PODER

O mito e a realidade

A população média do país se via alijada com o discurso das minorias e, ao se deparar com pensamento semelhante ao seu, migrou à direita sem maiores constrangimentos

Ao contrário do que prega a esquerda brasileira, a vitória de Jair Bolsonaro não configura uma afronta à ordem democrática e nem sequer representa um risco às liberdades individuais. Vejo o processo como o exato oposto disso. O resultado das urnas é incontestável e o pleito ocorreu de maneira livre e plural. O PT, portanto, ao desdenhar da conquista de Bolsonaro, e, mais ainda, ao propor uma resistência cega meramente ideológica, é quem ataca a vontade livre e soberana do eleitor, um dos pilares mais sólidos da democracia.

Passa por esse ponto, inclusive, uma das explicações para a conquista de Bolsonaro: a aversão ao discurso daquilo que é democracia para o Partido dos Trabalhadores. A legenda, sobretudo a partir da avalanche da Operação Lava Jato, tratou de afrontar as liberdades de atuação do Ministério Público, do Judiciário e de imprensa. O petismo construiu uma narrativa própria, desconectada da realidade e, de quem dela discordava, recebia a pecha de golpista, fascista ou sabe-se lá o quê. Em outras palavras: só é democrata quem é do PT. A arrogância liquidou a esquerda.

Jair Bolsonaro ganhou por isso, mas não só. O capitão conseguiu mobilizar uma corrente de apoio fincada no conhecido conservadorismo brasileiro. A população média do país se via alijada com o discurso das minorias e, ao se deparar com pensamento semelhante ao seu, migrou à direita sem maiores constrangimentos. A defesa de uma política liberal no plano econômico, a seu turno, agradou às elites.

Além disso, há esse fenômeno da internet, do protagonismo do militante virtual, do antagonismo ao Lula preso, do anseio de moralidade e da ocupação de espaço no debate público – o que sempre foi de hegemonia das esquerdas. A direita revisitou, a seu modo, Gramsci. Bolsonaro ganhou de dentro de casa, com apenas 9 segundos de tempo de TV e sem marketing eleitoral a preço de platina com diamantes. E ainda teve a facada, que além de quase vitimar Bolsonaro, rasgou o que restava de credibilidade à esquerda visto que desmontou a tese de que os violentos seriam “os apoiadores do fascismo”.

A realidade posta na pós-eleição é saber como Bolsonaro governará, sobretudo na relação com o Congresso Nacional. O futuro presidente possui capital eleitoral para uma pauta audaciosa de reformas, o que espero que aconteça tão logo assuma o Planalto. À oposição restará o barulho. E a fumaça. Para o Paraná, a se confirmarem as expectativas, o governador eleito Ratinho Junior será uma das vozes políticas de apoio ao novo governo federal e o executivo estadual não deverá ser esquecido financeiramente como fizera o PT durante a gestão tucana entre 2010 e 2018.

Sou otimista, talquei?