Thais Romfeld é a primeira produtora de gim do Brasil
Thais Romfeld de Lima é um exemplo de profissional que “virou a mesa”. A ex-advogada abriu mão dos tribunais para viver os desafios de ser a primeira mulher produtora de gim no Brasil. Aos 34 anos, a curitibana virou a head distiller da Route Gin, marca que ela criou em 2019 após se apaixonar pela bebida em uma viagem internacional. Leia a entrevista exclusiva com ela!
Como você teve contato com esse mundo?
Foi em uma viagem a Las Vegas, em 2015, para comemorar minha primeira ida para fora do país – que já era um sonho antigo. Brindei com um Dry Martini e gostei muito, nunca havia experimentado. Fiquei curiosa para saber qual era a composição da bebida e me surpreendi ao saber que sua maior proporção era feita com gim.
Como você aprendeu a produzir a bebida?
Em 2017, as coisas começaram a mudar para mim. O mundo do Direito já não estava mais fazendo sentido. Costumo dizer que o exercício da profissão de advogada nunca foi uma paixão, mas me proporcionou muito do que sei sobre mim hoje: meu autoconhecimento. Antes dos cursos, fui conhecendo melhor esse mundo, degustando muitos gims diferentes e aprendendo sobre a história da destilação. Como não havia curso específico para produção de gim, comecei a pesquisar destilarias no Brasil e a visitá-las para conhecer melhor, trocar experiências com os proprietários e entender como funcionavam.
Em cada curso de bebidas que era anunciado no Brasil, eu estava lá, aprendendo. A primeira vez que produzi minha própria receita foi em uma destilaria de São Paulo – e, sim, foi um “tiro certeiro”. Ali, eu vi que era para isso que eu tinha nascido. O gim tinha ficado exatamente do jeito que eu imaginei e do jeito que eu gostaria de mostrar para o mundo.
Quais são as dificuldades de se criar um gim?
Acredito que todo o processo de criação da receita, o equipamento que você vai utilizar, os botânicos, a matéria-prima e o processo que você vai adotar fazem parte das dificuldades de criar um gim. Outra grande dificuldade é a de ainda ser uma empresa pequena.
Como foi entrar nesse mercado sendo mulher?
Quando entrei nesse mundo, eu não sabia o que poderia enfrentar por ser mulher. Costumo dizer que fui criada em um ambiente de privilégios, sim, pois sempre tive apoio da família e de pessoas próximas para tudo o que eu almejava. Dessa forma, eu não enxergava as dificuldades de ser mulher.
Fui percebendo aos poucos o meio predominantemente masculino em que eu estava entrando e sentindo que isso seria uma dificuldade. E de fato é. Um bom exemplo – sem generalizar – é quando estamos nos apresentando presencialmente, contando sobre a história da destilaria e falando sobre o nosso produto: mesmo eu sendo a interlocutora, as pessoas direcionam o olhar e as conversas diretamente para o meu marido – e não para mim.
Comercialmente, a maioria – não todas – das negociações e das aberturas de novos contratos flui muito melhor quando ele faz essa frente. É visível a facilidade de negociação quando ela é feita entre homens.
Qual é a importância de ter uma bebida como essa feita regionalmente?
O mercado de gim no Brasil ainda é dominado por marcas estrangeiras e o produto nacional tem qualidade para competir de igual para igual, inclusive com um preço mais acessível.
Quais são os diferenciais da sua produção?
O primeiro diferencial que posso citar, sem dúvidas, é o fato de ser feito por uma mulher. Route Gin é o primeiro gim nacional de receita autoral feito por uma mulher – e isso me enche de orgulho. Outro diferencial é a produção em pequenos lotes, que chamamos em nosso meio de produção “small batch”, com lotes de apenas 50 garrafas por batelada/lote. Ou seja, é um produto exclusivo.
Também temos o diferencial da utilização de botânicos 100% in natura, ou seja, sem adição de extratos ou essências, sendo sete botânicos importados. Além disso, nosso processo de destilação é feito 100% em alambique de cobre, em uma destilação extremamente lenta, com a técnica “one-shot”, ou seja, nosso gim é 100% destilado, não sofrendo qualquer adição ou mistura posterior, o que confere sua qualidade premium.
Confira alguns drinks com gim criados pelo .Gin:
Cardinale Twist
Ingredientes:
45ml Gin + Salsão
30ml Vinho Chardonnay + maça verde
22,5ml Campari
7,5ml Salmoura se azeitona siciliana
Pré-preparo gin infusão de salsão:
Use 750ml de Gin para 250g de salsão tostado, selar no vácuo e cozinhar no sous vide por 2h a 60°.
Pré-preparo vinho Chardonnay fortificado com maçã:
Coloque 1000ml de vinho Chardonnay em infusão de maçã verde cortada no mandolin, 250g de açúcar refinado, 5g de ácido málico e 2g de sal. Selar no vácuo e cozinhar no sous vide por 2h a 60°.
Preparo:
Colocar todos os ingredientes na coqueteleira e fazer o throwing, trazendo, assim, diluição e aeração ao coquetel. Servir em um copo baixo com gelo translúcido e finalizar com zest de laranja bahia e azeitona siciliana
Martini
Ingredientes:
60ml Tanqueray Ten + maçã verde
15ml vinho Fino Jerez
2 dashes bitter de laranja
Pré-preparo Tanqueray Ten + infusão de maçã verde:
Use 750ml de gin para 250g de maçã verde, selar no vácuo e cozinhar no sous vide por 2h a 60°.
Pré-preparo perfume de Marcela:
Use 1200ml de vodka + 100g de marcela. Selar no vácuo e cozinhar no sous vide por 3h a 60°.
Preparo:
Colocar todos os ingredientes no mixing glass, mexer o coquetel até atingir a diluição e temperatura necessária. Servir em uma taça Nick & Nora e finalizar com zest de limão siciliano, perfume de marcela e picles de maçã.
Gimlet Eucalipto + Chardonnay
Ingredientes:
- 60ml Tanqueray
- 30ml Cordial de Eucalipto + Chardonnay
Pré-preparo Cordial de Eucalipto + Chardonnay:
Infusionar o vinho Chardonnay em cascas de grapefruit, selar a vácuo e manter 12h refrigerado. Cozinhar o vinho com 33 g de eucalipto até atingir o ponto de fervura e adicionar 850 g de açúcar refinado. Abrir com 20 g de ácido cítrico, 10 g de ácido málico e 2 g de sal. Coar tudo e manter refrigerado.
Preparo:
Colocar todos os ingredientes na coqueteleira e bater vigorosamente. Servir em uma taça Nick & Nora e finalizar com uma moeda de limão siciliano.
*Matéria originalmente publicada na edição #274 da revista TOPVIEW.