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O que esperar do mercado financeiro para 2021?

Sócio da Allez Invest, Frederico Loss, mostra as expectativas dos especialistas para o novo cenário econômico

A reviravolta econômica, política e social em 2020, consequente da pandemia do coronavírus, levantou muitas dúvidas e incertezas sobre o futuro do mercado financeiro. Mesmo com um planejamento muito bem desenhado, é necessário entender o que está por vir para alinhar as expectativas e objetivos de acordo com os resultados do cenário global.

“Devo continuar aplicando meus ativos nas mesmas empresas? É hora de vender minhas ações? Qual é a grande novidade? Meu capital está seguro?”, são algumas das perguntas que podem passar pela cabeça dos investidores neste momento, não é mesmo? Para mostrar as expectativas dos especialistas em mercado financeiro neste novo ano, Frederico Loss, sócio da Allez Invest, apresenta alguns temas relevantes que vão impactar o cenário. Confira: 

Vacina da Covid-19 

A economia foi diretamente impactada pelas restrições e medidas sanitárias do coronavírus. Com a chegada da vacina, a expectativa é que as coisas voltem ao normal, segundo Frederico. “O PIB crescendo, a inflação controlada e as pessoas voltando a consumir são alguns dos sinais positivos de melhora na economia. Além disso, 2020 trouxe alguns benefícios para as empresas que conseguiram se reformular e adotar práticas mais eficientes de trabalho, como as reuniões online. Estamos com uma expectativa muito boa para este ano, principalmente se a vacina chegar a todos nos primeiros meses”, conta. 

Desenvolvimento da economia brasileira 

A chegada da vacina será, literalmente, uma injeção de movimento na economia brasileira, além disso com o enfraquecimento do dólar, o aumento dos riscos de inflação e a demanda guiada pelos estímulos fiscais e monetários de importantes bancos centrais farão com que as commodities verifiquem um mercado de alta em 2021, o que é benéfico para o nosso país. 

Entrada de capital estrangeiro 

Frederico afirma que o fluxo de entrada de investidores estrangeiros no Brasil, que atingiu 33 bilhões de dólares na Bolsa de Valores, apenas em Novembro, deve continuar em alta, devido à procura de aplicações em países emergentes. “Nos últimos meses o Brasil foi muito beneficiado pela percepção positiva para mercados emergentes, dadas expectativas de uma política externa americana menos truculenta sob o governo Biden. Além disso o Governo brasileiro apresentou sinais de abandono das ideias mais ousadas do ponto de vista fiscal como, por exemplo, furar o teto de gastos. Isso está atraindo investidores estrangeiros.” 

Entretanto, ele alerta para uma possibilidade de receio dos investidores estrangeiros caso a vacina chegue para todos, apenas, no final deste ano, alegando a preferência pela segurança dos ativos em seus territórios, em vez da aplicação em países emergentes.

Estimativa do PIB 

“Isso é histórico: sempre que vem uma recessão muito forte, o próximo ano tende a ter uma recuperação forte também. Então, a expectativa é de crescimento do PIB para este ano, em torno de 3,5%, projeta o Boletim Focus”, afirma o especialista. Para ele, o principal driver da retomada será o setor de serviços, muito impactado no último ano.  

Taxa Selic

A projeção da Selic até o fim de 2021 é a estabilidade em torno dos 2%. Frederico conta que os economistas especulam a chegada da taxa em 3% no final deste ano e alerta para um contraponto: “há um risco de ausência de uma solução satisfatória para o dilema fiscal do Brasil. Se isso acontecer, ela pode ter uma alta antecipada. Além disso, não podemos esquecer que, caso a inflação fuja do controle, o Banco Central, vai ter que aumentar a taxa de juros. Porém, 3% para o Brasil é muito baixo ainda”.

Inflação

“Há muitas controvérsias. Nas últimas semanas, vimos o aumento da pressão inflacionária e o mercado financeiro vem elevando a projeção para a inflação. No começo de agosto, antes da primeira elevação de estimativa do IPCA, era esperado uma alta de 1,63% em 2020. Desde então, essas estimativas vêm sendo continuamente elevadas e, apesar de projetar que a inflação será alta nos próximos meses, o Banco Central segue caracterizando o choque como temporário”, explica o especialista. Segundo o Relatório Focus, a tendência para 2021 é que ela permaneça estável, ficando em torno de 3,34%. 

Dólar

A expectativa para a moeda americana, segundo Loss, é que gire em torno de R$5,10 e R$5,20 por um motivo específico: o empate técnico. “ A balança comercial do Brasil tende a continuar bem positiva, o clima da economia deve continuar bom, mas, por outro lado, tem a questão fiscal, que continua gerando preocupação e isso pode evitar que o Real se aprecie muito mais”, explica. 

Com o dólar nesse valor, há benefícios de um lado e prejuízos de outro. Quem exporta produtos está ganhando bastante dinheiro, mas, quem trabalha na importação, está sofrendo com a alta da moeda — e isso se reflete nos preços pagos por nós, consumidores. 

Bolsa de Valores

Com os números alcançados no final de 2020, o cenário é de muita esperança para os resultados na Bolsa de Valores neste ano. Para Loss, entre os pontos favoráveis para a bolsa estão a vacina; a volta do consumo e das vendas; a recuperação econômica global e a espera de mais estímulos por parte dos governos e Bancos Centrais. “Outro ponto bem importante é a migração de fluxos por parte dos mercados emergentes no mercado financeiro global. Acreditamos que acontecerá uma inversão nos próximos anos, os investidores começarão a buscar mais commodities e esses tipos de ativos, o que é muito benéfico para o Brasil”, afirma.

Open banking 

A nova modalidade que permite o compartilhamento de dados e serviços por meio de uma integração de sistemas é uma novidade que promete fazer sucesso neste ano. Esse conceito tem um princípio simples, segundo Frederico: “é preciso abrir o leque de opções disponíveis para o consumidor e permitir que ele tenha mais liberdade para levar suas informações financeiras para onde quiser.” Além disso, essa tecnologia vai permitir a ampliação da oferta de produtos e serviços oferecidos, trazendo mais concorrência e competição em um setor conhecido por ser concentrado, que são os bancos. 

 Reformas do Governo

“No final de 2019, estávamos com PIB crescendo, desemprego diminuindo, a reforma da previdência tinha acabado de ser aprovada, então essas duas reformas já estavam em pauta. Tudo isso perdeu foco em 2020 por conta do coronavírus, todo mundo parou de falar disso e agora estamos voltando”, conta Loss sobre as reformas administrativas e tributárias, as duas principais reformas que teremos pela frente. Elas estão diretamente relacionadas com os gastos do governo e, caso não sejam aprovadas, será difícil manter o teto para os próximos anos por conta do crescimento das dívidas, projeta o especialista.

As expectativas da Allez Invest para o mercado financeiro em 2021

“Esperamos que a economia se normalize, com juro baixo, liquidez alta e provavelmente um crescimento forte, saindo de um ano muito ruim, o que é bom para as empresas. O problema é que vemos todos os especialistas terem, mais ou menos, a mesma visão e o consenso no mercado é sempre algo bastante perigoso. Todos vão investir nos mesmos ativos, as posições podem acabar ficando esticadas, e se algo sair errado isso pode ser um problema. Acredito que é muito importante falar que a forma de investir não vai mudar. Sempre recomendamos que o investidor trabalhe com uma carteira diversificada para mitigar os riscos”, finaliza Frederico Loss.

Este conteúdo é produzido por TVBC

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