PODER

O caderninho de telefones

O conhecimento é a tradução do luxo e pode ser conquistado por meio de um trabalho importante de curadoria

Foi ali, deitado na cama de casa, no final da sua vida, que meu avô paterno virou-se para o meu pai e pediu-lhe que abrisse a primeira gaveta da mesa de cabeceira e pegasse o único objeto que ali havia ficado. “Este”, disse meu avô, quando meu pai tinha-o em mãos.

Enquanto olhava curioso para a capa preta, envolta por um elástico, com páginas já amareladas e bordas desgastadas, meu avô discorreu sobre o pequeno caderno: “aqui você vai encontrar o que precisa para a vida. Os poucos e bons estão aí. Amigos, pessoas em quem se pode confiar. Algumas que ajudei e tantas outras que me ajudaram. Nada vale mais do que os que lhe acompanham na jornada. Enquanto você se ocupar preenchendo o seu próprio caderno, meu filho, saiba que, no momento em que precisar, com essas pessoas você pode contar”.

Quando essa história me foi contada, defini por conta própria que luxo, para mim, significava aquele caderninho. “Luxo”, por sinal, é uma palavra com um marketing ruim. Associamos o termo à futilidade, enquanto ele poderia e deveria ser associado à curadoria, pois ela é como um atalho para o conhecimento – e isso, sim, é luxo.

Quando uma coleção em um museu, por exemplo, faz sentido e conta-nos uma história, ela só o faz por ter um curador, uma pessoa que soube organizar os elementos e uni-los em algo harmônico. Aquele caderninho tinha, da mesma forma, essa curadoria – e era isso que o tornava um item luxuoso.

Nesta edição sobre luxo da TOPVIEW, quero convidar a todos os leitores, embaixadores, colunistas e colaboradores a compartilhar, ao longo deste próximo mês, um item, ganhado de seus antepassados, que conte uma história e que lhes tenha trazido algum ensinamento.

Para não perder o gancho com o marketing, aproveito para dizer que as marcas só conquistam valor se nos conquistarem afetivamente, por meio de suas histórias. Sem curadoria e afeto, as coisas não têm valor algum.

PS.: para quem quiser entrar no desafio, os textos e imagens podem ser enviados para pauta.topview@gruporic.com.br.

*Coluna originalmente publicada na edição #243 da revista TOPVIEW.

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