o tempo de concessão da Companhia e desde 2019 vem operando por meio de liminar, acredita que a concessão será renovada?

Sim. A concessão é um ativo importante do Estado do Paraná e a renovação da concessão é essencial para o desinvestimento que está sendo previsto. Sem isso a empresa não tem valor algum e o Estado perde. Entendemos que o contrato de concessão não poderá ser renovado nos termos vigentes e deve ser modernizado.  Renovar a concessão garante uma solução otimizada para o Estado valorizar seus ativos e continuar incentivando a expansão da malha de distribuição – o que é importantíssimo para o desenvolvimento industrial.

Considerando a crise e o mercado de ações, qual o momento vem sendo considerado o certo para a venda da Companhia?

O Paraná tem uma situação privilegiada em relação às suas finanças, então não há uma agenda de necessidade urgente de venda para colocar dinheiro no caixa do estado. A alienação das ações, orientada pelo Governador Carlos Massa Ratinho Junior e pela Copel, nosso acionista majoritário, é no sentido conceitual de deixar determinadas atividades para privilegiar a atuação da companhia de energia no seu core-business.

Qual o impacto causado pelo programa governamental chamado Novo Mercado de Gás?

A expectativa é de crescimento do uso e a participação do gás natural na matriz energética, tanto em cenário nacional quanto estadual. A abertura de mercado proposta pelo Governo Federal deve estimular a entrada de novos players do segmento e com isso permitir uma maior competitividade nos preços praticados, beneficiando, assim, todos os consumidores. Este processo deve contribuir também para a aceleração da expansão da rede canalizada e para o desenvolvimento de aplicações do uso do gás – como geração de energia elétrica, usos industriais, veículos leves e pesados e residências. A ideia conceitual é promover uma abertura no mercado, principalmente na questão de quem fornece o gás, hoje concentrado em um único supridor.

No entanto, nós não temos ainda uma infraestrutura de transporte significativa – que são a rede de dutos que faz com que o gás extraído lá no Pré-Sal, por exemplo, chegue até o Paraná. Esse é o maior desafio do Governo Federal dentro do Novo Mercado do Gás. É algo para se começar a trabalhar agora e que só se resolverá daqui a cerca de 10 anos.

A Compagas, assim como outras distribuidoras do país, é favorável à abertura do mercado, respeitando os Contratos de Concessão existentes e observados os dispositivos que critérios que promovam este desenvolvimento da infraestrutura e acelerem a expansão da rede de distribuição. Para se ter ideia, o Brasil possui menos de 10 mil km de grandes dutos de transporte de gás natural. Esse número é um terço da rede de pipelines existente na Argentina. Já nos Estados Unidos, esse número chega perto de 500 mil km de dutos de transporte. Sem aumentar essa infraestrutura, não conseguiremos crescer nem interiorizar a nossa distribuição.

Lamastra compartilhou, também, suas reflexões pessoais e como está lidando com o atual momento de pandemia:

O que te inspira?

Eu sou movido a desafios. Não é por acaso, como coloquei no início, que fiz uma carreira absolutamente diversificada e focada em me transformar num profissional versátil. Me considero um bom fazedor, obcecado por resultados e por estratégia.

Como tem enfrentado a quarentena?

Não pude me afastar do escritório. Fizermos aqui a estratégia de esvaziar o prédio (mais de 90% da equipe está em casa), mas preservamos a presença dos diretores e de alguns gerentes para comandar a operação. O uso da tecnologia foi intensificado e acabamos trabalhando mais do que o normal.

Quais os conselhos para jovens empreendedores?

Meus dois conselhos principais seriam: ajam estrategicamente e tenham uma visão otimista e positiva sobre o negócio e suas chances de sucesso. Agir estrategicamente é atuar fortemente no planejamento de tudo que será feito, estressando as possibilidades e cenários, sem ignorar as possíveis fragilidades do seu plano de negócio. Só que, a partir do momento em que se tem absoluta certeza de todas as análises, vá para a batalha com otimismo e sem medo de errar. Seja conservador no planejamento e agressivo na execução.

Saiba mais sobre Rafael Lamastra

Lamastra exerceu cargos como diretor regional da Rede Massa, Superintendente de Mercado da Unimed Londrina, Diretor Comercial do Grupo Apetit e Gerente de Marketing do Grupo Plaenge. Desde janeiro de 2019 é diretor-presidente da Companhia Paranaense de Gás – Compagas. Exerceu e exerce posições em conselhos de empresas, sendo atualmente membro do Conselho de Administração da Abegás – Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado.

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