Nuno Papp: o fotógrafo que vive entre o glamour da publicidade e a simplicidade do campo
Se não fosse fotógrafo, Nuno Papp seria jardineiro. Colocaria as mãos na terra com mais frequência e teria mais tempo para cuidar da sua chácara, em Almirante Tamandaré, onde ele e a esposa, a publicitária Patricia Papp, vivem com os filhos Pedro e Luiza, de 14 e 9 anos respectivamente.
Nesse “estilo de vida Hi-Lo” – de um lado, a simplicidade do dia a dia no campo; do outro, grandes campanhas publicitárias para marcas como O Boticário, Banco do Brasil, Shopping Palladium, Unimed e Colégio Positivo -, Nuno tem construído uma carreira que beira os 22 anos. Da capital Brasília, ele, os pais (ele catarinense, ela sergipana) e os dois irmãos vieram para Curitiba quando o fotógrafo tinha cinco anos. Decidiram ficar.
“Eu sou ingênuo e otimista demais. Eu não acho a exposição uma coisa errada – mas tenho noção que pode.”
O primeiro trabalho da vida dele foi aos 19 e para nós, quando ainda éramos um encarte da Top Magazine – a publicação criada por Claudio Mello, inicialmente em Curitiba, que existe até hoje em São Paulo. Quando a TOPVIEW teve vida própria, em 2001, lá estava ele de novo: nosso primeiro fotógrafo fixo.
De lá para cá, foi um dos colaboradores mais frequentes da revista – perdeu as contas de quantas capas já produziu, mas chuta que devem ser no mínimo umas 100. Nesta entrevista, Nuno Papp, o Leopoldo – nome que herdou do avô e do pai e pelo qual apenas este lhe chama “quando está bravo” -, fala sobre perder a mãe, aos 15 anos; a paixão por fotografia (que começou pelo cinema); a relação dos filhos com internet; viagens, muitas viagens, e os “fotógrafos de celulares”.
Imagino quão difícil foi crescer sem sua mãe. Como você, seu pai e irmãos se viraram?
Foi mega difícil. Eu tinha 15 anos, meus irmãos tinham 12 e 17. Meu pai, coitado… Mas nós quatro amadurecemos juntos. Hoje em dia somos super bons cozinheiros.
Jura? Como assim?
Sim. Quando minha mãe morreu meu pai trabalhava ainda [era bancário], então ficávamos os três sozinhos em casa. Minha mãe nunca nos deixava sozinhos e fazia tudo por nós. Sempre tudo do bom e do melhor. No começo a gente comia pizza e lasanha congelada. Depois do segundo ano percebemos que tínhamos que fazer alguma coisa (risos). E aí até meu pai aprendeu a cozinhar. E agora todo mundo cozinha super bem. Sem curso, só fazendo.
E como foi o caminho até a fotografia?
Cheguei a fazer três anos de Jornalismo, mas mudei pra Publicidade e Propaganda onde me formei, pela PUCPR. E sempre fiz muitos cursos fora: durante e depois da faculdade. A minha ideia sempre foi ser fotógrafo de cinema. Fui para a Alemanha fazer curso disso – eu amava o cinema alemão. Fui para Holanda, Paris, Nova York… Sempre fazendo cursos da área e também de fotografia de revista. Em Curitiba, meu primeiro emprego na área foi na Top Magazine. Eu estava na faculdade e tinha feito umas fotos da banda do meu irmão. O diretor de arte da revista, na época, viu e gostou, me chamou pra ser fotógrafo fixo. Fiquei dois anos fazendo capas, vitrines, social, anúncio. Quando surgiu a TOPVIEW continuei no social. Mas aí começaram a aparecer trabalhos na publicidade que foram tomando muito do meu tempo.
“É muito mais do que a foto. Tem que lidar com muita gente, as equipes, os detalhes, muito ego.”
Hoje a publicidade é seu principal ganha-pão, né? Como alguém que queria trabalhar com cinema “caiu” nesse mundo?
Hoje eu vivo da publicidade. Mesmo gostando muito de cinema, pra mim sempre foi muito complicado entrar nesse meio. Já a moda foi rápido, fácil. Começou com a Top Magazine. Os clientes me viam e começaram a chegar. Tinha muita liberdade também, então eu me soltava muito. E foi automático: pela moda veio a publicidade. As pessoas chegam em mim justamente por causa do meu olhar de moda. Atendo Banco do Brasil, por exemplo, mas sempre tem uma pegada de gente e moda nas fotos.
Você teve alguns trabalhos desafiadores?
Vários. Teve um que fiz para o Coxa que era uma campanha para ter mais sócios. A gente foi dentro do estádio e tinham umas 50 pessoas na comissão de frente e mais umas duas mil atrás. Tive que gerenciar tudo. Fotografei 2.500 pessoas ao mesmo tempo. Todo mundo tinha que olhar pro lugar certo, fazer o que precisava fazer, eu tinha megafone…. E pouco tempo para ficar no estádio, estava ameaçando chover, tinha que maquiar o pessoal… Outra foto que foi difícil: uma para o Beach Park. A modelo disse que sabia mergulhar no teste, mas na hora não sabia. Então tivemos que ensinar ela a nadar (risos). Foi complicado. Já estava tudo certo, não tinha como mudar o casting.
Quando e como conheceu a Patricia?
Quando eu voltei para o Brasil eu tinha o desejo de retornar à Europa, mas meu pai falou “agora eu não pago mais” (risos). Então fui trabalhar de bartender no Original Café [antigo bar de jazz de Curitiba]. A Pati já trabalhava com publicidade e sempre saía muito tarde. Ela chegava no bar às 2h da madrugada, bebia uma cervejinha e ia pra casa. Aí fomos conversando, conversando… Namoramos seis meses, casamos e estamos há 18 anos juntos.
A gente sabe que cada casal encontra uma fórmula que dá certo. Qual a de vocês?
Sonhar juntos. O meu sonho e o da Pati é parecido. Queremos chegar lá juntos. Mesmo quando a gente briga, as brigas acabam ficando pequenas. E os sonhos nunca terminam. Tem a casa, uma viagem, o Pedro, a Luiza… A gente tem ambições juntos, uma casa no Nordeste pra nossa aposentadoria e vários outros sonhos que vão aparecendo.
Falando em Pedro e Luiza… Não querem ter mais filhos?
Eu queria ter mais (risos), mas a Pati diz que dois já tá bom. A gente mora num lugar que cabe muita gente, onde a gente produz nossa própria comida, nossa vaca, frango, verduras, porco, carneiro…
Tem muitas fotos deles na sua conta no Instagram. Com você não rola aquela neura de privacidade?
Não. Eu sou ingênuo e otimista demais. Eu não acho a exposição uma coisa errada – mas tenho noção que pode. É ingenuidade minha, mas eu não consigo pensar mal. Se eu tiro uma foto do Pedro, não consigo imaginar que vão fazer algo ruim com isso. Já teve gente que usou foto da Luiza cortando o cabelo pra promover um salão de beleza. Entramos em contato, eles tiraram. Essas coisas acontecem. Tenho medo das coisas sérias, sequestro, pedofilia… Mas eu não consigo ver tanta maldade na internet.
Como você os educa sobre redes sociais?
O Pedro tem celular. A Luiza tem Instagram, mas no meu telefone. Meu filho mais velho é um pouco mais livre com isso. Mas tem uma coisa na minha casa que é o computador na sala. Eles não tem nem TV nos quartos. O que eles tiverem que fazer é na sala. Engraçado que só esses dias eu me senti “por fora”. A gente passou o réveillon na Praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, e lá o Pedro conheceu uma menina. Eu conheço todos os amigos dele, então estranhei quando vi uma menina falando com ele no Instagram. Aí ele me explicou que era essa de Pipa.
Ainda sobre internet, os “fotógrafos de celular” te incomodam?
Não, nem um pouco. Não tem muito a ver com o meu trabalho. Os celulares estão cada vez melhores, mas um fotógrafo profissional é diferente de um fotógrafo amador, que brinca, que tem uma câmera boa, ou um celular mega bom. Tem uma moça que fez a capa da Time Magazine usando um celular [Luisa Dörr, com um Iphone 7 Plus], mas ela é fotógrafa profissional. Agora, se você colocar um amador, ele não vai conseguir. É muito mais do que a foto. Tem que lidar com muita gente, as equipes, os detalhes, muito ego. Tem que saber como driblar o cansaço da modelo, o cliente exigente, a maquiagem derretendo. Além da experiência tem que ter um jogo de cintura muito grande.
Você e sua família viajam bastante. Quais os destinos mais legais que já curtiram juntos?
Férias pra gente é viajar. A gente nunca fica em Curitiba. Ás vezes eu vou sozinho com a Luiza. A Pati vai só com o Pedro. Ano passado eu fui para o Peru com o Pedro. Foi super legal! Pegamos o feriado de 15 de novembro e fomos. Parece que a gente aproveita mais a pessoa. Quando tô com ele faço as coisas com ele. Com a Luiza já é diferente. A Pati já foi pra Bolonha com a Luiza. A viagem pra Tailândia foi bem legal! A Luiza tinha um ano, o Pedro quase seis. Ele viu peixe-palhaço no meio do oceano, ela viu girafas… A [viagem] pro Canadá de motorhome foi linda também, ficamos muito juntos. Fomos pra Holanda de barco, sensacional! Eles viajam desde os três meses de idade e sempre foi muito tranquilo, mesmo quando eram pequenos. A Pati fica meio nervosa com comida, porque a criança tem que estar alimentada, mas sempre adaptamos isso nas viagens [Patricia escreve para um blog, o Eu viajo com meus filhos e é autora dos guias “Como Viajar com Seus Filhos sem Enlouquecer” e “Praias do Nordeste com Crianças e Filhos”].
O trabalho também rende muitas viagens, né?
Eu viajo 40% por conta e 60% a trabalho. Tem cliente que me faz viajar 30 vezes por ano dentro do Brasil. Só que assim, não é São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília. É no interior do Tocantins, por exemplo. Semana que vem vou pro interior da Amazônia… Eu gosto das cidades grandes, mas as pequenininhas são as que me encantam. A Pati diz que sou muito fácil de agradar em viagens. Mesmo em Piraquara eu fico animado. Sempre acho coisa pra fazer.
Para um fotógrafo com mais de 20 anos de experiência, o que é uma boa foto?
Profissionalmente, é uma foto que agrada as pessoas: o cliente, o público, o diretor de arte… Pode não ter foco, pode ser borrada, cafona, mas se ela atinge o público, se vendeu, então é uma foto boa. Agora, pra mim, particularmente, uma foto boa é aquela que te faz lembrar de coisas boas. Tenho uma foto que mostra só uma perna e um braço da minha mãe. Eu amo muito essa foto. É uma foto toda desfocada, de festinha de aniversário, mas me lembra minha mãe.
O que você ainda quer fazer, profissional e pessoalmente?
Viajar mais. Tenho vários lugares para conhecer. E eu teria vontade ainda de morar um ano fora. Não fotografando, mas fazendo um curso ou trabalhar em algo diferente. Eu, a Pati e as crianças. Queria ir logo enquanto eles são pequenos. Profissionalmente, queria ter mais tempo para fazer arte, que a publicidade não permite às vezes.
E qual a principal lição que você tenta passar para o Pedro e para a Luiza?
Que se divirtam na vida. Sejam bem mais leves, com responsabilidade e tudo mais, mas que façam o que gostam, sejam quem são. Não façam coisas só para agradar. Respeitem os outros e sejam responsáveis.