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Por que você precisa de Learning Agility?

Dois especialistas em educação e inovação explicam

Aprender sempre, reaprender, aprender rápido, aprender de forma ágil, saber aprender, ver problemas como fonte de aprendizado. Muito se fala que para acompanhar as mudanças trazidas pela nova economia é necessário aprender. Mas qual a lógica por trás dessa onda que vende que saber aprender e reaprender é tão importante? Por que você precisa?

Sobrevivência.

Com todas as transformações causadas pela digitalização da Economia, não conhecemos as demandas, não sabemos como atendê-las e por isso precisamos estar prontos para entendê-las rapidamente ao surgirem. Isso se dá através de um processo contínuo de observação do ambiente e aprendizagem estruturado, resumida em uma competência chamada Learning Agility.

Previsões (Korn Ferry – “The Global Talent Crunch”) mostram que até 2030 existirá um déficit de aproximadamente 8 milhões de profissionais na área de tecnologia no Brasil, ou seja, 8 milhões de postos de trabalho de diversos níveis abertos sem pessoas suficientemente qualificadas para ocupar.

Ao passo que muitas pessoas perderão seus empregos pois os trabalhos e empresas em que atuam simplesmente sumirão por inúmeros motivos, um deles a tão falada substituição por máquinas, robôs ou inteligência artificial por exemplo.

O Fórum Econômico Mundial criou em 2020 um movimento chamado “Reskilling Revolution” (“Revolução da Requalificação”, em português) que olha para a necessidade de requalificar bilhões de pessoas impactadas pelas transformações econômicas e sociais causadas pela digitalização da economia e aceleradas pelo Covid-19. Tudo baseado na mentalidade e competência do Learning Agility.

Aprender novas habilidades, enxergar problemas de maneira crítica e principalmente enxergar o processo de aprendizagem como a ferramenta, e não somente o conhecimento adquirido por esse processo.

Neste artigo convidei 2 pessoas que vivem os temas de educação e inovação diariamente para darem suas visões sobre o tema.

Tania Lopes, é diretora de educação do ISAE e estudiosa do tema Learning Agility 

(Foto: acervo pessoal)

“Neste século digital aprender a aprender torna-se uma competência crítica e mandatória. A agilidade de aprendizagem reflete nossa a capacidade de aprender, desaprender e reaprender rapidamente, é traduzida por meio da ação na transferência de lições aprendidas. Demanda autoconhecimento, resiliência, pensamento crítico, flexibilidade, experimentação e exposição ao novo, conectando cognitivamente o aprendizado da experiência e aplicação prática em desafios novos e de maior complexidade.

Aprender ágil facilita com que as pessoas lidem com situações novas e desafiadoras, em contrapartida situações novas e desafiadoras desenvolvem nas pessoas resiliência e adaptabilidade, numa espiral crescente de aprendizagem e desenvolvimento.

Pessoas com alto nível de learning agility possuem um repertório maior de soluções e abordagens quando confrontadas com novos desafiosuma vez que se colocam intencionalmente em situações de aprendizado e desfrutam das lições da experiência.”

Tania coloca claramente que o aprender deve ser uma meta tão clara e intencional, que se envolver em problemas novos de forma proposital nos adapta mais facilmente a velocidade da inovação.

Monalisa Gomes, executiva e facilitadora do curso “Liderança na Inovação” no MIT (Massachussetts Institute of Technology)

“Houve uma época em que o processo de aprendizado era limitado a instituições de ensino, que demandavam uma disponibilidade de horário e também financeira. Hoje, no século digital, existem inúmeras oportunidades de aprendizado que custam pouco e têm o horário flexível, que se adequa às diversas realidades. O desafio maior não está no acesso à informação, mas sim em como construir e usar o conhecimento, isso, contudo, demanda que o indivíduo saiba aprender e, por mais que isso possa parecer clichê, muitas pessoas ainda não sabem como fazê-lo.

(Foto: acervo pessoal)

Já em 1996 a UNESCO apresentou em um documento intitulado ‘Educação, um tesouro a descobrir’ os pilares da Educação, são eles: ‘aprender a conhecer’, ‘aprender a fazer’, ‘aprender a conviver’ e ‘aprender a ser’ e nessa transição de mundo VUCA para BANI, onde tudo pode mudar do dia para a noite esses pilares se mostram ainda mais importante. Aprender novas coisas é o que te permite alavancar a sua carreira, galgar novas oportunidades, diferentes vagas de emprego, desenvolver novos conhecimentos e entender o mundo a sua volta; em outras palavras: é aquilo que te torna um profissional singular, único e valioso.

Considerando o Learning Agility importante, eu poderia pontuar o estudo e a prática, mas, pra mim, existe algo tão importante quanto isso que é corriqueiramente negligenciado: o erro.

Isso porque o erro só acomete aqueles que fazem alguma coisa; paralelamente, muitas pessoas desenvolvem o medo de errar e isso as paralisa, fazendo com que elas acabem por não fazer nada. A verdadeira expertise, contudo, só vem para aqueles que fazem, erram e aprendem não só com os seus erros, mas com os erros dos outros também.

Simplesmente consumir conteúdos não é suficiente, é preciso ‘aprender a aprender’, testar, errar, corrigir e validar para de fato aprender o que preciso for, e empregar os conhecimentos, técnicas e recursos em novas e diferentes situações. Com tantas incertezas, desafios complexos, novas profissões e desafios surgindo em grande velocidade, transformar aprendizado em competência demanda coragem em falhar para ter sucesso, o erro antecede o acerto. Se você realmente quer aprender a fazer algo, aplique o quanto antes, erre o quanto antes e corrija os seus erros continuamente. Dê-se o privilégio de errar e veja a mágica do aprendizado real acontecer.”

Monalisa pontua a importância do erro no processo de aprendizagem. O que em si representa uma grande mudança na forma que educamos e somos educados, em que o erro é punido.

Para Gary Bolles, um dos fundadores da empresa eParachute, para criar o Learning Agilty você deve se basear em criar um plano de aprendizagem com objetivos claros. Isso vai manter seu interesse conectado com as 4 fases do aprendizado:

  1. Interesse pelo tema, definição do que se quer aprender;
  2. Planejamento do aprendizado, definição de fontes (cursos, professores, livros, etcetera);
  3. Teste do que foi aprendido (através de provas ou tentativa de aplicação); e
  4. Aplicação do que foi aprendido.

Gary sugere usar os erros descobertos na fase 3 quando testamos o quanto foi aprendido como ponto de partida para se aprofundar em aspectos desse tema. Um caminho oposto ao que temos para temas amplamente discutidos, onde errar não é mais possível, pois o tema foi esgotado.

Em temas completamente novos, como profissões e negócios que não ainda não existiam, errar é parte do processo de construção do conhecimento que vai nos fazer aprender e ensinar os outros.

Espero que este artigo lhe ajude a refletir sobre a importância de investir tempo em seu processo de aprendizagem contínua e a mudar sua forma de ver o tema, não precisando de uma sala ou um curso com apostilas para aprender algo novo, até mesmo uma profissão.

Sobre o colunista

Diego Godoy é headhunter e sócio da RecrutamentoFacil.com. Trabalhou em empresas multinacionais do segmento de serviços profissionais como PwC, Michael Page e Walt Disney Company. Também é fundador do Projeto Um Por Cento, reconhecido como iniciativa oficial pelo ACNUR e que trabalha na recolocação de refugiados no mercado de trabalho do Brasil. Foi eleito pelo LinkedIn um dos “Top Voices” em 2021.

Diego Godoy (Foto: acervo pessoal)

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