PODER POLíTICA & ECONOMIA

Os corruptos e a dissonância cognitiva

Se o indivíduo tem crença incompatível com sua atitude prática, ele entra em conflito interno e causa prejuízo a seu equilíbrio emocional

O ser humano tem uma propensão natural a buscar coerência entre suas características cognitivas e suas ações práticas. Quando a pessoa acredita que uma ação é correta, mas na prática ela age em oposição à sua crença, em sua mente surge um conflito chamado “dissonância cognitiva”.

Leon Festinger (1919-1989), professor em Nova York, foi pioneiro nos estudos sobre esse tema, e cunhou a expressão “dissonância cognitiva” em 1957, quando estudava os conflitos pessoais no processo de tomada de decisão e de ação. Se o indivíduo tem crença incompatível com sua atitude prática, ele entra em conflito interno e causa prejuízo a seu equilíbrio emocional.

É comum ver alguém tentando justificar atos próprios quando se sabe que aquela pessoa não faria tal coisa e que ela mesma desaprova sua própria atitude. Para ter equilíbrio cognitivo, o indivíduo deve resolver a contradição entre suas opiniões precedentes e seus atos práticos. A necessidade de justificar atos incompatíveis com suas crenças leva a pessoa a minimizar o erro e justificar por que o praticou, como forma de manter a coerência, certamente por sentir-se numa situação psicologicamente incômoda.

O jurista alemão Bernd Schünemann (1944-) ligou a teoria da dissonância cognitiva ao processo penal e à formação da convicção pelo juiz, e afirmou que, ao estudar primeiro o inquérito policial e conhecer o caminho percorrido pela investigação, o juiz pode ter sua convicção prejudicada por ele conhecer a versão do acusado apenas posteriormente.

A questão é saber se a leitura da investigação preliminar não acaba criando uma imagem tendenciosa do fato na mente do juiz, capaz de obscurecer seu olhar para outras hipóteses. No meio político, entre os que são corruptos a dissonância cognitiva é bastante presente. De tanto repetir para a justiça, a mídia e o eleitor, que é inocente, o corrupto começa a acreditar em seu discurso de inocente e passa a gritar para o mundo que é vítima da injustiça.


LIVRO SOBRE O ASSUNTO:

A Theory of Cognitive Dissonance – Leon Festinger

Stanford University Press (Foto: site Amazon)

*Coluna originalmente publicada na edição #252 da revista TOPVIEW.

Deixe um comentário